Mármore, calcário e alta tecnologia em Alcantarilha

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Fonseca & Fonseca, Lda, empresa familiar com sede em Alcantarilha, apostou em equipamentos digitais de ponta para trabalhar a pedra.

A visão de uma grua amarela ladeada por blocos de mármore junto à rotunda de Alcantarilha, no nó de entrada e saída para a Via do Infante, acaba sempre por atrair o olhar de quem por ali passa.

É a sede da Fonseca & Fonseca, Lda, empresa fundada no início da década de 1970 por dois irmãos, e que hoje continua a ter o cariz familiar de sempre. Distingue-se das congéneres pela aposta na tecnologia de ponta, segundo conta Jorge Fonseca, que assume a liderança em conjunto com a irmã Carmelita Fonseca.

Trabalham sobretudo o mármore de Estremoz e os calcários da zona centro, como a famosa pedra de Moleanos, extraída na zona de Batalha e Aljubarrota para o sector da construção civil. «Fornecemos pavimentos, peitoris, soleiras, degraus, de tudo um pouco. Também fazemos muitos trabalhos decorativos», cada vez mais com designs modernos que aproveitam os veios naturais da pedra para criar padrões contemporâneos.

Em 2007, a empresa apostou na sua primeira máquina CNC, então única no Algarve, para otimizar a produção.  Na altura, o objetivo era continuar a modernizar e a substituir os meios mais antigos, contudo, «vem a crise e fez-nos andar para trás. Quando começou a haver trabalho, de novo, havia medo de investir, pensando que poderia vir uma nova crise», que foi particularmente dura nesta atividade.

«Foi. Tínhamos clientes que eram pessoas sérias e com quem trabalhávamos há muitos anos. De repente, os bancos cortaram o financiamento e não se aguentaram», lamenta.

Neste momento, o mercado recuperou «e está a funcionar muito bem. A construção é sempre por ciclos, há quem preveja abrandamento, mas para já não sentimos nada». Prevendo estes ventos favoráveis, em 2021, a empresa concorreu ao Programa de Apoio à Produção Nacional (PAPN) com um projeto para a compra de equipamentos modernos, com tecnologia CNC de última geração, essenciais para a transformação e acabamento das obras por medida, aproveitamento de desperdícios, acabamento com precisão e qualidade, financiados com contribuição comunitária de 40 por cento através do FEDER, no valor de 93.668,80 euros.  

«Estamos muito satisfeitos. Só pecou por vir tarde. Com o apoio dos fundos europeus, decidimos comprar duas máquinas em vez de uma, que era o nosso objetivo inicial. Foi a melhor decisão. Têm a vantagem de cortar qualquer tipo de formato. Cortam em redondo, cortam peças fora de esquadria, com vários ângulos, tudo. Coisas que antigamente tínhamos de desenhar e cortar à mão», com algum risco e dificuldade. Neste caso, as máquinas, de origem italiana, são a Donatoni JET 625, uma fresa de ponte de controlo numérico com cinco eixos interpolados, relativamente simples e compacta, ideal para a produção de bancadas de cozinhas, bancadas para casas-de-banho, bases de chuveiro e revestimentos em geral em mármore, granito e pedra artificial, destinados ao sector da construção.

E a Donatoni D725, também bastante flexível, indicada para a produção de diversos tipos de produtos, como bancadas para lavatórios, bases de chuveiro, incisões, baixos-relevos e revestimentos em geral, permite ainda realizar diferentes processamentos, como corte, fresagem, perfuração, moldagem e, com acessórios, pode fazer vários trabalhos em simultâneo, sem precisar deslocar a peça da bancada de trabalho ou parar a máquina por um longo período.

E como foram aceites pela equipa? «Temos um jovem que começou a trabalhar connosco seis meses antes da chegada destas novas máquinas. Era o menos experiente, mas curiosamente foi o que mais depressa se adaptou» à nova tecnologia. No início, o equipamento foi olhado de lado.

«Assustaram-se. Viram um computador para cortar pedras e pensaram que não iam entender nada daquilo. Assim que começaram a experimentar, passado um mês, já estavam todos integrados. Esse rapaz novo foi uma grande ajuda, porque enquanto trabalha serve de formador aos colegas. Agora já ninguém quer trabalhar com as outras máquinas! Este trabalho pesado e difícil, acaba por se tornar atrativo» graças à tecnologia.

Com tanta oferta no mercado, e com as atuais tendências na arquitetura, os projetos ainda querem pedra? «Sim. É verdade que há cada vez mais quem opte por materiais alternativos, mas não são tão resistentes ao tempo. A pedra é sempre única» e não está sujeita à obsolescência programada ou às oscilações do mercado. 

Por fim, Jorge Fonseca volta a sublinhar o apoio dos fundos europeus.  «Foi muito importante. Agora conseguimos produzir mais, com mais eficiência, em menos tempo e com menos esforço do pessoal. O trabalho fica preciso e a produção é duas a três vezes mais rápida».

PAPN no Algarve vale 9 milhões de investimento

O Programa de Apoio à Produção Nacional (PAPN) já aprovou até agosto de 2023, no Algarve, 68 projetos, que representam um investimento total de 9, 2 milhões de euros, com um apoio de 3,8 milhões de euros de fundos europeus.