Sevenair, a maior empresa de aviação geral em Portugal, está a apostar nos voos cénicos a partir do Aeródromo Municipal de Portimão. Negócio das mangas também está em alta.
Ver as grutas de Benagil, o recorte do Porto da Baleeira, as muralhas da Fortaleza de Sagres, o Farol do Cabo de São Vicente ou a Costa Vicentina, a 1000 pés de altitude (cerca de 300 metros), a bordo de um pequeno avião monomotor é uma experiência turística cada vez mais procurada a partir do Aeródromo Municipal de Portimão.
Quem o diz é João Lopes, responsável da operação de aviação no Algarve da Sevenair, que inclui paraquedismo, mangas publicitárias, voo acrobático e voo turístico. «A designação correta é scenic flights, na nomenclatura inglesa. Também fazemos estes voos panorâmicos em Lisboa, a partir da nossa base de Cascais, mas de facto, aqui têm muito mais impacto», compara. «Em termos legais, os passageiros são chamados task specialists. Temos dois targets diferentes. Um são as pessoas na faixa etária dos 30 a 45 anos, que querem ter uma experiência romântica, por exemplo, voar perto da hora do pôr-do-sol. Temos também muitos residentes estrangeiros que querem conhecer o Algarve de uma forma diferente, às vezes até para mostrar aos amigos», explica.

«Há rotas já definidas com preços pré-estabelecidos. No entanto, também podemos fazer personalizadas», explica. A operação da empresa em Alvor remonta a 2002. «Era um hangar que recebia aviões privados. Depois começou-se a fazer um investimento em publicidade aérea. Mais tarde, e devido à procura, começámos a fazer os scenic flights. O paraquedismo surge em 2014» e tornou-se o core business. Em 2018, «adquirimos um avião de acrobacia, um Extra 300 XL, e somos os únicos licenciados em Portugal» neste campo.
Além disso, «temos alocado um Pilatus Porter para o paraquedismo, um Cessna 152 para alugar aos pilotos que precisem de fazer horas de voo ou que venham experimentar com um instrutor nosso, e dois Cessna 172 que são os aviões que utilizamos para voos turísticos e para as mangas publicitárias. Na frota da empresa temos muitos mais que vamos alocando conforme as necessidades», sob a insígnia Air Emotions.
«Se pensarmos nas pessoas que a região acolhe, até diria que fazemos mais voos turísticos no período menos intenso. Até porque, os turistas que recebemos, vêm à procura de outras coisas. Mas este serviço ainda não está enraizado como o paraquedismo», compara.
E como se gere? «Aceitamos marcações até 24 horas de antecedência, ou à disponibilidade. Acontece muitas vezes os interessados pararem aqui e perguntarem se podem voar no momento. Por vezes, os aviões estão ocupados e a oportunidade não coincide com a disponibilidade das pessoas. Mas temos sempre um piloto em permanência e um segundo on call».
Um deles é Pedro Rebelo, 23 anos, com cerca de 300 horas de voo, que começou a trabalhar para a empresa no início do ano, assim que conclui o curso, em Ponte de Sor. Antes, fez os testes para a Força Aérea Portuguesa, passou em todos os exames, à exceção da visão. Ainda ingressou no Ensino Superior para estudar em Engenharia, mas o sonho de voar falou mais alto. É também quem está a impulsionar este nicho e garante que já tem a agenda preenchida para o pico do verão.
«Quero que os passeios turísticos sejam uma grande parte da minha ocupação. A experiência de um voo privado é espetacular. No máximo, levo três pessoas, uma ao meu lado e duas no banco traseiro. Em média, as pessoas compram 30 minutos de voo, mas acabam por gostar e adquirir mais algum tempo. Penso que uma hora é suficiente. Voar pela manhã é mais confortável, à tarde há sempre algum vento. Mas estamos bem familiarizados com as aterragens. No inverno, as condições são sempre um pouco mais instáveis, mas explicamos às pessoas o que é a turbulência e, ao lado do piloto, conseguem perceber que acaba por não ser nada», relata.

Na aterragem, «o vento costuma estar cruzado ou de noroeste, é a predominância. Costumamos descolar para o lado de Lagos, logo por cima da Ria de Alvor. Ou então para oeste, sobrevoando Portimão, e aos 500 pés sobre o Arade podemos virar para Sagres ou seguir para Carvoeiro. O máximo que vamos, habitualmente, é até Albufeira. Voar mais para este não é muito frequente, até pela questão do tráfego do Aeroporto de Faro. Mas também é possível ir para o interior», explica.
E se surgir o fator medo? «A máquina que usamos é bastante potente para esta tarefa. Às vezes tenho de tirar um pouco de potência senão começa a voar muito rápido para o voo turístico. Estes aviões são muito seguros e estão muito bem mantidos, até porque são também usados na publicidade aérea. Se algo correr mal, temos sempre de ter na cabeça o que fazer», diz Rebelo.

