Companhia aérea irlandesa Ryanair entregou ao final da manhã de hoje verba angariada pelos donativos dos passageiros para apoiar o projeto ReNature. CEO Michael O’Leary assinou o cheque no alto da Fóia.
O objetivo é plantar milhares de árvores, correspondentes a 250 hectares, que perfazem «um por cento da área ardida em Monchique. É uma pequena gota, mas um passo muito importante», como disse Marlene Marques, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA).
E a primeira semente foi simbolicamente lavrada hoje, com uma pá que passou pelas várias mãos de uma equipa pouco habituada ao trabalho agrícola, liderada por Michael O’Leary e onde além de Marlene Marques se juntaram Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) e Joaquim Castelão Rodrigues, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Um a um, entre sorrisos, com o céu limpo a proporcionar uma vista panorâmica e bastante «verde» para todo o Algarve, cavaram a terra onde daqui a algum tempo nascerá a primeira árvore do projeto ReNature. A presidente do GEOTA não escondeu a felicidade por «contribuir para o restauro ecológico de uma pequena porção da área ardida e para o desenvolvimento da economia local» naquela Serra.
Segundo Marlene Marques, a entrada da Ryanair na parceria permitiu multiplicar por 10 o número de hectares alvo de intervenção – no último ano tinham sido apenas 25.
Mas antes de colocarem as mãos à obra no terreno, os intervenientes sentaram-se à mesa para assinar o protocolo que simboliza e formaliza esta parceria pela natureza.
O donativo, oriundo da iniciativa que a companhia leva a cabo para compensar emissões de carbono, foi entregue hoje, terça feira, 22 de outubro, no Centro de Artesanato «Monchique Crafts», localizado no ponto mais alto da região Algarvia.
As atenções estavam focadas em Michael O´Leary, líder dos destinos da companhia aérea que mais passageiros transporta em toda a Europa, que não deixou de realçar a «felicidade por ajudar no grande trabalho de reflorestação que está a ser feito em Monchique, num dos nossos grandes mercados», referindo-se à região algarvia, para onde a Ryanair transporta, anualmente, milhares de passageiros.
O CEO da empresa revelou que os passageiros merecem muito crédito pela grande ajuda com donativos, que no fundo «permitem fazer estes investimentos e ajudar estas causas», realçando o valor e a importância desta parceria e reafirmando estar «muito feliz por contribuir para ajudar a restaurar as florestas e a beleza natural única da Serra de Monchique».
O irlandês acrescentou que «além das praias, os turistas procuram produtos como o walking and cycling. É também por isso que estamos a investir este dinheiro em Monchique».

O limite de área para intervencionar, acrescentou Marlene Marques, «são os 28 mil hectares que arderam», deixando um desafio a futuros parceiros para uma parceria que «concretiza alguns objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas»: «esta foi uma parceria público-privada vencedora, ao contrário de algumas que se verificam por aí».
O desafio «para o nosso futuro coletivo» é também enaltecido por Rui André, autarca de Monchique, que vê no incêndio de 2018 «uma oportunidade para desenharmos uma nova paisagem, produtiva e ambiental, mas também para permitir ao homem viver em harmonia e segurança, num ambiente mais resiliente, que faz de Monchique um verdadeiro jardim e o pulmão do Algarve».
De resto, o edil revelou que muito em breve «será apresentado um plano de reordenamento da paisagem» na Serra de Monchique», e classificou este apoio da Ryanair como algo «de valor inestimável para uma mudança necessária» no campo ambiental. O autarca aproveitou ainda a oportunidade para oferecer a O’Leary um livro com a história e a cultura de Monchique, para que o CEO da Ryanair possa ler «na viagem de regresso a casa».
O aplauso à atitude da companhia aérea e dos seus passageiros estendeu-se ao presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, que destacou «a vontade comum de todas as partes envolvidas neste projeto» ReNature. Este responsável explicou que Michael O’Leary estava passar férias na região quando a tragédia florestal de 2018 aconteceu e, por o CEO da Ryanair «conhecer e gostar da região», foi a companhia aérea a contactar a sua entidade para transmitir a intenção de se associar à iniciativa.
João Fernandes elogiou ainda «a rapidez com que o ICNF identificou esta oportunidade de apoio no projeto que estava em curso, dirigido pelo GEOTA», algo «que surpreendeu os responsáveis da Ryanair. Tudo isto aconteceu porque não nos prendemos às dificuldades, tornámos este num projeto ágil e não burocrático».

O responsável máximo da RTA congratulou-se por ver o turismo funcionar como «indutor de coesão territorial, um motor capaz de induzir o desenvolvimento sustentável nos territórios» e desvendou que «já fomos contactados por outros operadores», abrindo a porta, num futuro próximo, a «mais projetos desta tipologia».
Por fim, Joaquim Castelão Rodrigues, presidente do ICNF, alertou para a necessidade dos proprietários cuidarem dos seus espaços florestais, apontando que «dois terços do território nacional são relativos a área florestal». Aqui, «84 por cento desta área é de pertença privada, 14 por cento é comunitária e apenas dois por cento é de domínio público». Tudo isto faz com que seja imperativo «sensibilizar os proprietários, que muitas vezes nem sabem o que lhes pertence, para a necessidade de cuidar e limpar» desses terrenos.
Agradecendo a entrada da Ryanair num projeto que «vem complementar tudo o que tem sido feito nos últimos dois anos», Castelão Rodrigues vê como positiva a aposta da companhia aérea em melhorar a biodiversidade e a serra que os seus passageiros procuram quando visitam o Algarve. E deixa uma garantia: «mais do que reflorestar os 28 mil hectares ardidos, temos como missão não deixar que ardam mais».