Zoomarine espera atingir 300 mil visitas esta temporada

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Consequências da pandemia adiaram alguns planos do Zoomarine, mas o fundador Pedro Lavia acredita numa retoma no prazo de três anos e sublinha a importância do lazer e da conservação ambiental, mesmo num contexto adverso.

No ano em que o Zoomarine celebra o 30º aniversário, algumas novidades foram adiadas por aquilo que Pedro Lavia, empresário argentino de 80 anos, classifica como «inesperado e trágico. Foi muito triste, ver tanta gente por todo o mundo a perder a vida, o emprego, a normalidade. Em março de 2020, quando tivemos que fechar, nunca deixámos de pagar os salários. Não despedimos uma única pessoa e utilizámos todos os mecanismos que o governo nos disponibilizou. Podemos estar fechados, sem público, mas treinadores, veterinários e biólogos, têm de trabalhar todo o ano, pois os animais precisam de alimentos, as piscinas precisam de cuidados, o parque precisa de ser mantido. Com ou sem pandemia, há que trabalhar sempre para manter a vida por cá».

Para garantir os serviços, «colocámos as equipas a trabalhar em espelho, separadas por grupos, para que não se encontrassem».

Também foram instauradas medidas como o registo da temperatura na entrada, a desinfeção de todas as áreas e a higienização frequente das mãos. O pessoal que não era imprescindível cá ficou em teletrabalho», revela Pedro Lavia em entrevista ao barlavento.

O impacto pandémico, contudo, não se limitou ao funcionamento das áreas internas.

«Houve uma grande quebra de visitantes. Em 2019 tivemos 650 mil entradas, e vínhamos de um período de cinco anos em grande crescimento. Em 2020, as entradas rondaram apenas as 150 mil. Nem chegaram para cobrir os custos. Perdemos muito dinheiro, tivemos mesmo de renegociar algumas obrigações com os bancos, para fazer face a tudo isto».

Agora, a retoma será lenta, com Lavia a estimar um regresso aos níveis pré-pandemia apenas «daqui a dois ou três anos».

Para a operação de 2021, «fizemos um budget a contar com cerca de 300 mil visitantes. Sabemos que não depende apenas de nós. Está instalada uma grande crise, mas temos a noção que todos têm saudades dos momentos de diversão», diz o empreendedor que lembra: «nós vendemos alegria, diversão, e todos precisamos» de momentos de lazer, sobretudo com a família.

Com as portas abertas desde 19 de maio, o parque tem em vigor «todas as condições de segurança e distanciamento, graças à limitação no número de entradas vendidas diariamente».

Para o futuro, «se tudo correr pelo melhor», está prevista «a expansão das diversões aquáticas, um novo espetáculo de araras e uma área completamente nova que, por enquanto, ainda está «no segredo dos deuses», revela o administrador.

Também estão na calha «a substituição integral de todos os veículos a combustão por veículos elétricos, incluindo os autocarros», a continuidade dos projetos de intervenção educativa nas escolas e o regresso da iniciativa Montanha Verde, «que já plantou mais de 10 mil árvores por todo o Algarve» e vai, a partir de outubro, continuar a colorir a região de verde, incidindo, desta vez, nos terrenos da Universidade do Algarve, em Faro.

Tudo isto para contribuir «para o desenvolvimento de um Algarve paradisíaco e que evoluiu bastante», onde Pedro Lavia, que já se considera «um verdadeiro marafado», aterrou em 1988, com o objetivo «de ter um parque que fosse um orgulho para Portugal e uma referência para o turismo. E acho que conseguimos», conclui.

Combater as críticas «com educação» ambiental

O Zoomarine é, por vezes, alvo de críticas por manter animais em cativeiro e exibi-los em espetáculos de entretenimento coletivo.

