O tempo já não é o que era, costuma-se dizer. No espaço de poucos dias, Faro e várias zonas do Algarve foram afetadas por dois acontecimentos distintos que demonstraram a força da natureza e a nossa incapacidade para a conter. Mas também é verdade que o meio ambiente mudou devido à ação do ser humano. A Organização Não-Governamental alemã Germanwatch publica todos os anos um Índice Global de Risco Climático (Global Climate Risk Index).
É um instrumento que pretende alertar os países mais vulneráveis a eventos extremos para que tomem medidas de prevenção. Em 2018, Portugal ocupa a 22ª posição na tabela mundial. Entre 1997 e 2016, o nosso país manteve a 5ª posição à escala europeia, isto de acordo com dados que ainda não incluem os recentes acontecimentos de seca severa, incêndios florestais e tornados. As Nações Unidas reconhecem que o aumento da temperatura da água do mar e da humidade proporciona condições para este tipo de fenómenos, com o aumento do efeito de estufa no planeta, e recomenda por isso, reduzir as emissões de gases de efeito de estufa (GEE). Em Portugal, o governo continua a defender a exploração de gás e petróleo em território nacional, indo em sentido oposto ao propósito maior de reduzir as emissões de GEE na atmosfera.
A ONU adianta que a produção de carne e leite contribui com mais emissões de gases com efeito de estufa do que o conjunto de todos os transportes do mundo. Mesmo assim, continuamos a injetar dinheiro público e a atribuir benesses fiscais e contributivas à agricultura intensiva, aos suinicultores e ao negócio do leite, indústrias altamente poluentes. Em relação à proteção da floresta, e após os devastadores incêndios do último verão, a prioridade imediata parece ser o corte de árvores através de uma campanha nacional de limpeza de terrenos, de eficácia duvidosa, técnica e cientificamente questionável. Devíamos pensar em recuperar a floresta autóctone em vez de criar condições para acabar com o que resta dela. E definitivamente avançar com Planos Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas, como forma de mitigar os problemas que daí advém e assim proteger a vida de todos nós.
Paulo Baptista | Comissário Político Nacional do PAN – Pessoas-Animais-Natureza