Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro escreveu ontem à noite uma carta aberta ao governo, na qual apela ao governo reforço do Sistema Nacional de Saúde (SNS) com meios do privado e o fecho urgente das escolas.
No momento grave que vivemos, o autarca contactou o primeiro-ministro António Costa para lhe dar conta da situação que o concelho e região atravessam. Na circunstância foi pedido, uma vez mais, «um confinamento mais categórico com fecho das escolas e demais serviços – única via que nos vai permitir aplacar a razia de vidas humanas, restituir alguma normalidade aos serviços sanitários e recuperar a confiança da comunidade».
O barlavento publica, na íntegra, o conteúdo da carta aberta:
Excelência! Escreve-lhe um presidente da Câmara verdadeiramente inconformado com a situação que estamos a viver. A cada dia que passa, vemos morrer centenas de concidadãos nossos.
Os hospitais, por maior que seja o esforço e empenho dos seus profissionais, estão à beira da rutura.
As ambulâncias acumulam-se às portas das urgências – situação que, como bem sabe, não é novidade no Algarve.
Médicos, enfermeiros, auxiliares e demais pessoal hospitalar estão para lá do limite e sem força física ou anímica para dar a resposta necessária para que não morra ainda mais gente.
Enquanto este drama se desenrola nos hospitais públicos, o privado mantém-se inexplicavelmente à margem do esforço – e bastava uma decisão de vossa excelência para que isto mudasse. Uma decisão.
Nas Estruturas Residenciais Para Pessoas Idosas (ERPI) e casas de repouso, as equipas estão dizimadas.
Além dos casos positivos dos funcionários, as quarentenas dos colegas desarticulam serviços inteiros, deixando os utentes sem apoio, muitos idosos, muitos enfermos, muitos deficientes; todos vulneráveis, ao vírus e a outros perigos.
O caos é geral e a saúde pública incapaz de dar conta da avalanche.
O desespero reina nas instituições e nas famílias dos utentes, que temem não voltar a ver. Todos suplicam por uma decisão.
Uma decisão de vossa excelência.
Enquanto este quadro de holocausto se agrava, é a própria economia das famílias e das empresas, em especial no comércio e turismo, que derroca de forma trágica.
E assim, são cada vez mais os portugueses sem trabalho e sem modo de se susterem com dignidade.
E vossa excelência sabe, como eu sei, que para a maior parte não haverá layoff, nem moratórias, nem estado providência, nem bazuca europeia que lhes possa valer. Só uma decisão pode minorar o estrago. E essa decisão é a sua, sr. primeiro-ministro.
Nas escolas, há professores e pessoal não docente com medo – mais medo do que proteção, pois nem à vacina têm direito prioritário.
Mães e pais atormentam-se, incrédulos com tudo isto pois percebem que os estabelecimentos escolares deixaram de ser espaços seguros vêem-nos como uma verdadeira ameaça para alunos, pais, professores e auxiliares educativos.
E a pergunta surge, naturalmente, nas salas de professores: de que estamos à espera para meter toda esta gente em segurança?
Só o Sr. Primeiro-ministro tem a resposta.
As autarquias, confrontadas diariamente com pedidos de ajuda, utilizam todas as ferramentas de que dispõem e diariamente tomam novas medidas, em função do que é comunicado após mais um conselho de ministros, mais uma reunião de especialistas, mais uma declaração à Nação.
Mas falta algo, sr. primeiro-ministro. Falta meter todas estas pessoas em segurança. Falta uma decisão.
Em nome da Câmara da Municipal de Faro e dos Farenses, que nesta instância represento, tomo, então, a liberdade de lhe pedir, uma vez mais, que decida.
Decida pelo valor sacramental que jurámos defender. Decida pela vida e pela segurança de todos. Decida pelo fecho das escolas. Decida por um confinamento mais categórico. Decida por todos nós.