Etiqueta da marca FANATIK já veste coletividades e clubes não só por todo o Algarve, mas também em outras regiões do país, e tem cada vez mais procura no segmento das fardas de trabalho.
Começou por brincadeira, em Portimão, e já soma algumas centenas de milhares euros de investimento. A história começa quando o casal César e Célia Santos trocaram o Barreiro pelo Algarve, em 2013.
Ele veio trabalhar na área da gestão de saúde, ela professora de Educação Visual e Tecnológica (EVT) que, por não ter conseguido transferência para Portimão, acabaria por se desvincular, de forma a manter a família unida, após 20 anos no ensino.
«Quando vim, um amigo nosso disse-me: leva um catálogo da JOMA», marca de equipamentos desportivos, que «por brincadeira, comecei a vender a clubes e coletividades. Entretanto, pedimos a representação e montámos uma pequena loja», próxima do município, recorda Célia.
«Mas como continuei a trabalhar com associações, começaram a surgir pedidos de personalizações» e de material feito à medida. Na altura, «comecei a ficar dependente de terceiros para os bordados e estampas e em pouco tempo conclui que teria de ter controlo sobre todo o processo», recorda.
Então, «mudámos para um espaço maior, na Rua do Comércio, junto à Alameda, onde investimos numa máquina bordadeira de uma cabeça, numa prensa e numa pequena plotter», em 2016.
«Cheguei a passar noites inteiras com o meu filho Miguel a bordar e a prensar para dar conta das encomendas», lembra. E «pensando um pouco no futuro, resolvemos criar também uma marca, a FANATIK».
Segundo César Santos, «foi inspirada na figura do adepto, aquele que veste a camisola e o boné com o emblema do clube do coração. Fizemos logo várias parcerias com o Benfica, Porto, Sporting e com o Portimonense. E com a Federação Portuguesa de Futebol. Tínhamos muito merchandising dos clubes na loja e começámos, também, a desenvolver alguns projetos com entidades locais», por exemplo, o Autódromo Internacional do Algarve (AIA).
Um problema inesperado, contudo, viria do outro lado do Atlântico. «Tivemos um conflito com uma empresa americana cuja marca tem uma fonética semelhante à nossa. Tivemos de contratar um advogado especializado» em direito de propriedade industrial para resolver o problema. «Nunca quisemos desistir do nome FANATIK e hoje já é conhecido», diz o gestor.
Além do material desportivo, «começámos também a comercializar as fardas de trabalho e a entrar em hotéis, restaurantes, colégios, clínicas, empresas de construção civil e entre outras, das mais variadas áreas de atividade», aponta.
E com isso, despontou todo um outro ritmo de trabalho. «Sim. Surgiu a necessidade de criarmos mais condições para responder atempadamente» às encomendas. Tal como tinha acontecido com os bordados, «fomos crescendo», mas faltava a componente da sublimação têxtil. Explicado de forma simples, é uma técnica de impressão que torna possível reproduzir qualquer tipo de desenho, sem limites de cores, em peças de vestuário a partir de uma malha branca. «Trabalhávamos em parceria com outra empresa na área da sublimação, e por isso, eramos apenas um intermediário», lembra Célia.
Então, o casal decidiu concorrer ao Programa Operacional CRESC Algarve 2020, através do Programa de Apoio à Produção Nacional (PAPN) para implementar um novo processo de estampagem digital e instalar capacidades de confeção própria. Foi ainda necessário encontrar e adaptar um novo espaço para o efeito, que ainda está por concluir.
«Tudo isto tem uma grande parte de tecnologia. Além das máquinas, fizemos um investimento muito grande em software específico», acrescenta César Santos. Feitas as contas, a candidatura rondou os 200 mil euros, uma parte significativa do que o casal já investiu nesta empresa, denominada Success Weekend, Lda.
O gestor sublinha que se tratou de uma opção estratégica. «Concorremos ao PAPN com o compromisso de contratar mais duas pessoas. Acabámos por contratar mais quatro e estamos a precisar de um segundo designer e de mais uma costureira. E contamos muito com o apoio dos nossos filhos, o Miguel que nos ajuda no design dos bordados e o Rafael, que assume o marketing e a comunicação da empresa e que também dá uma ajuda no processo produtivo da sublimação têxtil, operando vários equipamentos. Provavelmente, se não tivéssemos tido este apoio, não teríamos ainda avançado. Até porque todo o processo surgiu durante a pandemia. Conseguimos uma pontuação máxima de 4,48 em cinco e, por isso, obtivemos 40 por cento de apoio do investimento elegível, isto é, a majoração máxima», sublinha César Santos.
«Esta é uma atividade que ajuda a diversificar a economia do Algarve e tem também uma grande componente de inovação. A banca acreditou em nós e, felizmente, correu bem».
Tentativa, erro e sucesso
Célia Santos é a empreendedora e impulsionadora da FANATIK. Não esconde o entusiasmo pelo processo de sublimação, a funcionar desde junho último. «Podemos escolher o tipo de malhas, criar qualquer design ou padrão, e escolher os tamanhos das peças a fabricar, que são cortadas a laser com precisão. Depois, juntamos tudo e fazemos a confeção e acabamento de cada peça individual de vestuário».
