Estevens não avisou distrital do PSD que ia sair do partido

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Apesar de ter tornado público, através da comunicação social de que iria deixar o Partido Social Democrata, José Estevens ainda não enviou qualquer documento oficial que ateste este ato à distrital, conforme afirmou ao «barlavento» David Santos, presidente do PSD do Algarve.

Aliás, o dirigente da estrutura algarvia avançou mesmo que apenas teve conhecimento desta iniciativa do líder da concelhia de Castro Marim pela imprensa.

Isto porque, José Estevens, que enviou para as redações uma cópia da carta que endereçou a Pedro Passos Coelho, presidente do partido, apenas divulgou essa missiva. Até ao início desta semana, o militante, que tenciona desfiliar-se do PSD, ainda não o fez oficialmente.

Assim, questionado pelo «barlavento» acerca das consequências para a concelhia, com esta rutura de Estevens com o PSD, David Santos escusa-se a mais explicações. No entanto, como o antigo ex–presidente da Câmara Municipal de Castro Marim é o presidente da concelhia local, ao deixar esta função, deverá ser o vice-presidente a assumir a função até que haja novas eleições, que só podem agora decorrer após as autárquicas, conforme o «barlavento» apurou, decorrendo de uma diretiva nacional dos social-democratas.

Na carta endereçada a Pedro Passos Coelho, José Estevens começa por fazer o historial do envolvimento com a Câmara Municipal de Castro Marim. «Em 1997, vendo a minha pobre Castro Marim vítima de atropelos de toda a ordem, dispus-me, ao serviço do PSD, a resgatá-la, conduzindo-a a um campo de afirmação, dignidade, crescimento e de lançamento das bases que haveriam de engravidar a esperança desta serrana bela do extremo Sotavento algarvio».

No entanto, com a lei dos mandatos, caracterizada como «hipócrita» pelo ex-autarca, foi necessário procurar um candidato que desse continuidade a este «sonho». «E, foi assim que, com o capital que dispúnhamos de 16 anos de dedicação lúcida e empenhada, em benefício exclusivo da comunidade castromarinense», que «fomos honrados com a confiança dos eleitores». Nessa altura, foi eleito Francisco Amaral, enquanto José Estevens que correu à Câmara Municipal de Tavira foi derrotado por Jorge Botelho.

«Infelizmente, fomos comissários de um erro clamoroso, fazendo fé numa reputação habilmente construída, militámos na eleição de um carácter que, assumiu de imediato o corte com o substrato pessoal determinante da candidatura e eleição, procurando apoios noutros campos e conduzindo a subversão das políticas, processos e projetos que havia jurado servir», destacou nessa carta José Estevens. A falta de diálogo, sublinhou, levou a que a secção concelhia e o presidente da Câmara Municipal atual entrassem em rota de colisão.

Com o aproximar das próximas autárquicas, que devem ser marcadas para outubro, José Estevens viu uma oportunidade de substituir o atual edil por outro candidato. A diretiva nacional de apoiar autarcas que se possam recandidatar deitou por terra esta ideia, bem como o posterior apoio público a Francisco Amaral pela Comissão Nacional.

O líder da concelhia acreditava, contudo, que seria apenas «uma orientação contornável», até porque «a acrescer à primazia dos estatutos, na estratégia aprovada para as autárquicas 2017, foi enunciado o perfil dos candidatos e um conjunto de objetivos a alcançar nos municípios onde o PSD venha a ser poder. «Ora, tendo o putativo candidato um perfil que fica a anos–luz do recortado na linha de orientação estratégica enunciada pelo partido e demonstrada, por demais, a sua incapacidade para executar as políticas conducentes à obtenção dos objetivos elencados para os territórios de governança PSD, não deixámos secar a esperança de ver Castro Marim retornar ao rumo certo».

Foi por essa razão, que cumprindo o regulamento em vigor, a concelhia encontrou, por unanimidade, o nome a propor à comissão política distrital como candidato à presidência da Câmara Municipal, depois de aceite também por unanimidade pela assembleia de militantes do partido.

José Estevens acusa ainda Pedro Passos Coelho de ter preparado «astuciosamente» uma conferência de imprensa, a 21 de janeiro, em Albufeira, onde assegurou o apoio ao atual presidente da Câmara Municipal de Castro Marim. Ainda que não tivesse sido uma conferência de imprensa, mas um encontro com a imprensa regional sobre os mais variados assuntos da atualidade, onde não faltou a temática das autárquicas, pela pertinência do assunto para a região.

O castromarinense acusa, porém, que o líder «fez tábua rasa dos estatutos do partido, diminuiu a democracia e reiterou a célebre expressão que se lixem as eleições. É que os estatutos são aprovados em Congresso e, nem a Comissão Política Nacional, nem o Conselho Nacional os podem derrogar».

Por fim, Estevens adiantou que entrega o cartão de militante do PSD, ao líder nacional, «reassumindo a liberdade», valor que considera «primeiro entre os primeiros».