UAlg Tec Campus traz «desafios e benefícios para o Algarve e o país»

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Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Social, não escondeu a satisfação de ver inaugurado o UAlg Tec Campus, um exemplo de boa utilização dos fundos europeus, geridos na região.

A Universidade do Algarve (UAlg) já tem uma incubadora de empresas tecnológicas capaz de ombrear com as demais academias do país. O novo UAlg Tec Campus foi inaugurado com entusiasmo na tarde de ontem, terça-feira, dia 29 de março.

«Volto a dizer: este é um projeto liderado pela UAlg, mas que tem várias parcerias. Não teria sido possível sem o envolvimento da autarquia» e sem o financiamento da Europa. «Também não seria possível se não tivéssemos empresas disponíveis. É um projeto no qual temos uma aliança entre a academia e o conhecimento que estas empresas transformam em inovação, valor acrescentado, novas soluções para velhos problemas, novas soluções para novos problemas e temos aqui a prova com uma inauguração que já conta com 16 empresas e 300 trabalhadores», sublinhou a governante que continuará a liderar a pasta da Coesão Social no próximo governo.

Ana Abrunhosa destacou que «a maioria das empresas tem negócios internacionais, todos os trabalhadores são qualificados e uma parte destas também contou com apoios de fundos europeus para contratar os recursos humanos e para se constituírem. Não encontro melhor exemplo para aplicar fundos europeus. Temos um campus tecnológico, em que a academia com a comunidade, cocriam valor, conhecimento, inovação e isso torna este território muito mais desenvolvido. A partir do momento que temos empresas mais competitivas, que pagam melhores salários, as pessoas têm melhor qualidade de vida. E o objetivo último dos fundos europeus é fazermos diferente».

«Muitas das vezes temos empresários com múltiplos projetos, em que os promotores nos dizem que estamos a investir milhões, mas o mais importante é perceber que esse investimento tal como este campus da UAlg, vai trazer transformações no território. Que transformações? Novas empresas, empresas mais tecnológicas, empresas com trabalhadores mais qualificados, empresas que concorrem com outras empresas. Por sua vez, vão também desenvolver projetos com a Universidade que se vê obrigada a desenvolver novos métodos de ensino, nova investigação…isto é um projeto que não tem fim em termos de desafios e benefícios. Não é só para o Algarve, é para todo o país», sublinhou a ministra.

Por sua vez, Paulo Águas, Reitor da UAlg disse  aos jornalistas que o compromisso das empresas instaladas no novo UAlg Tec Campus passa por «receber estudos de doutoramento, por solicitar trabalho à academia na área da investigação e desenvolvimento. Apenas e tão só. É uma obrigação porque está no contrato e depois será avaliado».

O magnífico considerou que «o importante é voltarmos daqui a dois anos e ver o que aconteceu. Temos de dar tempo para fazer essa avaliação. Acho que a vida do campus vai mudar na Penha. Esta é uma área na qual a UAlg se quer posicionar para contribuir para o desenvolvimento regional, para termos uma região mais coesa, onde haja melhores condições para viver. É isso que pretendemos».

Paulo Águas disse ainda que «este espaço vai permitir uma nova etapa nas nossas vidas. Vamos ter um conjunto de empresas que vão respirar o campus da Penha, que se vão cruzar com os nossos professores e investigadores. Queremos que haja interação. Temos de ir além dos estágios e acho que vamos conseguir. Somos uma instituição ao serviço do país, mas com forte preocupação na região e queremos ajudar a requalificar a região. 33,8 por cento da população ativa do Algarve tem formação superior. Se a maioria dos nossos diplomados, dois terços, estão na região, alguns não ficam cá e ainda bem. Tem de haver mundo. Se não, como se formam as redes?».

Francisco Serra mostra as instalações.

«O que ficou provado recentemente é que quando temos regiões que as suas atividades económicas exigem trabalho mais qualificado, essas regiões são mais resistentes, sofrem menos com choques externos de grande impacto negativo. Temos de verificar que nos últimos 10 a 20 anos, o Algarve tem-se vindo a afastar e tem estado a perder terreno em termos de qualificação de mão de obra face ao resto do país», reconheceu.

Já Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, afirmou «a filosofia» na qual acredita. «Juntos, trabalhando em cooperação, somos mais fortes e, sendo mais fortes, podemos, com facilidade criar valor, diversificar a nossa base económica, apostar na preparação de melhores profissionais e criação de emprego qualificado, desenvolver todas as ferramentas que nos permitam não ficar dependentes das atividades tradicionais, como a hotelaria e restauração».

«Apostando na qualificação dos nossos profissionais e colmatando as necessidades sentidas na região, estamos a garantir que o futuro nos pode trazer mais negócios, empresas diferentes e cada vez mais ligadas ao digital, empresas competitivas, que contribuam para o êxito do Algarve», realçou o autarca farense.

