Corredor Ferroviário do Mediterrâneo: Portugal a ver comboios

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Mesmo. Portugal, os nossos governantes, andam mesmo a dormir. Senão vejamos.

Em 2010 a Comissão Europeia aprova a rede de corredores multimodais. A rede básica europeia de nove corredores multimodais inclui o Corredor Ferroviário Mediterrânico que liga a Andaluzia, aqui mesmo ao lado, à Ucrânia.

Como grandes benefícios deste corredor eram então apontados: o aumento da frequência e redução do tempo de viagem entre as principais cidades europeias ligadas pelo corredor do Mediterrâneo; a conexão rápida entre os principais centros urbanos da costa do Mediterrâneo; o impacto positivo no sector de turismo do Arco do Mediterrâneo por ter total conectividade de alta velocidade com todo o território; a atração de novos investimentos, melhorando a conectividade com a Europa Central e do Norte e, por fim, o desenvolvimento do sector da logística e atividades relacionadas, de maior valor agregado e conhecimento intensivo, com a consequente geração de empregos de qualidade.

O Corredor Ferroviário do Mediterrâneo será pois crucial para conectar melhor as pessoas aos meios de transporte mais confortáveis, rápidos, económicos e seguros, tanto para viagens de negócios quanto para o turismo, sem interferir na mobilidade a curta distância.

Sem qualquer dúvida, será essencial para fortalecer a coesão social e territorial em todos os níveis.

Aqui mesmo ao lado, a Espanha não deixou passar este desafio e já canalizou milhares de milhões em investimento nestas linhas.

Portugal ficou incompreensivelmente de fora. O atual ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, referiu por estes dias que «tem muitas dificuldades em perceber como é que Portugal não está incluído nesse corredor».

E que ainda iria lutar por reverter esta situação. Para mais quando grande parte destas obras serão cofinanciadas ao abrigo de novos programas de fundos europeus, desde que terminadas até 2030.

Encontrando-se prevista, embora já com grande atraso, a adjudicação das empreitadas de eletrificação das linhas Lagos/ Tunes e Faro/ Vila Real de Santo António (VRSA) para este ano, com uma duração máxima da obra de dois anos, fica a nossa região a um pequeno passo de se ligar a esta Rede, a Espanha e em consequência à Europa.

Um pequeno passo – a ligação de VRSA ao Rio Guadiana e a construção de uma nova ponte – mas que seria um grande e decisivo passo para o Algarve e consequentemente para o país.

Mas ainda há esperança. Tem que haver. É pois a hora do Algarve se levantar a uma voz. Os seus representantes políticos têm aqui uma grande oportunidade de se fazerem ouvir. Em conjunto. Em força.

Deixarem-se de simpatias partidárias, de vassalagem a interesses pessoais ou concelhios e defenderem a sua região.

Porventura, as energias e combates perdidos a lutar pela redução do valor das portagens na A22 ou por um novo Hospital Central que está à vista nunca verá a luz do dia, poderiam ter sido canalizadas para este grande desígnio.

Se nada for feito, se não for agora, o Algarve pode estar assim perder talvez a derradeira oportunidade de se conectar ao futuro.

Ricardo Palet | Engenheiro Civil.