Músico octogenário continua a praticar desporto e nada o faz largar a bateria. Figura bem conhecida em Portimão, Plínio Ferrão é também um dos últimos da sua geração no ativo.
Plínio Ferrão completou 85 primaveras em setembro último, e continua a praticar as suas paixões: tocar bateria e jogar ténis. Já seguiu a moda e pratica padel duas vezes por semana. Adora conviver todos os dias com os amigos e é um excelente conversador.
É sobretudo uma referência para os músicos algarvios e, onde houver música, está presente, cativando os presentes com o seu dinamismo e boa disposição.
Natural do Porto, filho do pianista Eduardo Ferrão que, como acontecia à época, tocava em cafés e restaurantes, que mantinham orquestras. Certo dia, zangou-se com o piano e virou-se para a bateria, «embora, mais tarde, tenha regressado ao piano». A troca do piano pela bateria levou a família a mudar-se para o Estoril, onde ingressou na orquestra do Casino, considerada a melhor da zona. E o jovem Plínio, em casa, ia dando uns toques no instrumento, mas apenas por brincadeira.
«Um dia, em 1960, o meu pai ia tocar numa matinée, num café, e foi mordido numa perna por um cão. Regressou a casa e disse-me que eu tinha de substituí-lo, pois precisava de ir ao hospital tratar do ferimento. Eu nunca tinha tocado a sério, com uma bateria à minha frente, mas desenrasquei-me e foi o pontapé de saída», recorda. De seguida, consegue um contrato para tocar no primeiro hotel moderno a abrir no Algarve, o Vasco da Gama, em Monte Gordo.
«Passado algum tempo, regressei a Lisboa e o meu irmão, também baterista, tinha conseguido um contrato para tocar no Hotel Embaixador e eu substituí-o no estabelecimento onde se encontrava. E, a partir daí, não mais parei, tive a sorte de tocar com bons músicos e percorri um bocadinho do mundo», conta. Em 1967, veio tocar no Hotel Algarve, na Praia da Rocha, integrado na orquestra do Hélder Martins. Passou pelos hotéis Alvor Praia e Penina e, depois, foi em tournée para a Madeira e a África do Sul.
«Regressei em 1973, quando foi inaugurado o Casino de Alvor, onde me mantive até à reforma, há cerca de 20 anos. Aí, porque acompanhávamos muitos artistas que traziam as pautas com o acompanhamento, aprendi a ler música, podendo dizer que me tornei um verdadeiro músico».
Mas a reforma foi só para o casino, porque não consegue separar-se da música. «Nunca deixei de tocar, porque faz parte do meu ADN. É uma paixão. Toco com o Estorninho, um professor de matemática que é um amante de música e o Daniel, outro professor reformado. Temos um trio, que às vezes se transforma num quarteto ou quinteto. Tocamos vários géneros e já fizemos música tradicional em São Brás de Alportel e em Quelfes.
Embora não tenha as mãozinhas que já tive, ainda me desenrasco», descreve.
E também já deu aulas. «A bateria não é um instrumento fácil e é monótono. Enquanto noutro instrumento aprendemos uma música e a tocamos, tal não acontece na bateria. Por isso, muitos alunos desistem. E também pela dificuldade que muitos têm em obter a independência de movimentos. E pela grande quantidade de ritmos que existem e que
temos de aprimorar», explica.
Nos últimos anos, a bateria perdeu espaço, por causa da eletrónica. O músico vai fazendo o solo no seu instrumento, acompanhado pela sua «caixa de música», canta (bem ou mal) e é preferido por quem contrata, por ser mais barato do que um conjunto com três ou mais elementos. Mas não é a mesma coisa, claro.
Mas Plínio garante que «enquanto me aceitarem, não deixo de tocar. A bateria é essencial, até por uma questão visual. Há dias, fomos tocar para miúdos de quatro anos de idade e a bateria despertou-lhes muito mais interesse do que todos os outros instrumentos. O número de elementos, todos com sons diferentes, que compõem uma bateria, desperta curiosidade. E a independência com que os braços e as pernas se movimentam é cativante», aponta.
Um dos locais onde se pode encontrar Plínio Ferrão, ao fim da tarde, é no «Olha Q 2», um bar onde a música é rainha, na Praça 1º de Maio (junto à Câmara Municipal), em Portimão. E vale a pena dois dedos de conversa com este senhor que, por toda a sua experiência, é, com certeza, um dos decanos dos bateristas portugueses no ativo.