Revisão da matéria dada

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1) Dedicatória aos médicos, enfermeiros e funcionários do Hospital de Faro

Nos quatro dias de frequência assídua do hospital público, devido ao internamento de familiar sujeito a uma cirurgia, registo a facilidade com que se processam as visitas, com um horário bastante alargado e fácil escoamento e alternância de entradas e saídas de familiares. O meu elogio, no caso, para o jovem médico da equipa que operou, pelo modo calmo e tranquilo com que se inteirava e respondia às dúvidas e ansiedades das pacientes no período pós-operatório, as quais passavam um mau bocado, sobretudo nos dois primeiros dias. O cuidado das enfermeiras, pelo seu profissionalismo, medicando as dores, acompanhando as situações, procurando dar resposta aos pedidos. As assistentes operacionais tudo limpando e desinfetando. Haverá quem seja menos atencioso, por vezes até quem seja antipático ou mais brusco nos gestos e no falar, pois é, nem tudo é perfeito.
Se mais não fazem é por escassez de recursos. No geral, identifico-me com estes profissionais da saúde, por eles tenho estima e profunda admiração. Leiam-se as reportagens e notícias, agora mais do nosso conhecimento, sobre a luta que travam. Vidas de dedicação, de sacrifício familiar, em prol do trabalho no hospital. Os médicos estão descontentes, cansados, exaustos. Como aquele médico que dizia que para os filhos medicina é sinónimo de ausência e de quem sai de casa às 8 da manhã sem saber a que horas regressa.
Nota. O espaço verde circundante, o qual tem número considerável de pinheiros, é agradável, mas podia estar mais cuidado, ajardinado, limpo e ordenado. E o abate verificado de algumas árvores, necessário para expandir o hospital, deveria implicar o plantar de novas no espaço possível.

2) As contas certas

Até poderíamos entender este esforço do Governo para pôr as contas públicas em ordem, o diminuir da dívida pública, este espírito de missão do ministro das Finanças (o ar aprumado, o colarinho bem apertado, correspondendo ao rigor e dedicação ao orçamento). O primeiro de muitos sem cativações e com mais desafogo no IRS. Mas a maior parte de nós vive de ordenados médios e baixos, basta pensar as diferenças de ordenado mínimo entre Portugal e Espanha. Podemos comparar também com o país vizinho, o custo de vida manifestamente mais elevado, onde tudo se paga mais caro: as casas, o gás, a gasolina, a eletricidade, as telecomunicações. E tudo se paga mais caro por culpa de más políticas, de obscuros e inatacáveis interesses de empresas (públicas!?!?…) como a EDP, a Galp. Temos gestores de empresas públicas pagos ao nível de quadros da Alemanha e ordenados mínimos e médios dos mais baixos da União Europeia. Que governantes e partidos políticos têm permitido tais desmandos?… Assim, não podemos compreender esta contenção do investimento público na estruturação das carreiras da função pública (médicos, enfermeiros, cientistas, professores, polícias, …). Assim, sem uma valorização salarial e progressão profissional da qualificação da função pública, da ciência, da educação, da saúde e segurança, bem podemos ir poupando, mas não haverá aumento da produtividade, nem aumento do PIB – produto interno bruto (Portugal é o sétimo país com menor PIB per capita da União Europeia). Ou será possível sustentar a economia do país apenas à conta do Turismo e do Imobiliário?… Talvez, mas será um país menos nosso, mais dos outros e tristemente irrelevante. Ou ainda acreditam no sonho de sermos a Califórnia da Europa, ideia aventada nos anos 90 por algumas aventesmas políticas e luminárias intelectuais no período áureo do cavaquismo… Bem, agora com esta maioria socialista nunca se sabe…

3) Sol enganador

Tarde de quinta, 12/10/2023. Praia de Faro.
A luz do entardecer adormece no horizonte ainda fogosa e intensa, espalhando breves cintilações, estranhamente mornas, sobre a mesa em que leio, dourando o livro e a vida. Uma vida plena de luminosidade neste dia solar, com os humanos enchendo esplanadas e falando animadamente, felizes com o sol que os aquece.
Escolho uma idade à minha medida e vem me à mente o poema/mote Nada do que é dourado permanece do filme Outsiders de Coppola. Nado num mar de suave levante e temperatura da água incrível para esta altura do ano. Aproveito a praia.
Mas a ardência inusitada do Sol nestes dias que supostamente já deveriam ser de Outono, mais frescos e húmidos, de preferência com chuva; a seca que grassa pela terra algarvia, a monotonia dos dias sem mudança de estação e a feliz ignorância dos turistas cansam-me.
Por vezes, consciente do futuro que nos espera, imagino cenários pós-apocalípticos, bem mais próximos do que imaginamos, quando por todo o lado vejo cada vez mais árvores secas, ribeiras que não correm, a terra exaurida e sôfrega por água.
Como é ainda possível existirem negacionistas das alterações climáticas?!; as mesmas práticas camarárias de sempre, com o ruído impiedoso das moto serras, anunciando o habitual massacre de árvores?!; Mais plantações de culturas de regadio intensificado?!; Mais piscinas, agora também muito em voga em meio urbano, nos terraços de prédios, nos rooftops?!; Os direitos adquiridos e a consequente betonização/urbanização do que resta de área natural no litoral algarvio?! (aguardo com curiosidade a decisão/publicação em decreto-lei, pelo ministério do Ambiente, da criação da Reserva Natural da Praia Grande de Pêra/zona poente da Lagoa dos Salgados, no concelho de Silves).
Admiro os jovens ativistas e associações ambientalistas que se manifestam. As suas ações, desde que não danifiquem obras de arte e património histórico, contra a ineficácia política e os interesses das empresas petrolíferas, agora escondidas na bonita designação das alternativas energéticas. Quando sabemos que o capitalismo verde, igualmente interesseiro e nefasto para o meio ambiente, tal como a exploração de combustíveis fósseis, não é nada inocente. Veja-se a intenção da exploração mineira de lítio na área de paisagem agrícola protegida na região do Barroso; do sacrifício de milhares de árvores para instalação de gigantescas áreas de painéis fotovoltaicos; da insistência na construção de novas barragens, quando a chuva é escassa, regulando artificialmente rios que dificilmente levam água ao mar, necessária também para alimentar a biodiversidade do meio marinho que precisa igualmente de água doce. O ativismo radical e jovem é bem mais consequente do que este texto. E volto ao poema.

E o Éden mergulha em tristeza
Assim a aurora se transforma em dia.
Nada do que é dourado permanece.
Robert Frost
(poeta californiano 1874-1963)