«Nasci mulher num tempo em que as mulheres ainda eram, como princípio, apenas mulheres. Exceções à regra já havia. Mas não era fácil. E eram poucas. Desde sempre, fui avessa ao que deve ser, só porque deve ser. Na escola e no liceu fui afirmativa, mas não rebelde. Nunca deixei passar o que achava errado, até prova em contrário. Mais tarde, e para espanto de muitos, sempre me recusei a tomar parte das lutas pelos direitos da mulher, não aceitando que mulheres e homens fossem realidades diferentes. A essência é a mesma. São pessoas. A diferença está nos detalhes e é bom que assim seja», começou por dizer a autora, numa apresentação curta, mas suficiente para emocionar a maioria dos presentes que encheram a sala de conferências do Hospital Particular do Algarve, em Alvor.
«Sempre defendi o direito a ser diferente, a ser uma pessoa única e, por inerência, os direitos dos outros a viverem cada um a sua vida, a seu modo, que não o nosso. A vida é, de facto, um mosaico de todas essas igualdades e diferenças, de coisas de tudo, que são, muitas vezes e apenas, pedaços de nada. O que vou escrevendo surge de muitas vidas que pela minha foram passando. De tudo e nada, que fui vendo e sentido à minha maneira, e por isso única», explicou.
Maria Alice Serrano e Silva revelou que decidiu dar agora à estampa os seus escritos motivada pela opinião de Albano Martins, amigo de longa data. O poeta não pôde estar presente, mas fez-se representar pela filha, Isabel Martins, que recitou o poema «Entardecer na Praia da Luz» e leu um trecho da nota introdutória da obra, assinada pelo pai. «Há uma grande tradição na literatura portuguesa, de médicos verterem na literatura as suas vivências e experiências, como são exemplo Torga, Namora, Santareno. Mas neste livro, Maria Alice leva os seus textos a uma dimensão quase poética», leu.
Fábio Nobre, representante da Chiado Editora, especializada em publicar obras de autores portugueses contemporâneos, com uma média de 30 títulos editados por mês em várias áreas, sublinhou que é a segunda apresentação que faz no HPA (a anterior foi em Gambelas, Faro). «Isto significa que nós, enquanto região, estamos mais ligados à cultura do que o resto do país pensa. E vamos revoltando contra essa ideia que o Algarve é só sol e praia», disse, sublinhando que a obra vai estar disponível no mercado livreiro do Brasil, no âmbito da internacionalização que a editora lançou em 2010.
João Bacalhau, presidente do Conselho de Administração do Grupo HPA, manifestou o seu contentamento por acolher a iniciativa. «Depois de ver a Maria Alice fazer todo um percurso interessante em termos de medicina, em colaboração com o HPA, ao longo destes anos, fico sensibilizado por ter escolhido esta sala para fazer a apresentação do seu livro e no mês em que o HPA comemora os seus 20 anos. Esta faceta que é nova, faz parte das três coisas importantes que se devem fazer na vida. Espero que seja o primeiro de muitos livro», concluiu.
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«Coisas de Tudo, Pedaços de Nada»
Maria Alice Pestana Serrano e Silva
Chiado Editora | Março de 2016 | 220 páginas
ISBN: 978-989-51-6997-9 | 15 euros