Escondido entre o casario branco da Vila, o Castelo de Alvor é um monumento militar algarvio importante, na exata medida da relevância histórica da vila ao longo dos séculos. De acordo com as escavações efetuadas por Teresa Gamito, Alvor foi a velha Ipses proto-histórica, centro populacional e comercial da máxima importância nos tempos pré-romanos (GAMITO, 1994).
A conquista romana não alterou significativamente este panorama, assim como a transição para a Alta Idade Média islâmica confirmou o seu estatuto cimeiro. Povoação ribeirinha, dispondo de uma vasta enseada e de condições privilegiadas de acesso ao mar e ao interior do território, através dos vários cursos de água que aqui desaguam, e protegida por um monte dominante, Alvor foi, desde sempre, uma referência para as populações que se instalaram na orla marítima a Ocidente do rio Arade.
As origens do castelo recuam, com certeza, ao período islâmico. De planta quadrangular, as suas muralhas subsistem, ainda, em grande parte, elevando-se alguns troços a mais de cinco metros de altura. O aparelho utilizado foi corrente no período islâmico, recorrendo a blocos irregulares dispostos horizontalmente. O passeio de ronda é ainda apreensível, pela existência de uma escada encostada ao topo Sul da muralha, mas a destruição vertical é muito acentuada, não permitindo perceber se as muralhas eram ameadas. A porta principal, voltada a Norte, é o principal elemento original remanescente, com a sua figuração em cotovelo, que seria provavelmente defendida por uma torre albarrã (GOMES, 2002, p.133). A nascente, o que resta de uma torre, que se elevaria bem acima do mar e que dispunha de um vasto campo de visão sobre a enseada (COUTINHO, p.82).
A aparente singeleza da edificação que chegou até aos nossos dias contrasta com a importância do local durante a Idade Média. Ao que tudo indica, o atual castelo de Alvor corresponde à primitiva alcáçova, que deveria albergar uma guarnição; fora deste reduto, e dispondo-se até à praia, a vila propriamente dita seria cercada por uma cintura de muralhas, de que nada hoje resta. Na altura da primeira conquista de Silves, em 1189, Alvor é referido como castelo dependente daquela cidade, tendo sofrido também as consequências da incursão cristã, registando-se grande número de mortos e partes consideráveis da vila destruídas.
Na esfera cristã, Alvor foi uma das principais localidades do Algarve. Aqui faleceu D. João II, cujo corpo passou, posteriormente, à Sé de Silves e, daí, para a Batalha. No entanto, não possuímos notícias acerca de reformulações militares da vila. Será preciso esperar pelo século XVII para uma maior aproximação a este monumento. Em 1621, numa altura de intensa reforma dos fortes marítimos algarvios, em consequência das guerras de Espanha com as potências do Norte, Alexandre Massaii fala de um “fortezinho pequeno, quadrado”, sinal claro da ineficácia do castelo perante as necessidades de uma guerra de artilharia. As preocupações defensivas do Algarve determinaram o abandono desta estrutura e a concentração de forças em fortes modernos, de plantas complexas e em pontos-chave da costa.
Destituído da sua função primordial, o castelo de Alvor foi sendo sucessivamente ameaçado pela intensa pressão urbanística, a ponto de se ver, na atualidade, rodeado de um sem número de moradias, claramente dissonantes com a realidade histórica do local. Mais recentemente, já no final do século XX, o interior foi transformado em jardim infantil, um ato que pretendeu comemorar a conquista cristã da vila e dotar este espaço de uma função vivencial para os habitantes.
A identificação integral do sistema defensivo de Alvor permanece, contudo, por esclarecer. O plano arqueológico do monte que corresponde à fortaleza de Ipses (ou Vila Velha), diante da Igreja Matriz, revelou níveis de ocupação islâmica (GAMITO, 1994), fazendo crer que o castelo era complementado por outros redutos, aparentemente secundários, mas mais próximos do mar.
Opinião de Mário de Freitas | Cidadão