Vitorino Nascimento, o meticuloso artesão da memória naval

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Vitorino Nascimento, da Fuseta faz réplicas de antigas embarcações, à escala, exatamente como as originais eram feitas.

Muitos dos artesãos que se dedicam a fazer miniaturas de embarcações tradicionais, usam cascos monobloco, esculpidos em madeira ou em cortiça, acrescentando-lhes depois, os elementos acima do convés. Mas há exceções.

Vitorino Nascimento, da Fuseta, é fiel às verdadeiras técnicas da construção naval, construindo réplicas de antigas embarcações, à escala, exatamente como as originais eram feitas. E prontas para ir à água. O seu pai já fazia miniaturas de barcos, em cortiça, e ele, ainda em criança, ajudava-o e tomou-lhe o gosto. Mais tarde fez formação em eletrónica de televisões e rádios. Porque havia dificuldade nessa área, passou a trabalhar como eletricista. Nas horas vagas, construía modelos de aviões, helicópteros e barcos telecomandados para brincar. Até que um dia pensou, porque não fazer barcos para vender?

«Há mais de 40 anos que faço miniaturas elaboradas, através de estudos dos barcos históricos que foram desaparecendo. Desenvolvi técnicas de construção de engenharia naval. Os meus barcos têm cavername. Faço os desenhos e tenho as máquinas para aparar as tábuas. Dá muito trabalho, mas faço moldes, o que me permite repetir a obra de forma mais célere. Já construí modelos com metro e meio de comprimento e que podem flutuar sem problemas», descreve.

Apesar de hoje serem já escassos os barcos de trabalho em madeira, quem os navegou sabe que as tábuas abrem no verão e fecham no inverno, o que provoca infiltração de água. O problema é resolvido pela calafetagem, que consiste na introdução forçada de estopa alcatroada entre as tábuas. O mestre Vitorino consegue tornar os pequenos barcos impermeáveis, cujas tábuas têm um espessura máxima de dois milímetros, com cola misturada com serradura.

E quem compra estas embarcações? «Eu tento recuperar barcos já desaparecidos, como, por exemplo, as lanchas e enviadas das armações que transportavam os atuns para terra. Tenho peças em museus e todos os armadores da Fuseta e de Santa Luzia que abateram os seus barcos, ficaram com uma miniatura feita por mim. Há uma armação de atum feita por mim no Arquivo Histórico de Vila Real de Santo António. Também construí uma armação para o museu da fábrica Ramirez, em Matosinhos. Instalei o museu do Hotel Albacora, em Tavira, e recuperei a armação de atum que lá se encontra. Também os tenho em restaurantes, como decoração e não só. Há um restaurante na ilha de Faro que os utiliza para levar as travessas com as mariscadas às mesas».

«E também os tenho em lojas, em Olhão e Tavira, onde os turistas os adquirem. Aí, tenho também barcos mais pequenos e fáceis de fazer, mais baratos, esculpidos em madeira, pintados com as cores tradicionais e com um íman para fixação». Muitos dos seus trabalhos representam embarcações antigas e costeiras e, por isso, têm velas. «Sim, são feitas pela minha esposa, em pano cru. Não são um trabalho fácil, obrigam a uma técnica própria», conclui.

Carvename faz a diferença

Na construção naval, começa-se pela colocação da quilha, a espinha dorsal. Depois, ao longo da quilha, vão saindo para ambos os lados, ou bordos, as cavernas, peças curvas que irão dar forma à embarcação. O conjunto da quilha e das cavernas é o cavername, o esqueleto, com a mesma importância que o nosso esqueleto tem no nosso corpo. Quem estiver interessado nos trabalhos do mestre Vitorino Nascimento pode entrar em contacto por telefone (289 793 965/ 939 898 466) ou email (cnm_artesanato@sapo.pt).