PME: como sobreviver em época de Coronavírus?

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Em tempos de Coronavírus o que assistimos nos noticiários é o esforço hercúleo de todos os profissionais para conter o avanço da pandemia e minimizar os seus efeitos sobre toda a população. Mas já é inevitável o dano causado em inúmeros sectores da economia mundial, somado a um cenário de incertezas para os próximos meses.

Estamos a viver um momento económico sem precedentes e por mais que tentemos traçar algum paralelo com outras crises já vividas, a situação atual é sem sombra de dúvidas, a mais desafiadora de todos os tempos. Em Portugal, segundo dados do Eurostat, do total de empresas ativas no país, 99,3 por cento são pequenas e médias empresas (PME).

Este é um universo de empresas com pouco capital, e com uma rentabilidade que não permite exageros ou reservas financeiras. Sendo assim, como sobreviver a um mercado estagnado onde os consumidores estão isolados em suas casas?
É certo que para alguns sectores o impacto será muito maior do que em outros, mas é chegado o momento de colocar em prática todo o potencial criativo e procurar alternativas que minimizem o impacto nas receitas. Neste contexto é importante cortar os custos possíveis, renegociar dívidas com os fornecedores e fazer parte do mundo digital de forma ativa.

O consumidor neste momento está em casa e como já dizia o músico brasileiro Milton Nascimento, «todo o artista tem de ir aonde o povo está». Ao trazermos para esta realidade do mundo conectado, a internet é uma grande fonte de saída para os pequenos negócios.

Mas na prática, como fazer? Primeiro, é necessário dedicar um pouco do seu tempo para aprender sobre o tema, pois o Facebook e o Instagram da sua empresa devem ser muito diferentes do seu pessoal.

Entenda como funciona o mundo das redes sociais sob a ótica da estratégia, uma vez que existem muitas formas de estabelecer uma relação com o seu cliente e inclusive a possibilidade de angariar novos.

Existem muitos profissionais através de cursos online que orientam gratuitamente como tirar o melhor proveito das redes sociais sob os principais pontos, tais como: quais os melhores horários para fazer os posts, que conteúdo postar, qual o tempo de resposta às dúvidas dos clientes, como estimular a interação com os usuários, como gerar conteúdos úteis sobre o seu negócio, entre outas, são muitas formas de iniciar um caminho e abrir novas portas de comunicação.

O importante é não perder o contacto com o seu cliente em tempos de quarentena. Se estamos todos mais ociosos, inevitavelmente vamos recorrer à Internet para buscar informações, distrações e conteúdos, e nessa hora se passar um post interessante da sua empresa na timeline de alguém, pode significar o começo de um negócio.

Por isso mesmo, é preciso estudar um pouco sobre como otimizar as diversas ferramentas disponíveis na internet. Há opções inclusive de patrocinar algumas postagens para aumentar o alcance da visualização dos usuários para uma determinada área geográfica ou faixa etária.

Para um pequeno restaurante por exemplo, há a hipótese de entregar refeições prontas seja na casa do cliente, ou para take away no restaurante de forma que não haja espera.

O envio do cardápio do dia, ou com boas fotos dos pratos que podem ser pedidos via Whatsapp ou Messenger também somam esforços nesse contato diário. Ter uma base de dados dos clientes neste momento é de extrema importância, pois o restaurante deve fazer uma ação de marketing e mandar entregar aos clientes mais assíduos um pequeno mimo, como forma de dizer que está solidário e presente neste momento, e claro, disponível para aceitar pedidos.

Este é o momento de estreitar relações com o consumidor, de escutá-lo, de pesquisá-lo. É momento de usar o tempo livre para entender o que eles dizem, postam nas suas redes sociais, e a partir daí desenvolver ações para buscar a aproximação.

Para as lojas de vestuário, é momento de trabalhar em conjunto com os seus fornecedores, antecipar algumas peças da coleção de primavera por meio digital às clientes para pré-venda, fazer vídeos com os artigos disponíveis, dicas de combinações, montar uma pequena amostra de produtos que sejam complementares entre si e levar à casa da cliente, compras via aplicativos, sempre demonstrando a preocupação com a segurança na preparação do envio.

As ações promocionais também são muito bem-vindas e podem ser bastante atrativas.

No sector do turismo, com tantas reservas a caírem, é preciso buscar os contratos futuros e o estímulo do turismo local, que ao primeiro momento será o ponto de apoio.

A valorização da empresa portuguesa e a busca por seus serviços será imprescindível na recuperação.

Há muitos sectores da economia que estão rapidamente a adaptar-se aos novos tempos, a exemplo dos ginásios, dos cursos de línguas, e até mesmo das clínicas de psicologia, que prestam atendimento virtual aos seus usuários de forma a não perder o vínculo com eles.

