A equipa de futsal de Portimão foi promovida ao escalão maior da modalidade e toda a cidade regozijou; até aqueles que nem sabiam da sua existência, ou que tinham ouvido falar, mas não sabiam que «eles eram tão bons».
A autarquia, que até se posiciona no corrente ano como Cidade Europeia do Desporto, embandeirou em arco, recebeu a equipa e pendurou faixas bem visíveis nos Paços do Concelho.
Mas a maioria das pessoas não se preocupou em fazer as duas perguntas sacramentais: Como é que a equipa conseguiu manter-se e subir, ao longo de cinco penosos anos? Como é que irá conseguir manter-se na primeira divisão, uma liga forte e cara?
O «barlavento» foi procurar a mola-real do sucesso, o homem que tem carregado a equipa às costas e que ficou na penumbra. Chama-se Pedro Moreira, tem 40 anos e é o treinador, o presidente da secção e o principal patrocinador, através da empresa familiar que lhe dá o ganha-pão, a Churrasqueira das Cardosas.
«Sempre fui um amante de futebol, fui futebolista, mas depois veio a Marinha e parei. Mas também sempre gostei de futsal e, no Verão, entrava em torneios e maratonas com equipas patrocinadas pelo restaurante dos meus pais. Um dia, decidi ir mais longe, falei com o clube dos Montes de Alvor (2012/13), eles emprestaram-nos o nome e fizemos uma equipa a nível distrital que foi campeã do Algarve, dois anos, e subiu à 2ª Divisão Nacional», conta.
Os patrocínios eram poucos, o clube não tinha disponibilidade financeira e esse patamar já custava dinheiro. Então, procuraram o Portimonense Sporting Clube e começaram a representar o clube mais importante da cidade, mas que também não tinha grandes verbas para as atividades amadoras.
«A equipa principal tem 15 jogadores e nenhum vive do futsal, embora haja algumas pequenas compensações sob a forma de prémios de jogo», foi-nos dizendo o Pedro Moreira.
«Mas o clube tem 9 equipas, incluindo 1 feminina, sendo a maior do Algarve, quiçá a sul do Tejo. Fazemos muita formação. A autarquia sempre apoiou a formação, mas só ajudou a equipa principal, emprestando-nos autocarros para as deslocações, no último ano. E, quando a Câmara não nos cede autocarros, porque há mais coletividades no concelho para atender, tem de ser a secção a assumir a situação. Não tem sido fácil, mas foi assim que aceitámos o projeto e temos, de certa maneira, conseguido arranjar soluções. As pessoas de Portimão têm bom coração e têm ajudado, com patrocínios e transportes. Quando há boa vontade de todos, tudo se arranja», sublinha.
Mas admite que é ambicioso, que o Portimonense vai participar para ficar lá, mas que isso irá obrigar a uma reestruturação generalizada.
«Tem de haver mais condições, a autarquia e o clube têm de arranjar soluções, porque têm uma força que nós não temos. Esta cidade e o Algarve merecem esta subida, fruto do sacrifício de cinco anos. Logo, não podemos ir lá apenas para passear. Queremos lá ficar muitos anos, pelas pessoas que acreditaram em nós».
Sobre a contratação de jogadores que lhe permitam competir na Liga Sport Zone, relata que não é um problema quantitativo, mas qualitativo. «Tenho de ter sempre dois quatros, ou seja, dois jogadores ao mesmo nível para cada posição avançada, para ter uma equipa homogénea e manter a dinâmica. Um jogador tem de entrar, dar tudo o que tem durante dois ou três minutos e ser substituído por outro do mesmo nível».
Regressando à questão financeira, pensamos que as entradas nos jogos poderiam reduzir o problema, se houvesse pavilhões com maior capacidade, como acontece nas cidades vizinhas. Disse-nos o nosso entrevistado que, na época que agora terminou, foram castigados com jogos à porta fechada, por causa da sobrelotação.
E continuou: «O Pavilhão da Boavista estará pronto, se tudo correr bem, em dezembro, mas terá menos de 500 lugares. Entretanto, o primeiro jogo está previsto para 8 de setembro. Quer isto dizer que vamos jogar a primeira volta no Pavilhão Municipal, que tem cerca de 220 lugares apenas. Descontando os 10 por cento dos lugares que têm de ser cedidos à equipa visitante e as zonas de segurança, ficam disponíveis entre 160 e 170 lugares».
O «barlavento» começou a fazer contas a 200 ou 300 fãs a menos por jogo, a cinco euros cada um, e questionou sobre a possibilidade de usar o Pavilhão Arena, uma estrutura que comporta 3 mil espetadores e que poderia, com facilidade, acolher todos os que vão desejar ver os jogos, tanto mais que o futsal está a cativar cada vez mais público.
É, neste momento, a segunda modalidade mais praticada em Portugal.
«Não está preparado, pois não tem piso. No caso dos jogos contra o Sport Lisboa e Benfica ou o Sporting Clube de Portugal, que são transmitidos em canal aberto, é a própria televisão quem coloca o piso e tudo o mais necessário. Nos outros casos, teria de ser o Portimonense Sporting Clube ou a Câmara Municipal de Portimão a alugar o piso».
Pedro Moreira confidencia, com mágoa, que «não querendo ofender ninguém, acho que falta cultura desportiva nesta cidade. É necessário pensar em mais pavilhões para competição, onde também pode haver recreação e formação, do que apenas locais para recreação. Se temos 700 ou 800 pessoas interessadas em ver os jogos, porquê construir pavilhões com 300 ou 400 lugares? Conheço um pouco do país e posso dizer que os nossos pavilhões estão entre os mais pequenos para competição, a nível nacional. Durante cinco anos, jogámos num pavilhão com 280 lugares!», compara.
A terminar, o Mister Futsal portimonense ainda diz, em jeito de desabafo: «cada vez mais, temos de tirar os nossos filhos dos telemóveis e da Internet e pô-los a praticar desporto. Para que tal aconteça, temos de arranjar condições para que eles possam praticar».