O Aeródromo Municipal de Portimão, outrora conhecido mundialmente pela sua atividade de paraquedismo, vive nos dias de hoje um definhar lento.
O Aeródromo Municipal de Portimão, outrora conhecido mundialmente pela sua atividade de paraquedismo, vive nos dias de hoje um definhar lento, vítima de um emaranhado político e regulamentar que não é claro para os amantes e atletas do paraquedismo, que é asfixiante para os agentes económicos ligados à atividade, e negativamente impactante para a região onde se insere.
Permita-me o leitor, apresentar-lhe alguns factos para contextualizar o parágrafo acima.
Em 2019, no Aeródromo Municipal foram realizados aproximadamente 89.000 saltos, o que colocava Portimão no mapa da modalidade, como uma das maiores operações mundiais.
No final desse ano, na maior prova europeia de inverno estiveram em Portimão mais de 300 atletas de variadíssimas nacionalidades, e realizaram-se diariamente aproximadamente 60 descolagens de aviões que permitiram a realização de 1000 saltos diários.
No pós-pandemia, já em 2021, o máximo que se conseguiu foram 16 descolagens, ou seja, menos 44 que dois anos antes, e o número de participantes rondou os 40. Um número sete vezes inferior a 2019. Neste mesmo ano, «aqui ao lado» em Sevilha havia 350 inscritos, com uma média de 1300 saltos diários.
O paraquedismo em Portimão, tinha um peso anual estimado de 3 milhões de euros, que atenuavam a elevada sazonalidade de Alvor. Era responsável por centenas de postos de trabalho diretos e indiretos, e alimentavam uma economia de inverno com impacto direto nos hotéis, restaurantes, bares e variado comércio existente na vila.
Importa salientar que os atletas fazem-se acompanhar de familiares, amigos, e por vezes de equipas técnicas. Era habitual a presença de atletas e equipas de renome, como era o caso da equipa Belga HayaBusa (campeões mundiais), da NFTO (equipa feminina de Inglaterra também campeã mundial) ou da Catar Tigers (oriunda do Qatar, com uma comitiva que comporta cerca de 40 pessoas).
Grandes eventos mundiais de paraquedismo deixaram de acontecer, como é o caso dos eventos Tora Tora ou os Sequential Games.
Este declínio não tem somente impacto económico, mas também um enorme impacto social. O Aeródromo de Portimão era responsável pela formação de atletas desta modalidade, situação cada vez menos frequente.
Alvor tem características ímpares para a prática do paraquedismo. Este nosso clima ameno, as paisagens maravilhosas, a hospitalidade das nossas gentes, a qualidade do nosso turismo, tornavam o nosso aeródromo a Meca do paraquedismo de inverno.
Infelizmente, tudo isto está em declínio. A autarquia responsável pela gestão do aeródromo, motivada por um relatório da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), condicionou gravemente a prática desta modalidade desportiva, criando restrições que ultrapassam largamente aquilo que é prática comum e são responsáveis pelo asfixiamento da modalidade.
Eu, como instrutor de paraquedismo há 12 anos e praticante da modalidade há 26, tendo percorrido aeródromos pelo mundo todo, nunca vi nada de semelhante acontecer.
A regra imposta implica que nenhum avião possa aterrar sem que todos os atletas tenham aterrado primeiro e saído da zona de aterragem, mesmo que o paraquedista esteja a uma distância de 1000 pés (cerca de 300 metros). É prática comum, pelo mundo forma, os atletas aterrarem nas laterais da pista e era assim que acontecia em Portimão.
Para o leitor entender melhor, permita-me fazer uma analogia. Imagine que proibiam a circulação de viaturas automóveis pelo simples facto de existir o perigo de atropelamento de peões. É isto que acontece no Aeródromo de Alvor.
A solução para isto, passa unicamente por autorizar que os atletas aterrem no terreno contíguo à pista, que permite um distanciamento físico entre aviões e atletas, garantindo a segurança de todos os intervenientes, e permite retomar uma atividade tão nobre e tão impactante para todos.
É fulcral que a autarquia estabeleça a ponte entre os atletas, agentes económicos e entidades reguladoras, para que se criem urgentemente as condições para restabelecer o Aeródromo Municipal de Portimão como a maior operação europeia de paraquedismo de inverno.
José Pedro Júnior | Instrutor de paraquedismo