Taquelim Gonçalves, empresa familiar de Lagos modernizou a produção e tem mais de 50 sabores no catálogo. Também faz gelados personalizados para a restauração.
Talvez seja uma das mais tradicionais e conhecidas casas do comércio tradicional de Lagos e que ainda permanece na família que a fundou em 1936. A Casa de Doces Regionais Taquelim Gonçalves, situada mesmo ao lado do Mercado da Avenida e a poucos metros do D. Sebastião do escultor João Cutileiro, ganhou fama pelo Dom Rodrigo, um ex-líbris intemporal da doçaria algarvia, confeccionado com ovos, amêndoa, canela e tostado em calda de açúcar.
Em 1964, contudo, o então proprietário decidiu comprar as primeiras máquinas de gelado soft que vieram para Portugal, segundo conta Paulo Rosário, genro do fundador e atual gerente, uma novidade que faz as delícias de gerações e se tornou uma iguaria imperdível para os turistas. Mais tarde, a partir da alvorada da década de 1990, a empresa começou a produzir gelados de cuba.
Em 2020, a gerência decide avançar com uma candidatura ao Programa de Apoio à Produção Nacional (PAPN) para a modernização do processo de produção e fabrico de gelados e também para melhorar a eficiência energética, neste caso, através da instalação de painéis fotovoltaicos no telhado do edifício. Um passo fundamental, contudo, foi a aquisição de uma máquina de produção de gelados topo de gama, orçada em 50 mil euros, cuja compra foi comparticipada a 40 por cento pelo Programa Operacional Regional CRESC ALGARVE 2020. «Agora podemos fazer um pouco de tudo», diz Paulo Rosário, ladeado pelo filho Rui Taquelim, responsável pela produção da geladaria.
No que toca aos gelados de leite, os ingredientes-base são o açúcar, as natas e o necessário estabilizante para suavizar a mistura, feita a -16° graus. Paulo Rosário aprendeu com o sogro a fazer os gelados soft, que eram confeccionados a partir de pastas importadas de Itália. A nova máquina já tem uma série de opções computadorizadas e programas pré-definidos que aumentam a produtividade e permitem até fazer monodoses. «Estamos a preparar-nos para introduzir uma gama de gelados para take-away e também uma linha de alimentação saudável, com zero por cento de açúcar. O gelado é igual, mas a parte da produção é diferente», tendo em conta o mercado a que se destina.
Na prática, o que muda é apenas a percentagem de ar acrescentada. «O que acontece é que se levarmos um gelado artesanal para casa e o metermos num congelador doméstico (de três estrelas, a -18°), ficará muito duro na hora de consumir. Esta máquina permite aumentar essa percentagem para cerca de 50 a 60 por cento de ar, que é o que acontece nos gelados industriais, que são mais fáceis de consumir na hora. Esta máquina já nos permite fazer isso», embora mantendo todas as características de pequena produção.
«Temos uma série de restaurantes com quem trabalhamos e que nos pedem linhas gourmet, feitas à medida para as suas sobremesas e pratos. Estamos a fazer, por exemplo, gelado de abóbora, para um menu especial. Com este método, os chefs conseguem tirar o gelado das arcas convencionais e fazer bolas» fáceis de manusear e prontas a servir, com sabores personalizados.
Ainda assim, a tradição está bem presente. «Continuamos a trabalhar com o figo, a amêndoa e a alfarroba do Algarve», garante. E continua a aposta nos sorvetes, cuja base é água e fruta local. Hoje, existe produção de amoras e mangas, por exemplo, no eixo Faro – Olhão, fornecedores locais que permitem a preparação de gelados sem adição de quaisquer conservantes. «Preparamos a fruta, trituramos» e através da ultracongelação, a matéria-prima mantém-se disponível e em stock para todo o ano. Até porque a mentalidade e as tendências de consumo têm mudado.
«Há cerca de 10 anos, após o verão, parávamos a produção. Hoje, reduz-se, mas continua sem parar. As pessoas mudaram os hábitos, talvez por causa dos estrangeiros e a verdade é que se comem gelados o ano inteiro!», diz Rui, que se prepara para rumar a Itália onde frequentará uma formação.
Para já, tem receitas para mais de 50 sabores diferentes. «Temos três arcas, cada uma pode levar cerca de 20 cubas e os sabores estão sempre a rodar. Está tudo certificado com os devidos prazos de validade (PT GOP 050 CE)», acrescenta.
O próximo desafio será a erradicação dos plásticos descartáveis de utilização única. «Estamos a estudar várias possibilidades, sobretudo contentores de cartão», que podem ser adaptados aos vários perfis de cliente. Em termos de fatura energética, os 18 painéis solares garantem cerca de cinco por cento de autonomia num consumo de 100 por cento.
No mês de agosto, «produzem 1259 kWh e nós gastamos cerca de 26 mil», diz o empresário, que tal com outros congéneres enfrenta a inflação e a subida galopante dos custos de produção.
Sobre a candidatura aos fundos europeus, Paulo Rosário diz que o fornecedor do equipamento fabril facilitou o trabalho burocrático e pensa concorrer de novo ao futuro quadro 2030, desta vez com «um programa específico» para que a tradição continue a perdurar e a deliciar as gerações vindouras.
PAPN no Algarve vale 9 milhões de investimento
O Programa de Apoio à Produção Nacional (PAPN) já aprovou, até dezembro de 2022 no Algarve, 69 projetos, que representam um investimento total de nove milhões de euros, com um apoio de 3,8 milhões de euros de fundos europeus.