O Vazio no Poder

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Com 17 anos escrevi uma peça jornalística no âmbito do Curso Tecnológico de Comunicação que frequentava.

Pretendia avaliar a perceção dos jovens relativamente à política. Havia no seio da comunidade escolar uma forte descredibilização relativamente aos políticos e ao sistema: Mentiras, logro e corrupção foram algumas das ideias que saltaram do artigo.

Na Madeira de 1995, no auge do jardinismo, isso trouxe-me alguns dissabores: «não posso permitir que um miúdo de 17 anos publique num diário que os políticos são todos uns ladrões e desonestos», afirmou muito descontente o presidente Alberto João Jardim.

Pouco depois vim para o Algarve, onde tenho vivido até estes quase 42 anos.

Continuei a dizer mal da classe política e do circo à sua volta.

Mantive ótimas conversas de café a blasfemar, a aliviar a mente e o espírito.

Mas o que eu queria, na verdade, era acreditar, ter confiança e esperança em mais justiça, bom senso e civilidade.

Havia tanto para mudar e tudo era tão complexo que dava por mim a pensar que não iria conseguir, não valia a pena, o melhor era estar quieto e seguir a minha vida.

No entanto, com o tempo e reflexão, alterei a minha forma de estar.

Percebi que nada fazer, não era mais do que um falso conforto. E que a argumentação da impotência retira-nos das costas o peso da responsabilidade sobre o que acontece à nossa volta.

Durante todos aqueles anos o desligamento e rejeição da política, era o reflexo do meu conformismo e do entorpecimento. A garantia que continuava a viver exclusivamente na minha zona de conforto.

Só que não participar é ficar de fora das decisões. É como não ir à reunião de condomínio e depois queixarmo-nos que a porta de entrada está avariada, que ninguém faz nada!

Digo isto num apelo ao voto, mas acrescento que esta postura participativa vai muito além do colocar uma cruz num boletim.

No dia em que a democracia se resumir a fazer um «X» num papel, morrerá.

E encontra-se neste momento profundamente débil, com taxas de abstenção elevadíssimas à mercê de crescentes movimentos extremistas que aproveitam a brecha para pregar a salvação ao virar da esquina.

A democracia também se faz no dia das eleições, óbvio, mas constrói-se dia a dia, tal e qual como num casamento que se quer cuidado.

O título deste artigo de opinião é também o título do livro mais extraordinário que li nos últimos tempos.

Escrito por Eduardo Rombauer van den Bosch, reflete sobre a reinvenção do ser político. Daqui sai uma frase extremamente poderosa: «nós somos aqueles por quem estávamos à espera».

Afinal, nós somos os tais!

Acrescentemos à conversa dos cafés uma participação ativa na vida das nossas ruas, localidades, cidades, país e Europa.

Sejamos acima de tudo habitantes vivos e dinâmicos do planeta em que habitamos de forma a ocupar este vazio no poder.

Dia 26 de maio, nas eleições para o Parlamento Europeu, decide por ti, vota e faz parte da construção de uma democracia melhor, ela custou tanto a garantir.

Paulo Baptista | Comissário Político Distritaldo PAN – Pessoas – Animais – Natureza