Aquashow indoor, primeiro parque aquático coberto da Península Ibérica aposta num sistema inovador de Gestão Técnica Centralizada (GTC) desenvolvido no Algarve para poupar energia e água. No futuro, através da captação de água do mar, será autossustentável.
A ideia era antiga e ambiciosa: arranjar uma forma eficiente de manter o parque aberto ao longo de todo o ano e não apenas durante seis meses (de maio a outubro).
«No inverno, o Aquashow fica vazio e temos de dispensar as pessoas para as voltar a contratar no verão. Por isso, sempre tivemos vontade de continuar a trabalhar durante a época baixa. Sabíamos que era preciso criar algo novo» de raiz.
«Até aqui, tivemos de nos focar no parque exterior. Não foi possível investir ao mesmo tempo num espaço fechado. Só quando sentimos que o parque lá fora já tinha todas as condições, uma boa capacidade de resposta e uma procura elevada, é que começámos a pensar no indoor», resume Celestino Santos, um dos responsáveis da empresa familiar Celoli, proprietária do Aquashow, em Quarteira.
Depois de três anos de obras complexas, por se tratar de um projeto sem precedentes em Portugal e, como tal, sem legislação específica, que ainda coincidiram com todos os constrangimentos da pandemia, o Aquashow indoor inaugurou a 20 de outubro último, com capacidade máxima para 1500 clientes diários, 600 em simultâneo, e com uma oferta de diversões para todos os gostos e idades que vai muito além de apenas piscinas aquecidas.
O projeto foi desenhado pela Amusement Logic, empresa espanhola, que uniu as ideias da Celoli ao seu conhecimento técnico. As especialidades foram desenvolvidas em conjunto com os projetistas, sendo que a construção civil e as instalações técnicas especializadas ficaram a cargo da Rolear.ON, empresa algarvia que já trabalha com o Aquashow há vários anos, tendo sido responsável pela obra do hotel, que abriu portas em 2011.
Gestão Técnica Centralizada (GTC) integra todos os sistemas
O Aquashow Park Indoor funciona de forma autónoma do parque exterior. As piscinas temáticas têm mais de 1000 metros quadrados (m²) de espelhos de água, sendo que o volume total de água aquecida ronda os 1200 metros cúbicos (m³), com uma potência elétrica instalada para a sua manutenção de 500 kW (kilowatts). Tudo isto é necessário para manter em funcionamento o parque aquático cuja água está acima dos 31°C (Celsius) e a temperatura ambiente a rondar os 30°C.
A principal inovação é um sistema de Gestão Técnica Centralizada (GTC), criado pela Rolear.ON, que integra todos os equipamentos do parque e que permite otimizar toda a operação, da forma mais eficiente possível.
«A preocupação que tivemos desde o início foi a sustentabilidade. Os preços estão a subir e temos receio que os recursos escasseiem no Algarve. Tivemos de pensar muito nos custos e nos consumos. Todos os equipamentos teriam que ter uma eficiência energética muito elevada. Por exemplo, não podemos gastar a mesma quantidade de energia no inverno como no verão. Por isso, todos os parâmetros são calculados conforme a ocupação do parque , através do GTC», refere Celestino Santos.
«Em relação à parte técnica, foi um grande desafio. Estamos a falar de potências envolvidas muito grandes. Integrámos tudo no GTC e é dessa forma que conseguimos atuar com grande precisão. Esta tecnologia de última geração permite-nos também ir sempre melhorando o desempenho, porque temos um efeito-resposta imediato», explica o engenheiro da Rolear.ON, Gaspar Pedro.
Na prática, é o GTC que mantém todo o sistema vivo e ativo. Permite ligar e desligar bombas, programar horários, controlar temperaturas, níveis de humidade e de iluminação e até detetar e diagnosticar anomalias. Da eletricidade aos equipamentos a gás, como as caldeiras, tudo é controlado por este sistema computadorizado.
