«Saboreal» é a estreia da conserva artesanal na bacia do Arade na FATACIL 2015

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Produtos frescos. Inovação a par da tradição e a garantia de origem local são alguns dos ingredientes para o sucesso da nova empresa criada por três empreendedores, que já dá um novo fôlego a uma indústria conserveira, perdida no tempo, na bacia do Arade.
Os empresários Vincent Jonckheere, Manuel Mendes e André Teixeira vão levar para o seu stand na FATACIL as três gamas, cada uma com três produtos, que prometem fazer as delícias dos mais curiosos.

Por um lado, há a tradição da conserva de carapau, sardinha ou cavala, em azeite virgem. Por outro, há a tipicidade algarvia com os mesmos peixes, mas com molho à escabeche. Já as combinações das tapas (petiscos) contam com a inovação.

«É feito com um desfiado de peixe, misturado com legumes de produtores locais e condimentos da zona», desvendou Vincent Jonckheere ao «barlavento», que se escusou a contar quais os segredos que dão sabor às tapas. Há três variedades, cada uma com uma espécie de peixe, que combinam diferentes produtos e gostos: a sardinha com tomate confitado; a cavala com azeitonas verdes e amêndoas torradas; e o carapau com cenoura e coentros.

Para já, a primeira prova foi um sucesso. Os empresários aceitaram o desafio de Ivo Mendes, que inaugurou no final de julho o restaurante «Tasca Borda do Cais», em Ferragudo. Na ocasião, deram a provar as novas conservas aos convidados. «Graças ao Ivo, tivemos um primeiro impulso e uma informação sobre a aceitação do produto», disse André Teixeira, confidenciando que pensava que iria estar descontraído a aproveitar a inauguração, quando, afinal, não houve mãos a medir na prova.

O êxito deverá ser para repetir durante a FATACIL, com milhares de visitantes nacionais e estrangeiros, a procurar as novidades mais interessantes e os produtores locais, como é habitual. Estas conservas já estão à venda na «Maria do Mar» e «Mercearia do Algarve», em Portimão e no café «Earth», em Carvoeiro. Está também prevista que a marca «Saboreal» chegue às prateleiras da loja «Da Nossa Terra», em Alvor, bem como noutros espaços no Sotavento, nos Açores e Lisboa, havendo interesse por parte de uma cadeia de restauração importante do centro da capital.

«Estamos a estudar uma apresentação dos nossos produtos em Lisboa. O Vincent está a tratar da parte da exportação para a Bélgica, o seu país de origem, e para a Holanda», avançou ainda André Teixeira. Além disso, segundo Manuel Mendes, os empresários já deram o sim ao convite para integrar o projeto da «Cavala Algarvia», promovido pela Universidade do Algarve, até porque é um dos peixes que utilizam.

Ainda que a empresa seja mesmo jovem, os empreendedores têm ideias para mais produtos, usando como matéria prima o atum, e aproveitando o facto de André Teixeira ser um armador com a pesca direcionada para esta espécie, à linha, com anzol, «de forma sustentável».

Mas nada como uma visita à FATACIL, entre 21 e 30 de agosto, para provar os sabores do mar, criados pelos empresários, que se vendem as suas conservas em frascos de vidro, primando pelo trabalho manual, pois desde o desfiar o peixe à colocação dos rótulos, todo o processo é feito por pessoas em vez de máquinas. Só será difícil escolher qual a variedade a degustar.

Visita ao Museu de Portimão motivou projeto
O mentor do projeto de criação de uma empresa conserveira artesanal, o belga Vincent Jonckheere, contou que estudou a «história e a cultura das fábricas de conservas nesta região», tendo ficado deveras impressionado ao ver que à volta do rio Arade existiram 23 unidades fabris, empregando centenas de pessoas. O seu primeiro impulso foi entender «como todo este ramo da economia» desapareceu. Há três anos, após uma visita ao Museu de Portimão, que tem como tema esta indústria, decidiu que «esta cultura» devia ser recuperada.

«Começamos a estudar a possibilidade de recriar uma fábrica. Chegámos à conclusão que só podíamos fazer algo artesanal», sublinhou. Ou seja, a aposta seria numa linha de produção muito pequena, o que valoriza não só a qualidade, mas também o trabalho manual, em detrimento da maquinaria. Esta é a grande diferença em relação à indústria que existia na bacia do Arade.

«Apostámos numa forma diferente de fazer as coisas», distinguiu. Entre as diversas mais valias, o empresário conta que «só é manuseado peixe do dia», sempre fresco, a técnica é «produzir pouco, recuperando os gestos antigos como o descabeçar e desviscerar o peixe». «Uma linha que aguenta a produção diária à volta dos cem quilos de peixe, permitindo criar um produto que está adaptado à pesca sustentável», exemplificou. Como a empresa tem uma ligação ao tema do Museu de Portimão – a indústria conserveira – Vincent Jonckheere não descarta a hipótese de uma futura relação de proximidade. «Não temos interesse em viver sozinhos», admitiu, acrescentando que «todas as parcerias são bem vindas e faz todo o sentido ter ligações ao Museu de Portimão, porque somos a única fábrica de conserva do Barlavento». Sendo uma empresa jovem, que pretende crescer, a ideia é também ir criando postos de trabalho, tendo como prioridade as pessoas do concelho.

Uma equipa que se juntou quase por acaso
Uma ida à praia juntou dois dos empresários, que estão a impulsionar a produção de conservas artesanais na bacia do rio Arade, com sede no Pateiro, concelho de Lagoa. «Conheci o Vincent, porque faço surf. Um dia fui à praia ver se havia ondas, encontrei-o lá e, conversa puxa conversa, acabámos a falar sobre o projeto dele», contou Manuel Mendes ao «barlavento».

Passadas semanas, abraçou o projeto, levando, mais tarde, consigo André Teixeira, armador e seu amigo de infância. Passaram dez meses desde esse primeiro contacto, estando a empresa a laborar desde julho.

A sinergia resultou, pois, ainda que os três saibam fazer tudo, cada um tem a sua área de conhecimento. Vincent Jonckheere tem formação académica na economia, enquanto Manuel Mendes estava no ramo da farmacêutica. Por sua vez, André Teixeira é armador de pesca, tradição que herdou do seu pai e avô.

As três formações acabam por se cruzar e complementar. «Acho que este equilíbrio é a beleza do projeto e dá-nos confiança para o futuro. Além disso somos uma empresa que se considera uma verdadeira equipa», argumentou Vincent.