Pistola de tufting, novelos de lã e ilustrações originais são a essência da SÖNMUM. As peças conceptuais, feitas de forma artesanal num atelier em Loulé, já correm a Europa.
Apesar de não serem naturais do Algarve, foi nos primeiros anos de vida que vieram viver para a região com os pais. Conheceram-se quando estudavam na Universidade do Algarve (UAlg), ele na licenciatura em Estudos Artísticos e ela na de Ciências da Comunicação, em Faro, e pouco tempo depois foram trabalhar para Paris em visual merchandising.
Emilie Cavaco e Marcos Alfares, ambos de 35 anos, acabaram por decidir regressar às origens em 2018, ano em que começaram a pensar em criar um projeto conjunto que unisse a decoração, «algo que gostamos os dois» e a parte têxtil, «sector onde trabalhámos durante os cinco anos que vivemos em França», contam ao barlavento.
«Sempre tive esta vontade de criar. A arte esteve sempre presente na minha vida e houve um momento em que senti necessidade de criar algo diferente a nível criativo», começa por recordar Marcos Alfares. Enquanto pesquisava na Internet, deparou-se com o tufting, uma técnica de tapeçaria manual, bastante antiga, feita com recurso a uma pistola que insere cada fio de lã numa base primária.
«Chamou-me a atenção devido às cores e às próprias texturas. Decidi tirar formação na área e frequentar vários cursos online, porque, na altura, a nível nacional não havia oferta. Após isso, muita coisa fui desenvolvendo sozinho, de forma autodidata, inclusive a técnica. A forma como trabalho e os acabamentos são específicos meus, até porque dentro do tufting cada um trabalha à sua maneira», afirma o empreendedor.
Por sua vez, Emilie encontrava-se já a desenvolver designs e ilustrações digitais. Essas gravuras começaram a ser projetadas numa tela e Marcos dava-lhes vida através da pistola de tufting. «O processo é parecido com aquele que as nossas avós faziam com a agulha de punção. Só que em vez de ser com a agulha, é com a pistola. Ou seja, ela dispara a linha da lã contra o tecido têxtil e é aí que conseguimos reproduzir todos os desenhos e produzir a peça», esclarece Alfares.
Nasceu, assim, a SÖNMUN, uma marca conceptual centrada na decoração de interiores, que une a arte do tufting de Marcos com os desenhos da sua esposa Emilie. «Em vez de serem ilustrações impressas, são peças que têm vida e textura, porque a lã faz toda a diferença», nas palavras da empreendedora.
A primeira coleção surgiu em novembro de 2022, na página oficial da marca, e é inspirada em duas temáticas que em nada se pareciam assemelhar, a região do Algarve e o artista francês Henri Matisse.
«Queríamos apresentar o nosso universo e as cores que gostamos dentro de uma casa. É baseada nas cores do céu, do mar e do litoral algarvio. Encontram-se os terracotas, as cores das chaminés e não só. O Matisse é outra das nossas inspirações, tudo o que é o cubismo e o expressionismo chama-nos a atenção. A magia do tufting e da ilustração é que tudo pode ser personalizável, desde as cores, as linhas e os desenhos, mas esta tem sido a nossa primeira coleção, porque queríamos mostrar o que é possível fazer no mundo do tufting e da decoração contemporânea, mas também dar a conhecer esta técnica que está um pouco esquecida», afirma Emilie Cavaco.
E que peças vende a marca? Tapetes, peças murais, acessórios de mesa, bases de chaves e espelhos. «O processo é todo o mesmo, o que pode acontecer são as variações. Ou seja, podemos colocar uma parte de trás própria para ser colocada no chão, com um revestimento próprio, para dar origem a uma alcatifa. Da mesma forma podemos colocá-la numa moldura. Podem servir como naprons modernos, bases de copos, chaves ou jarras», esclarece Alfares.
Já quanto à lã, esta pode ser de algodão ou acrílica, dependendo do tipo de cor a ser utilizada. E uma vez que são todas produzidas de forma artesanal, cada peça é sempre única, sendo que todas são produzidas no atelier que os próprios criaram na garagem da sua casa, em Loulé.