A principal vantagem, contudo, talvez seja mesmo a poupança de água. «Todas as bombas têm determinadas potências, mas não precisam de trabalhar sempre a 100 por cento. Com o GTC, conseguimos definir as percentagens necessárias para a operação, sem desperdiçar energia. Ou seja, conseguimos fazer tudo funcionar consoante as necessidades do momento», explicita o responsável da Celoli.
O indoor não se fica por aqui. Dado os níveis de humidade dentro do espaço, o vapor gerado tem de ser retirado através de unidades de desumidificação, localizadas no topo do edifício, que, por si só, produzem bastante calor. Esse mesmo calor é reciclado para ajudar no aquecimento da água das piscinas e dos duches. «A energia que utilizamos para aquecer as piscinas, é proveniente dessa mesma temperatura que, de outra maneira, se perdia», justifica Celestino Santos.
Lavagem de filtros recicla água
A aposta mais recente é um sistema de reaproveitamento da água de lavagem de filtros das piscinas, uma máquina de fabrico alemão que vai permitir uma poupança de 75 por cento de toda a água utilizada, representando uma poupança efetiva anual de 10 mil m³, e ainda uma redução no uso de energia.
Com este sistema, a água de lavagem dos filtros que habitualmente seria rejeitada para o esgoto, é então aproveitada através de vários processos: «decantação, ultrafiltragem e tratamentos químicos, para sair limpa e com temperatura a 30°C. Depois, volta a entrar no sistema. Ou seja, a água com que lavamos os filtros, em vez de ir toda para o esgoto, só vai 25 por cento, porque a restante é aproveitada», detalha o engenheiro Gaspar Pedro.
Além disso, «também poupamos o equivalente em temperatura. Como a máquina permite que a água volte a entrar no sistema já quente, não é necessário aquecê-la dos 15 aos 30°C e utilizar energia para isso mesmo. Isso resulta, em termos ambientais, numa poupança de 50 toneladas de dióxido de carbono por ano», completa.
Outro equipamento inovador que também permite tanto poupança de energia como de água, é o soprador de lavagem de filtros. Os detritos normais, como areias, que são recolhidos das piscinas, ficam alojados nos filtros, tornando a sua limpeza mais difícil. Um soprador que injeta ar nos filtros, «faz com que as areias se juntem, facilitando a limpeza e diminuindo a quantidade de água necessária para tal fim. Só isso permite uma poupança de cerca de 70 por cento de água, porque quanto mais água quente rejeitarmos, mais água fria temos de repor e mais energia gastamos. Queremos a água em condições para a lavagem de filtros, mas queremos poupá-la ao máximo. Assim, este soprador permite poupança de ambos: água e energia», explica.
No topo do edifício do parque aquático interior, além das sete unidades de desumidificação, há ainda 60 painéis solares térmicos que permitem aquecer a água. Além disso, há sistemas redundantes, como bombas de calor de 700 kW e duas caldeiras de 600 kW a gás natural que têm também a mesma função.
«Ou seja, se tivermos algum problema com a eletricidade, podemos aquecer a água com os painéis solares ou com o gás natural. E se tivermos problema com este último, temos sempre a eletricidade e os painéis. Isto significa que não estamos dependentes apenas de uma fonte de energia para aquecer a água, podemos fazer a gestão com o GTC, consoante o custo da fonte de energia que for mais vantajoso. Aproveitamos tudo», assegura o proprietário.
Futuro passa pela dessalinização
Já são vários os procedimentos que permitem ao Aquashow indoor poupar no gasto do recurso hídrico. Ainda assim, os planos para o futuro vão ainda mais longe. Tendo em consideração a disponibilidade cada vez mais limitada da água na região algarvia, a ideia passa pela autossutentabilidade, através de um processo que já está em curso.
«Queremos captar a água do mar através de um furo e canalizá-la para as nossas piscinas. Essa será a primeira fase. A segunda fase passa também por fazer a dessalinização dessa mesma água e aproveitá-la para consumo humano, restauração e balneários», diz Celestino Santos.
