A esses de dentro de Portugal

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O meu país fica situado no extremo sudoeste da Europa e é pequeno e periférico. O meu país tem uma longa História, deu novos mundos ao mundo e fez o 25 de Abril, essa revolução espontânea de alegria e esperança em nome de uma sociedade mais livre, justa e igual.

Vivemos em democracia, adquirimos direitos e deveres, podemos votar e manifestar-nos em liberdade. Temos problemas comuns a muitos outros países da União Europeia.

Mas o meu país, Portugal, poderia ser muito mais do que aquilo que é, poderia ser mais orgulhoso e menos subalterno, mais determinado e menos ultrapassado.

O que quero dizer com isto? Que podemos ou devíamos aliar objetivos individuais (de vontade e realização pessoal) a objetivos sociais (de vivermos todos melhor e mais satisfeitos com o país que somos). Somos muito críticos, temos muitas desculpas para a nossa inércia coletiva, mas pouco fazemos para mudar.

A nossa democracia precisa de mudança, de mais participação cívica e menos má-língua, de novos políticos e cidadãos maduros e independentes.

A corrupção e a crise financeira têm-nos feito compreender as raízes de muitos males, tais como perceber que a especulação, os grandes negócios e o crescimento económico nem sempre correspondem a um aumento do bem-estar social, mas sim ao fazer fortunas de alguns e no acentuar de desequilíbrios sociais internos, não corrigindo a desigualdade entre pobres e ricos e agravando a vida da classe média.

Devemos igualmente perceber que na bajulice somos todos potencialmente corruptos, a corrupção começa na tradicional e familiar troca de favores entre amigos e acaba quando se tem dinheiro e poder nos casos mediáticos que conhecemos.

Que portugueses somos quando criticamos os políticos corruptos, mas no fundo invejamos o dinheiro que sacaram do erário público? De que nos falam os nossos governantes quando nos falam de milhões… Esse universo surreal e tão orçamentado é linguagem esotérica para quem vive as dificuldades do dinheiro mal chegar ao fim do mês.

Será que só nos resta o patriotismo folclórico do futebol, das bandeirinhas nos carros e nas varandas?… A exaltação do desfecho do campeonato?…

É bom que haja crise, que a crise leve à mudança e a mudança se traduza também nos atos eleitorais que nos esperam em 2019. Sim, votar não é tudo, mas ainda contribui de algum modo para definir o poder. Apesar de a democracia andar tão errática por esse mundo fora.

A esses de dentro de Portugal, honestos e trabalhadores, que ganham a vida com a sua inteligência e com as suas mãos, a essas mulheres e a esses homens com os rostos sulcados pela idade e pelo trabalho ao sol e ao vento, aos jovens irrequietos e urbanos que com novas atitudes procuram respostas concretas aos seus problemas e não doutrinas, aos que não se vendem e olham o rosto limpo ao espelho pela manhã, aos que acreditam numa sociedade multicultural, aos meus antepassados e ao seu exemplo de vida, a Salgueiro Maia, a Humberto Delgado e a Luís de Camões, deles reclamo a coragem e a mais alta espiritualidade, a todos esses que acredito existirem, insatisfeitos mas exigentes, a esses que podemos ser nós reclamo a mudança.

Sim, nós podemos.