E não se vê numa linha aérea? «Por enquanto, não considero isso. Sou algarvio, gosto de viver aqui e esta aviação dá-me gosto. É tudo muito dinâmico. Em Londres, fiz uma entrevista de emprego para a Nordica e entrei, mas teria de ir viver para a Escandinávia. Ao mesmo tempo enviei um e-mail para esta empresa, expliquei as minhas ideias, abriram-me esta possibilidade e estou feliz aqui».
Alvor deve voltar a ser Meca do paraquedismo
Segundo João Lopes, neste momento, há mais uma outra empresa a fazer paraquedismo em Alvor e a atividade está limitada. «Havia aqui três eventos anuais com um foco no paraquedismo desportivo. Eram feitos no inverno quando a temperatura não permitia que se saltasse no norte da Europa», recorda. «Um estudo feito pelo Turismo de Portugal, em 2019, calculou que o movimento indireto que o paraquedismo neste aeródromo fazia era de 3 milhões de euros no comércio local. Nós formávamos cerca de 100 alunos por ano e agora não formamos nenhum porque só podemos fazer saltos em tandem», isto é, em que a pessoa salta em conjunto com um instrutor.

Depois de 2021, «o aeródromo criou a regra que apenas paraquedistas já com 1000 saltos efetuados podem aterrar dentro do espaço, nas zonas que estão identificadas. Ora, os formandos nunca saltaram. Começam do zero», diz. Assim, a alternativa para os paraquedistas desportivos é aterrarem na Praia de Alvor, opção que esta empresa não faz, «por motivos de segurança», além de ser uma opção apenas viável fora da época balnear.
Pedro Leal, fundador do grupo Sevenair, não poupa críticas. «Há aqui grandes limitações operacionais que impedem que este negócio seja mais desenvolvido. Já tentámos sensibilizar a autarquia», entidade proprietária. «Disseram que abririam o limite aos 500 saltos, desde que todas as empresas estivessem de acordo», o que não aconteceu. Além disso, apenas pode haver um avião no ar durante as largadas, ao redor do Aeródromo, o que também complica o restante trabalho aéreo. Por exemplo, causa tempos de espera aos voos turísticos, em terra ou no ar.
«Acho que a segurança deve estar acima de tudo. Mas nós pilotos sabemos como operar os aviões. Nós podemos ter três ou quatro aeronaves no ar e lançar paraquedistas. Sabemos o que estamos a fazer e nunca houve acidentes. O que aconteceu aqui foram não aberturas de paraquedas, o que, infelizmente, pode acontecer num lado qualquer», diz o empresário.
«Chegámos a fazer 28 movimentos diários. Hoje, é impossível para fazer mais de oito a nove diários. É uma load por hora. Já chegamos a fazer quatro por hora. Nessa proporção, conseguimos fazer 40 em vez de 10. Isto poderia ser a Meca do paraquedismo e já foi», lamenta.
João Lopes corrobora. «Entre novembro e março, alguns hotéis da zona ficavam abertos só por causa desta atividade», o que ajudava a esbater a sazonalidade. Outra dificuldade «deve-se, na verdade, ao custo da habitação e em manter pessoas a viver no Algarve. Isso aplica-se em todas as áreas. Nós temos dificuldades no paraquedismo, em ter profissionais aqui, precisamente por isso».
Publicidade aérea em alta
A imagem da avionete a rebocar mensagens é algo que faz parte da memória coletiva do verão algarvio. Há ainda quem se lembre do tempo em que se lançavam brindes sobre as praias. Segundo João Lopes, «em relação à publicidade aérea, já temos uma boa parte do verão ocupado», embora houve uma altura em que o negócio teve uma quebra, devido à aposta nos meios digitais. «Sim, isso continua, mas as pessoas quando estão na praia, estão mais suscetíveis a ler as mensagens que passam rebocadas pelo avião do que estarem de telemóvel na mão. O telemóvel passa para segundo plano. Agora, o que já se começou a fazer também são as publicidades dinâmicas, em que podemos voar uma manga com um código que se for introduzido numa aplicação, dá-lhe acesso a descontos», exemplifica. «Em 2018, quando tivemos o decréscimo, pessoalmente, pensei que seria a evolução do mundo e que o mercado da publicidade estava a mudar. Mudou, obviamente, mas nem tudo passou para o digital».
A prova é que «estamos em maio e temos o verão, até meio de setembro, já meio composto só de publicidade organizada». Como é contabilizado? «Na aviação tudo se conta por tempo de voo. Há empresas que fazem campanhas, pois, como se diz à portuguesa, à dúzia é mais barato. Temos muitas discotecas, muitos restaurantes e muitas festas. Por norma, os eventos fazem publicidade até três dias antes de começarem. E temos também os parques aquáticos». Uma particularidade: «não podemos fazer publicidade a qualquer tipo de ódio, como é óbvio, nem com uma série de palavras que acabam por ter esse cariz. Mas somos os únicos que não podemos fazer publicidade a partidos políticos, de incentivo ao voto».
Há, contudo, mais interessados. «O que é curioso é que temos muita procura para mensagens de caráter particular, como pedidos de casamentos ou de namoro. Votos de felicidades aos noivos e também pedidos de desculpas, quando alguém que se porta mal e usa um avião para tentar minimizar os danos», brinca.