Além disso, as peças podem ainda ser 100 por cento personalizadas. O cliente pode escolher adquirir uma das que integra a coleção, ou decidir-se por um outro desenho e/ou cores. «Temos tido os dois tipos de trabalho. Temos tido quem quer uma reprodução exata de alguma peça, ou quem quer adaptar ao universo da sua própria casa. Nesse caso, adaptamos. Podemos fazer várias ilustrações até o cliente gostar e dentro das cores que temos disponíveis. Depois é como um puzzle. Em conjunto com o cliente vemos quais as cores que preferem, quais os elementos e o Marcos projeta o desenho que eu crio. As pessoas gostam disso mesmo, do facto de ser feito à mão, de não existirem duas peças iguais e de participarem na criação da peça connosco», refere a empreendedora.
Quanto aos tamanhos, aí já há que ter em consideração diversos fatores. «Dou como exemplo uma tatuagem. O cliente até pode querer uma peça pequena, mas se for repleta de pormenores, é difícil. Quanto mais pormenores tiver o desenho, maior precisa de ser a peça. Atualmente, podemos trabalhar dentro de 10 centímetros (cm) de diâmetro até 1,80 cm, porque é o tamanho da moldura maior que temos. Óbvio que se alguém pretender uma peça maior, também é possível, é uma questão de criarmos uma moldura maior», explica Marcos Alfares.
E quanto tempo demora uma peça a ser produzida? «Vai sempre depender do tamanho e se for uma personalização. Nesse caso, pode demorar mais até decidirmos com o cliente o tipo de ilustração. Por norma, por uma peça de 50 x 70 cm, demoro cerca de dois dias. Isto porque, além do processo do tufting, existe também a parte de colocação de cola têxtil. Depois são os acabamentos, o corte da peça, a colocação da parte de trás, o aparar da lã com um aparelho específico e, depois, se necessário colocar em moldura de madeira», responde.
Neste momento, com apenas seis meses de SÖNMUN, a marca encontra-se online, nas redes sociais, mas também em algumas lojas físicas. São elas: Casa Mãe (Lagos), The Hut – Boutique & Living (Almancil) e Zé e Maria (Olhão). Também podem ser encontradas às terças-feira, na Oficina dos Têxteis do Loulé Criativo.
«Não temos parado desde que a marca se lançou oficialmente. Podemos dizer que 80 por cento dos nossos clientes são estrangeiros, apesar de também termos tido alguns portugueses. Começámos logo por nos aperceber que os estrangeiros, por enquanto, reconhecem e valorizam mais a qualidade do trabalho feito à mão e do quão moroso é. Isso é o que temos sentido», aponta Marcos Alfares.
Nesse sentido, as peças algarvias já foram enviadas, através das lojas parceiras, para países como Alemanha, França e Inglaterra, apesar de ser possível enviar para qualquer parte do mundo. A nível online, por enquanto, ainda só está disponível o envio a nível nacional.
Para o futuro, a marca prepara-se para lançar a sua segunda coleção. «Ainda não temos uma data específica, mas temos estado a trabalhar em elementos mais identificativos da região. Já fizemos algumas coisas com o ramo da laranjeira, da oliveira, com andorinhas e com a própria chaminé. Esses são alguns elementos que queremos agora apresentar como forma de coleção do Algarve», afirma Alfares.
Na calha estão ainda peças para quartos de crianças, com elementos e cores mais infantis. Antes disso e, «dentro em breve», nas palavras do casal, vão iniciar os workshops de tufting no âmbito do projeto Loulé Criativo. Fica a faltar ainda cumprir um desejo. «Gostaríamos mesmo de trabalhar com decoradores da nossa zona ou a nível nacional. Temos trabalhado com clientes privados, mas a ideia é aumentarmos o espetro e trabalhar com peças personalizadas para hotéis e/ou restaurantes. Tudo é possível», asseguram.
Fotografias: Filipe Farinha, Petit jardin dans la ville, Rebeca Fernandes.