«Este parque é uma fábrica em que a matéria-prima é a água, as pessoas e a energia. Energia ainda vamos gerando, mas a água é escassa. Com este projeto, contemplamos a captação da água do mar e a rejeição de uma determinada percentagem. Uma parte dessa água, será para as piscinas, que serão de água salgada, com o tratamento normal, e outra parte seria para osmose inversa, tratamento de desinfeção e remineralização», detalha o engenheiro da Rolear.ON, empresa que também está responsável pelo ambicioso projeto.
Uma história de sucesso
O Aquashow Park, localizado em Quarteira, há já vários anos que é o maior parque aquático em Portugal, com escorregas, piscina de natação, piscina de ondas, montanha russa aquática, espetáculos e diversas atrações para todas as idades. Todos os anos, a empresa Celoli – Actividades Turísticas, detentora do equipamento desde 1999, tem apostado na inovação e em novidades constantes. O mais recente escorrega Mammothblast, o maior de todos, é o único com boias para cinco pessoas. Tudo isto tem tornado o Aquashow uma referência no sector, tanto a nível nacional, como ibérico, passando de uma média de 400 clientes diários há 20 anos, para os 7 mil que já se contabilizavam na última época alta.
Em 2011, a Celoli voltou a marcar a diferença, com a inauguração do hotel de quatro estrelas, a poucos metros do recinto, mas foi no ano de 2015 que se começou a desenhar um projeto que levou sete anos a estar concluído, o Aquashow indoor.
«O que tentámos fazer foi criar ofertas para todos, desde os bebés, aos seniores, passando pelas pessoas com mobilidade reduzida. O objetivo é que todos se possam divertir neste espaço. O inverno é longo e temos muitas famílias e turistas que nos procuram. Portanto, quisemos criar atividades para todos, sem exceção», garante Celestino Santos.
Assim, dividido por dois pisos, numa área total de 8 mil m² entre zonas técnicas e piscinas, o espaço coberto contempla diversas piscinas temáticas (relax, bebés, infantil, ondas e aventura), todas capacitadas para pessoas com mobilidade reduzida, a Ilha da Aventura (para toda a família) e os cinco escorregas, sendo o ex-libris o Tornado, com 188,68 metros de cumprimento e um declive médio de 12,5 por cento, com 60 pontos de luz e sistema de som para proporcionar música numa aventura para boas de quatro pessoas. Pelo meio podem ainda encontrar-se rochas que desvendam cascatas, canhões de água, paredes de escalada, argolas e piscinas com borbulhas.
Há ainda o Spa, «que deve ser um dos melhores do país», segundo o responsável, com banho turco, termas, espaço de massagens, sauna, jacuzzi, zona gelada, duches diversos e fish spa. «Está muito completo, porque queríamos fazer algo único e diferente daquilo que os hotéis oferecem e com um tamanho maior», explica.
No primeiro piso, além da zona de café e restauração, de entrada livre e com vista privilegiada para a piscina de ondas exterior, há ainda uma zona de Playground com escorregas, trampolins, piscina de bolas e slide, a pensar nos mais novos. Mas não só. O Desafio do Céu é outra das atrações do indoor. Trata-se de uma zona de obstáculos elevados, estilo arborismo, que passa por cima das diversas piscinas e está adaptada para pessoas até 1,95 cm. «Tudo isto faz do Aquashow indoor único na Península Ibérica. Não existe mais nenhum interior e este é mesmo único. Quem passa lá fora nem imagina o que temos cá dentro. É preciso mesmo vir conhecer», desafia Celestino Santos.
O Aquashow Park Indoor está aberto todos os dias, das 10h00 às 19h00, incluindo feriados, e tem bilhetes de uma, duas, três e quatro horas, sendo que o Desafio do Céu e o Playground carecem de ingresso extra.
Apoio do CRESC ALGARVE 2020
A empresa familiar Celoli teve um investimento elegível de 13,5 milhões de euros que contou com um incentivo do Programa Operacional CRESC Algarve 2020 de 2,6 milhões de euros.