Nova dependência diplomática da Federação da Rússia funcionará em Vilamoura, embora por enquanto, apenas por marcação devido à pandemia. Cônsul Honorário Bruno Valverde Cota vai trabalhar as questões da integração na sociedade e no reconhecimento de competências académicas.
Era um desejo antigo da comunidade russa residente no Algarve. O novo consulado inaugura amanhã, quarta-feira, 23 de setembro, de forma virtual, para não haver ajuntamento de pessoas.
Em conversa com o barlavento, Bruno Valverde Cota, cônsul honorário da Rússia no Algarve, explicou o trabalho que se propõe a realizar na região.
«O Algarve tem mais de 3000 compatriotas registados. A maioria tem um nível cultural acima da média, qualificações elevadas, capacidade de trabalho e resiliência. É uma comunidade que procura ser participativa e interventiva, embora haja alguns desafios do ponto de vista da integração devido ao idioma. Essa é uma das missões que estão na base da criação deste consulado. Há quem não domine o português, embora os russos, regra geral, tenham facilidade em aprender. O que acontece é que essa barreira dificulta, por exemplo, a apresentação de um currículo ou de um pedido de equivalências numa universidade». Por outro lado, devido às vicissitudes de começar uma vida num país estrangeiro, sobretudo para quem tem filhos, a prioridade é começar a trabalhar.
No entanto, há exceções. Cota aponta dois casos: «o de um licenciado em medicina geral e outro em psicologia. Ambos estão a exercer no Algarve. É possível reconhecer essas competências. Queremos desenvolver melhor esse trabalho junto da comunidade académica, com o apoio das autoridades locais, porque na minha opinião, a região fica a ganhar em ter profissionais de áreas que há carência em Portugal», sublinha.
Ainda em relação à barreira linguística, «é nossa intenção incrementar o número de aulas e explicações de português, embora isso já esteja a ser feito na zona de Albufeira, Quarteira e Faro».
Segundo Bruno Valverde Cota, Portugal continua a ser «um destino interessante» para a diáspora russa.
«Este ano não podemos fazer essa análise, mas à luz do que aconteceu no ano passado, o nosso país tem roubado imigrantes à vizinha Espanha. Os russos gostam dos portugueses, que consideram afáveis e porque sabem receber. O clima é um dos aspetos diferenciadores, tal como a cultura local. Só nos dizem coisas boas sobre o nosso país e sabemos que há um desejo de uma maior participação» cívica e empresarial.
O novo cônsul sabe também que há um problema de imagem, uma herança da guerra fria, em que a Rússia era sempre retratada como o grande agressor do ocidente.
«Sim, é verdade. Crescemos com os filmes de Hollywood em que os soviéticos eram sempre os maus. A verdade é que a Rússia de hoje não tem nada a ver com a Rússia de há 20 anos», diz.
E explica porquê: «nas duas últimas décadas, conseguiu afirmar-se como uma das maiores potências mundiais. É a sexta maior economia do mundo. A Rússia aumentou as suas reservas internacionais 46 vezes mais, aumentando 25 vezes mais os seus ativos do sistema financeiro e capitalizando a sua bolsa de valores (Stock Exchange) em 15 vezes mais».
«Na prática, é um país onde o poder de compra triplicou, a taxa de inflação passou de valores acima dos 30 para cerca de 4 por cento e a taxa de desemprego passou de 13 para 4,6 por cento. É um desempenho interessante e num contexto em que, de acordo com o estudo Doing business 2020 do Banco Mundial, ocupa a posição 28º (em 2009 estava na posição 120º)».
Ainda em relação à economia, Bruno Valverde Cota, lembra que «no passado, a Rússia tinha uma dívida pública na ordem dos 90 por cento do PIB. Em 2019, esse valor estava em 16 por cento. O PIB per capita é 29642 dólares sendo que me recordo que há duas décadas era inferior a 10 mil dólares. Para termos uma ideia, é o mais alto dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África Sul)».
«A taxa de desemprego está nos 4,6 por cento. Significa que tem havido um esforço enorme para melhorar a vida dos russos. Do ponto de vista ideológico, o partido que está hoje no poder, Rússia Nação Unida, se quiser fazer o paralelo com os Estados Unidos da América, é um pouco similar ao partido Republicano», compara.
Agora, «a nossa ambição no Algarve é numa perspetiva de criação de valor. É verdade que esta comunidade está bem integrada, de modo geral, mas queremos que trabalhe mais em equipa e participe mais em projetos» de empreendedorismo, em atividades económicas e culturais.
«Temos capacidade para melhorar do ponto de vista qualitativo e essa é a missão», conclui.
Nesta fase, devido às restrições do estado de contingência da pandemia da COVID-19, o Consulado da Rússia no Algarve vai funcionar por marcação de acordo com as orientações da Direção-Geral de Saúde (DGS), mas o objetivo é ter atendimento semanal em Vilamoura. Para já, arranca com uma equipa de duas pessoas.
Bruno Valverde Cota chegou a esta posição a convite do governo russo, pelo seu percurso profissional. Gere um grupo de empresas especializado nos mercados da União Económica Euroasiática (UEE), cujo maior país é a Rússia, preside a direção da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Russa (CCILR) e é casado com uma cidadã russa.
A cerimónia virtual de tomada de posse do Cônsul Honorário no Algarve pode ser vista aqui.
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