Pedro Rebelo é um dos pilotos que também fará esta tarefa ao longo dos próximos meses. «No reboque das mangas temos de ter muito atenção para não sobreaquecer o motor e com as altitudes para não bater, por exemplo, em antenas, porque posso voar a 500 pés, mas a manga está abaixo disso. E cria muito atrito. A partir do momento em que apanho a manga e começo a voar nivelado, os controlos ficam muito sensíveis. É uma operação exigente, mas dá gosto fazer. No verão, podemos voar, no máximo diário, oito horas. Outra particularidade é que neste tipo de voo fazemos duas aterragens», sendo a primeira para apanhar a publicidade voadora.
Em Portimão não há voos noturnos. «E isso poderia ser uma vantagem. A publicidade aérea poderia fazer-se à noite. Os aviões podem ser iluminados por baixo e sobrevoar as cidades. É como se fosse um reclame», compara Pedro Leal.
Combustível ao «preço turístico»
É com um eufemismo que Pedro Leal fala sobre outra dificuldade. «Temos o combustível mais caro da Europa em Portimão. Como é que uma linha aérea que gasta 3000 litros de combustível por dia, consegue pagar aqui três euros por litro, e pagar em Cascais, nesta altura, 1,15 euros por litro?», questiona, referindo-se à ligação entre Bragança e Portimão que a Sevenair opera.
Segundo o empresário, a Câmara Municipal de Portimão «está consciente. Em 2015», no início deste serviço regular, «foi-me dito que o problema seria resolvido». E se não é o município que regula o preço, «deveria ser. Está feita uma concessão por 50 anos que, segundo a autarquia, acaba em 2024. Nós ainda trabalhamos aqui com este combustível fazendo todas as outras operações, mas é enquanto podemos, porque fica tudo realmente muito caro. É uma situação em que perdemos 100 mil euros por ano. Há aeródromo sem taxas de aterragem, como, por exemplo, Bragança», onde aviação é vista como uma forma de contornar a interioridade. «Aqui paga-se o preço turístico», ironiza. Outro prejuízo é que «as escolas de aviação, que aqui vinham muito, já não vêm. A nossa Sevenair Academy proibiu as operações para Portimão porque fica muito caro. Aqui não abastecemos», lamenta.
Questionado sobre se o Algarve precisa de um novo aeródromo, Pedro Leal diz que «há 30 anos que se houve falar nisso, mas até hoje não se viu nada. Pode ser que não se perceba interesse imediato. Mas não tenho dúvida que começaram a descobrir que o aeródromo de Cascais, ao lado de Lisboa, é uma vantagem para receber quem tem aviões particulares. Estamos a falar de um tráfego com grande poder financeiro».
Ponte aérea aberta até fevereiro
Questionado sobre o futuro da ponte aérea entre Portimão e Bragança, feita em aeronaves bimotor Dornier 228, «até fevereiro, sabemos que mantemos a linha. É uma concessão do Estado português, que tem de lançar o concurso a tempo. Com seis meses de antecedência, no mínimo devia-se estar já a discutir. Neste momento, já deveria estar disponível o caderno de encargos para quem quer concorrer poder ver e analisar. Falámos com o ministro das Infraestruturas e disse que o iria lançar», diz Pedro Leal, que prevê, em vez disso, novas adendas a contrato.