«As primeiras que fizemos foram os equipamentos da equipa da Faculdade de Motricidade Humana que representou Portugal no Campeonato Europeu de Basquetebol Universitário em julho do ano passado. Como era uma equipa de Lisboa, usámos elementos da cidade para inspiração», como a Torre de Belém e a Ponte 25 de Abril.
«Ficaram muito giros e a prova é que temos vendido bastantes, especialmente as camisolas. Os turistas que por aqui passam gostam e acabam por comprar», revela.
Há ainda outro motivo que justifica esta aposta. «Porque é que a sublimação está a ganhar tanta importância no nosso projeto? No caso do universo desportivo, porque estamos a falar de peças únicas sem o peso dos bordados e da estampagem» adicional, por exemplo, das marcas de patrocinadores» das equipas.
«Quando os clubes trabalham com marcas oficiais, isso pode vir a criar dificuldades porque ao final de pouco tempo há modelos que são descontinuados e torna-se muito difícil repor uma peça. Aqui isso não acontece. Fica tudo registado na nossa base de dados. Há memória e tudo é replicável», compara.
Além disso, com esta técnica, «podemos entrar também no mundo da arte decor, criar cortinados, toalhas, quadros, … há todo um mundo por explorar», afirma.
Questionada sobre qual o segredo do sucesso que tem alcançado, a empresária justifica com simplicidade: «tem sido sempre através de boca a boca. Acho que consigo criar uma boa relação com as pessoas. Tento ser o mais honesta e o mais clara possível e quando me comprometo com prazo, tento não falhar. As pessoas têm valorizado isso e reconhecem a qualidade do nosso produto».
Já o preço, «não é inferior nem superior ao que existe no mercado. É diretamente proporcional à qualidade dos nossos produtos. Tento auscultar e igualar, a concorrência é muita», sobretudo no norte do país, onde existe a grande parte da oferta.
«Que saibamos, a empresa mais próxima que apresenta uma tecnologia de sublimação parecida à nossa está instalada na Margem Sul», compara César.
E por fim, considere-se o fator satisfação. «Estou a fazer as fardas para a cozinha do refeitório de uma empresa conhecida de Portimão. Quando lá fui tirar as medidas às senhoras, a pessoa que me contratou, disse: quero que elas se sintam bem, que se sintam felizes! Portanto, não vou assumir tamanho S, M ou L. Será a farda da Maria, a farda da Helena, e por aí fora», acrescenta Célia.
«Estamos agora num processo criativo para produzir saias para a prática de Ténis com um molde novo que nos foi proposto. Já o fizemos e refizemos várias vezes até chegar ao molde ideal que pretendemos, ao molde perfeito. Muito daquilo que fazemos é por tentativa e erro. Esta área tem uma curva de aprendizagem muito dura porque o caminho é solitário, embora exista muita partilha de ideias e conhecimentos entre os elementos da nossa equipa», remata.
Futuro está lá fora
O casal não esconde que o lucro está na escala e na diversificação da oferta. «Na região acabamos por ser das poucas, ou até mesmo a única empresa que consegue abranger o bordado, a estampa, a impressão direta tradicional, o vinil, o merchandising, um pouco de tudo», diz César.
«Ambicionamos exportar todo o potencial da tecnologia de sublimação para mercados onde somos competitivos. Estamos a entrar na comunidade empresarial portuguesa na Bélgica e não queremos ficar por aqui. Queremos escalar a atividade e podemos até distribuir para outras lojas, tornarmo-nos também fornecedores», ambicionam.
«É difícil comprar algo no Algarve que represente a região. Existem as miniaturas do Galo de Barcelos, o postal ilustrado, e até a Nossa Senhora de Fátima. É também nossa ideia trabalhar um conceito que as pessoas identifiquem como do Algarve, para que possam levar para casa algo mais que a saudade. Estamos a falar de peças exclusivas e diferenciadas, desde T-shirts, a polos e toalhas, mas de muito boa qualidade». No curto prazo, «embora as encomendas venham a conta-gotas já conseguimos chegar ao final do mês com as contas pagas». Durante o mês de junho será lançado o website da marca.
Sublimar para inovar
A sublimação têxtil é uma técnica de impressão que transfere uma imagem para um tecido através da utilização de tinta e calor. Todo o processo produtivo requer vários passos. Primeiro, a criação dos moldes e a criação do padrão/design em papel. Depois, é aplicado calor através de uma calandra ou prensa térmica que abre os poros dos tecidos. As tintas transformam-se em gás quando são aquecidas e combinam-se diretamente com o tecido. Por sua vez, uma máquina de corte a laser reconhece os contornos dos moldes e fatia o tecido com precisão, cortando as várias partes que irão formar um todo, depois de cosidas em máquinas de costura alimentadas a ar comprimido.
O processo sobrevive a dezenas de lavagens e não é necessário um lote muito grande para se agilizar a operação. A equipa da FANATIK, que soma já seis pessoas, tenta ser eficiente nos consumos energéticos e apenas liga a calandra quando há um número de trabalhos que justifique pré-aquecer a máquina, que demora cerca de duas horas a atingir 200º C. Os tecidos onde os designs são impressos devem ser de poliéster para tornar a impressão permanente.