As empresas de tecnologia possuem um grande nicho de mercado em função do número de pessoas a trabalharem em casa, e consequentemente, a precisarem de equipamentos e serviços de suporte para desenvolverem suas atividades.

Como estratégia de imagem institucional, um outro ponto muito bem visto pelos consumidores é o engajamento das empresas em causas sociais em períodos de crise, e por mais simples que seja, neste momento há inúmeras formas de ajudar aos mais necessitados, inclusive em parceria com os seus próprios clientes.

Outra ferramenta eficaz na comunicação é o envio de mailings, com mensagens positivas, com dicas para atravessar o momento, e claro, promoções e produtos em destaque.

Por outro lado, também sabemos que o simples ato da compra traz o sentimento de satisfação para a maioria das pessoas, de compensação pelo stress ou pela frustração. Essa pode ser uma oportunidade para o pequeno negócio estimular o consumo de forma a minimizar as perdas de receita que vão ocorrer neste período.

São ações que geram ou estreitam laços, que nesta conjuntura devem ser mantidos de toda forma. A criação de conteúdos positivos contribui para a formação da imagem da empresa e gera empatia com o público, e por isso deve ser realizado de forma periódica e voltado para o segmento de cada negócio.

Sabemos que o empresário de pequena empresa é responsável por praticamente todos os sectores da organização, desde o financeiro até a produção, como também pelo marketing e atendimento ao cliente.

Mas apesar de tudo isso representar as maiores preocupações na cabeça do empreendedor, acima de tudo constitui uma vantagem, pois ninguém melhor do que ele para conhecer o seu negócio.

Por isso mesmo, é hora de procurar mais uma habilidade e se conectar a um novo público para além daquele que ele já conhece, de se informar sobre o que mercado está a dizer, de ouvir o seu próprio cliente e a partir daí, pensar como pode atender da melhor forma.

Em caso do empresário(a) não se sentir com muita afinidade para desenvolver ações no mundo digital, pode e deve buscar ajuda para implementá-la, através de pessoas conhecidas que possuem mais familiaridade com as redes sociais, com os diversos cursos online e gratuitos com orientações sobre o tema, e se for o caso até com outras pequenas empresas ou profissionais liberais que realizam consultoria de mídias sociais.

É o momento de exercermos a nossa criatividade, e a nossa capacidade de inovação. Tendo em mente que para inovarmos, precisamos de identificar o problema e procurar alternativas, analisar as ideias, estabelecer e executar as ações, planear a operacionalização, acompanhar e verificar os resultados para definir os próximos passos.

Este é um excelente exercício para ser realizado com a própria equipa, mesmo que à distância, para que todos juntos pensem em formas alternativas de fornecer os produtos ou serviços neste momento de crise.

O(A) empresário(a) de pequena empresa é chamado agora mais do que nunca a gerir o seu próprio negócio de forma estratégica, e o planeamento é a palavra de ordem. Planear o seu fluxo financeiro, a sua estratégia de vendas, os seus fornecedores e a sua relação com os seus consumidores farão toda a diferença.

E o planeamento que já não era uma ciência exata, agora em tempos de incertezas, muito menos. Isso vai requerer uma revisão constante na abordagem usada, se trouxe resultados ou se é necessário ir adaptar as mudanças num espaço de tempo mais curto do que seria habitual, talvez até semanalmente em face das constantes mudanças.

É preciso não descuidar do negócio e jamais cruzar os braços.

A sociedade em geral pode e deve se engajar num movimento para que todos passem a comprar na pequena empresa local, de forma a estimular as pessoas a consumirem no seu bairro, na sua cidade, e fazer o dinheiro circular na comunidade e assim recuperar os pequenos negócios locais.

Estes são tempos difíceis que exigem escolhas complexas do que jamais pensamos em enfrentar, mas há que não perder o foco no futuro e buscar todas as alternativas para reduzir o impacto trazido pela atual crise. A criatividade de cada um vai ser a responsável por fazer as pequenas empresas deixarem de ser mais um na multidão e serem vistas pelos consumidores.

Ainda não sabemos o tamanho do impacto, muito menos a duração desta crise, mas temos a consciência de que muito embora os seus prejuízos sejam inevitáveis, para quem não se deixar abater e puser um plano de operação em prática sempre com o foco no desejo dos seus clientes e fornecedores, pode representar a diferença no mercado e estará a fazer de tudo para que sua empresa continue a ser um sucesso no mercado. Vamos todos ficar bem!

Ana Cláudia Sousa Branca | Especialista em gestão de PMEs