Fomos confrontados por notícias que referem haver pressão das entidades regionais da Andaluzia para a transferência da barragem do Alqueva de cerca de 100 hectómetros cúbicos de água para a zona de Huelva, também em seca extrema.
Porém, a água não se estica e se for para mais outro destino não previsto, menos vai ficar para satisfazer os interesses dos alentejanos e algarvios que dependem da garantia de abastecimento de captações no Rio Guadiana.
É minha convicção que ao gastarmos água hoje, podemos não a ter amanhã ou daqui a um ou dois anos, pelo que a gestão dos recursos deve ser considerada a médio e longo prazo. Não podemos pensar na água que hoje está em Alqueva pode ser alienada, porque hoje faz falta na Andaluzia.
Exige-se por parte do governo cuidado e prudência, porque a relação entre os dois países está perfeitamente convencionada e assim deve continuar. Afinal, ainda que o Alqueva esteja a 70 por cento da sua capacidade, a água é um recurso limitado.
Em representação dos algarvios irei defender que Portugal deve acautelar os seus interesses, e deve fazê-lo em sede própria, isto é, no fórum diplomático da Comissão para o Acompanhamento do desenvolvimento da Convenção de Albufeira, tratado que regula a relação dos rios internacionais entre Portugal e Espanha.
Após a entrega do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Reforço do Abastecimento de Água ao Algarve a partir do Rio Guadiana, através de uma conduta até à albufeira da barragem de Odeleite, um percurso de 36 quilómetros, aguardamos que avance esta solução avaliada em 61,5 milhões de euros, elencados no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), cuja execução tem de ser efetuada até 2026.
Ou iremos perder os fundos comunitários, pela perene indecisão política do governo socialista?
Afinal, devido à alegada subida dos custos, relativamente à construção e equipamentos, já houve um travão ao crescimento do regadio na região do Alqueva e assim o calendário do projeto com conclusão prevista para 2023 foi adiado para 2025, com pesados prejuízos para a agricultura e a agropecuária.
Neste contexto, há que abordar a questão dos transvases sem preconceitos, para garantir as necessidades do consumo humano, da agricultura e de outras atividades essenciais para o desenvolvimento. Continuar a acenar com o fantasma dos transvases é a pior forma de gestão hidrográfica.
As condutas dos transvases são infraestruturas que permitem interligar os grandes sistemas, levando a água a diversos locais.
Portugal tem água mais do que suficiente a norte e com rios a correr para o mar o ano inteiro. Construíram-se várias autoestradas mas nenhuma conduta, embora seja mais fácil fazer transvases do que uma autoestrada.
Até no Algarve desperdiçamos água, por não ser armazenada a que corre nas várias ribeiras da região, embora ao longo de oito anos se tivessem registado secas severas nos anos de 2015, 2017/18 e 2019 e em 2022/2023.
Seca extrema, designadamente no Algarve. Nem com este ciclo de cada vez mais seca e menos chuva se constroem, ao menos, charcas de retenção.
É uma evidência que a indefinição e falta de decisões por parte do governo socialista agravam a seca.
As alterações do clima não se podem ignorar, pelo que urgem obras sérias e medidas de curto, médio e longo prazo, já que nesta deriva corremos o sério risco de comprometer o desenvolvimento regional. Soaram as campainhas de alarme da falta de água, mas pouco tem sido feito pelo governo socialista. Não me conformo com este desperdício que compromete o futuro.