«No fundo, o local que agora inauguramos é fulcral para que possamos todos trabalhar no sentido de impulsionar uma mudança favorável na economia e sociedade algarvias. Será a marca visível do lado tecnológico da nossa região, uma região que, pela voz dos vários intervenientes, quer e deve ser uma referência nacional e internacional no que toca à inovação, bem como no uso e criação das Tecnologias da Informação e Comunicação. «A bola, se assim posso dizer, está na mão de todos nós. Dos empresários, que precisam de apostar afirmativamente no apoio à Investigação e à Ciência; dos responsáveis da UAlg, que precisam de trabalhar em função das necessidades de formação da região; das entidades governamentais, que devem ser facilitadoras de coesão e aplicadoras rigorosas das verbas que possam existir; das autarquias, que devem assumir o seu papel enquanto entidades que podem e devem contribuir, de modo decisivo, na melhoria das condições de todos os que vivem e trabalham nas suas áreas de intervenção, tornando o território mais atrativo», concluiu o autarca farense.

Para o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, entidade que teve um papel fundamental na concretização do novo UAlg Tec Campus, «o ecossistema de Inovação na área digital está a mudar».

Para isso, em conjunto com a UAlg e com os municípios «estamos mobilizados e a fazer tudo ao nosso alcance para melhorar as infraestruturas no campus de Gambelas em Faro e no Barlavento, com um futuro campus de Portimão. Na região, a taxa de escolaridade do nível de ensino superior entre os 30 e 34 anos de idade é de 33,8 por cento. Em Portugal, a média nacional é de 40 por cento. Precisamos de nos mobilizar, de ter a ambição de chegar a 40 por cento até final de 2027».

Em relação às Pequenas e Médias Empresas (PME), «sejamos exigentes e coloquemos o foco no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o qual mobiliza 22 por cento do total de fundos para o target digital, destacando-se 650 milhões de euros na medida empresas 4.0. Esta é uma excelente oportunidade».

O evento contou ainda com a presença de autarcas e representantes de várias entidades e também de Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Política de Coesão e Reformas.

O UAlg Tec Campus – Aceleradora de Empresas da Universidade do Algarve tem como principal objetivo a dinamização e expansão do ecossistema tecnológico da região (Algarve Tech Hub), a nível nacional e internacional, para as áreas das tecnologias da informação, impulsionando uma mudança favorável na economia e sociedade a nível regional e nacional.

É cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional da União Europeia, através do Programa Operacional Regional do Algarve 2014-2020 (CRESC ALGARVE 2020).

O valor de investimento global, que engloba o UAlg Tec Campus e o UAlg Tec Health  – Centro de Simulação Clínica da UAlg, é de 7.245.515,60 Euros, com cofinanciamento pelo FEDER de 5.868.867,64 Euros e autofinanciamento de 1.376.647,96 Euros.

Atualmente, tem alojadas 16 empresas (nacionais e internacionais), com cerca de 300 colaboradores, numa área de cerca de 4.500 m².

Ministra deixou um apelo à união

«Este campus reforça o dinamismo desta universidade, enquanto espaço de saber e de saber que queremos transformar em inovação, riqueza e qualidade de vida, mas também enquanto ponte fundamental entre o conhecimento, a comunidade, a economia, a saúde, a cultura e a área social», disse ministra da Coesão Social, Ana Abrunhosa.

«Aqui no Algarve , e a pandemia e esta brutal guerra também ensinou-nos a missão de diversificarmos e modernizarmos a nossa economia, a sustentabilidade, a autonomia energética, a autossuficiência alimentar.  O Algarve,  cuja especialização é sobretudo no turismo, foi a região que mais sofreu, temos mesmo que fazer o caminho da diversificação da atividade económica».

«Isto não significa que o turismo seja uma atividade que vamos abandonar. Mas as monoculturas não são boas em qualquer situação. Temos de seguir novos caminhos, que se tornam mais fáceis com conhecimento científico, empreendedorismo, pessoas qualificadas e transferência de conhecimentos. É fundamental agora o envolvimento de todos: das empresas, empresários, estudantes, toda a comunidade, dos professores, dos investigadores, para fazerem este um verdadeiro ninho de projetos inovadores e uma casa de partida para um grande futuro para os nossos jovens cujo talento queremos que fique no nosso país. O mais fácil está feito e apelo para que trabalhem juntos e estudem juntos», pediu.

Alunos do curso de Artes Visuais protestaram em silêncio

A comitiva foi surpreendida por um protesto silencioso dos alunos do curso de licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UAlg, que com a conversão do complexo pedagógico em polo tecnológico perderam o seu principal espaço de trabalho e estudo e foram agora «isolados» nos serviços técnicos.

No seu discurso, o Reitor Paulo Águas, justificou a opção e deixou a garantia de resolver a questão. «A UAlg também fez aqui um esforço, porque teve de adaptar espaços e atividades que se realizavam aqui, e que tiveram de ir para outros espaços que ainda não são os melhores locais. Temos de trabalhar nesse sentido, de dar melhores condições aos alunos de Artes Visuais, que não foram despejados, foram para um sítio que consideramos adequado, mas que não é ainda o melhor local. Tinha de fazer esta nota de reconhecimento porque estamos aqui para os estudantes».