Paulo Raimundo, secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) encontrou-se com trabalhadores da hotelaria, em Albufeira.
Em «terra de grandes recursos e grandes meios», Paulo Raimundo esteve em contacto com os trabalhadores da hotelaria junto ao Inatel Albufeira Praia Hotel, em Albufeira, na tarde de sexta-feira, dia 17 de fevereiro.
Em declarações aos jornalistas, referiu que «as reservas de Carnaval e da Páscoa estão cheias, cresce a procura e o número de turistas. Só há duas coisas que não crescem: os salários, que é uma questão decisiva, e o aumento do poder de compra de todos nós e em particular destes trabalhadores. É uma contradição, que é geral em todo o país e transversal a todos os sectores, mas que tem uma incidência muito grande no Algarve».
«Temos falta de trabalhadores devido aos baixos salários que se praticam e à precariedade. Com a particularidade de que estes trabalhadores não pagam contas apenas seis meses, têm de as pagar durante o ano inteiro». Por tudo isso, «o aumento de salários é uma emergência nacional», afirmou.
«Se existe sector onde não há razões para que não se aumentem salários, é este. Há trabalhadores cada vez mais qualificados e com vontade de trabalhar, é uma evidência. Mas não é possível continuar numa ideia de crescimento brutal do turismo sem haver uma valorização. Não pode ser. É bom que as empresas encaixem receitas, mas que também sejam transferidas para os trabalhadores, porque são quem faz tudo isto funcionar», reforçou.
Questionado pelos jornalistas acerca das medidas recém anunciadas pelo primeiro-ministro António Costa para responder à crise na habitação, o secretário-geral do PCP considerou que ficam «muito aquém das necessidades».
«O governo optou por não enfrentar nenhum dos problemas com que nos confrontamos. É um plano de ação a olhar para o futuro, e isso é importante, mas os problemas colocam-se todos os dias. É o caso dos aumentos dos créditos à habitação e as consequências disso. Sobre essa matéria, o governo não deu qualquer resposta», afirmou.
No que toca ao mercado de arrendamento, «tudo aquilo que é central na lei dos despejos, na lei [Assunção] Cristas, do tempo da Troika, o governo não mexeu em nada. Podemos dizer que há um conjunto eventualmente de boas intenções para o futuro, mas no presente, para o dia de amanhã, não resolve nada».
Também a eventual inconstitucionalidade das medidas, levantada pela Iniciativa Liberal (IL) no que diz respeito à defesa da propriedade privada, não preocupa os comunistas. «O PCP considera que esta é uma operação que, em última instância, pode levar a uma transferência brutal de fundos públicos para o sector privado. É isso que pode estar em causa».
Desafiado a justificar as críticas que o PCP fez a Marcelo Rebelo de Sousa por atribuir o Grande-Colar da Ordem da Liberdade a Volodymyr Zelensky, Paulo Raimundo disse apenas que decorrem de «ter decidido condecorar uma pessoa que consideramos que em nada contribui para aquilo que é preciso hoje, que é a paz». Com efeito, a 16 de fevereiro, o comité central acusou o Presidente da Ucrânia de personificar «um poder xenófobo, belicista e antidemocrático, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e nazi».
«É um facto. Nós não inventámos isso. Não foi o PCP que aboliu os partidos praticamente todos na Ucrânia, foi o Presidente em exercício que ganhou as eleições a dizer que queria acabar com a guerra. E há uma outra questão. O nosso Presidente poderia ter condecorado o povo ucraniano. Não o fez, condecorou o homólogo da Ucrânia. Acho que fez mal. Ainda por cima com uma ordem que carrega um peso de esforço para quem conquistou a democracia no nosso país e que não tem nenhuma correspondência no poder ucraniano. Não estou a fazer nenhum julgamento de valor sobre quem é o responsável da guerra. Sabe quem é que o senhor Presidente deveria condecorar? Era esta gente toda», ironizou.