Pedro Lavia, CEO do parque temático, desconstrói esta perspetiva. «É também um problema de ignorância. Todos os nossos animais são vistos muito regularmente por veterinários, fazem análises periódicas, num protocolo muito mais estrito que o seguido pelos seres humanos. Fazemos medicina preventiva. E não passam fome, como às vezes nos acusam. Recebem recompensas, nos espetáculos, porque as merecem, como qualquer animal. Mas são bem alimentados além disso», garante.

Questionado sobre eventuais castigos nos treinos, o CEO explica que «se houver alguma repreensão a fazer, os treinadores evitam o contacto visual, no fundo, como se faz com outros animais mais domésticos».

Lavia lembra ainda que uma parte importante e significativa do trabalho do parque tem a ver com a conservação do meio-ambiente, pelo menos, desde 2002, data em que abriu o Porto d’Abrigo do Zoomarine, à data, o primeiro Centro de Reabilitação de Espécies Marinhas do país.

«Todos os anos, recebemos e tratamos muitos animais selvagens, recolhidos na natureza, e não ficamos com nenhum. São tratados e quando estão em condições são devolvidos ao mar. Ajudamos a preservar muitas espécies».

Consciente de que «é quase impossível evitar esse tipo de críticas », o responsável máximo do Zoomarine considera que «a melhor forma de nos defendermos da desinformação é com a verdade».

Desde o primeiro dia que o parque conta com um departamento de educação ambiental dirigido às escolas (professores e alunos) e divulga com regularidade as devoluções dos animais recuperados ao habitat natural.

Além disso, lembra que «em 1985, na Europa, matavam-se e comiam-se golfinhos. Na Madeira fazia-se caça à baleia, nos Açores, vendia- se bife de golfinho, e em Itália o governo pagava aos pescadores por cada golfinho morto nas redes de pesca. Eu vi as maiores atrocidades com estes mamíferos também na América Latina. Para muitos, o golfinho era apenas mais um peixe. Só se começaram a preocupar quando perceberam que é um mamífero».

Segundo Pedro Lavia, o problema ainda existe. «Morrem, todos os anos, mais de 400 golfinhos em redes de pesca de atum. Ninguém diz nada. Se nós perdermos um golfinho, mesmo que esteja doente, como pode acontecer aos humanos, todos nos atacam. Mas temos a consciência do nosso objetivo. Queremos divertir e educar».

Projeto viajou do Rio de Janeiro para o Algarve

O CEO do Zoomarine, Pedro Lavia, recorda ao barlavento que «este parque ia ser construído no Rio de Janeiro. Era essa a ideia inicial, mas a inflação elevada e a complexa burocracia fizeram-nos vir para a Europa».

A partir daí, depois de uma passagem pelo Jardim Zoológico de Lisboa, «onde nos deram uma concessão e construímos um pequeno delfinário, com golfinhos e leões marinhos que trouxemos do Brasil», o destino foi o Algarve, em 1988.

«Ficámos admirados com as praias, com a riqueza da gastronomia, pensávamos que esta seria uma região de pescadores», admite o responsável.

Ao invés, «encontrámos uma infraestrutura enorme, com grandes hotéis e muitos aldeamentos. Escolhemos um terreno no centro da região. Inicialmente, queríamos ficar junto ao mar, mas era muito caro. Trouxemos os arquitetos que tínhamos no projeto do Brasil, redimensionámos e adaptámos o projeto à realidade algarvia», explica Pedro Lavia.

É que, no Rio de Janeiro, «o parque era destinado a uma cidade com 10 milhões de habitantes e cinco milhões de turistas. Aqui, inicialmente, foi feito a contar servir, aproximadamente, oito mil pessoas. O Zoomarine foi, então, erigido em 1991 na Guia, quase na fronteira entre os concelhos de Albufeira e Silves.

«Tinha apenas sete hectares, entre estacionamento, estádio das araras, delfinário e zona dos leões marinhos. Hoje tem 24 só de parque, e mais nove de expansão».