Desde 2009, o Centro de Recuperação de Animais Selvagens (RIAS), em Olhão, já recebeu mais de 14 mil animais. Quase metade foram devolvidos à natureza.
Passou uma década, mas «o nosso trabalho é uma luta constante devido à falta de financiamento. Nunca sabemos o que vai acontecer no próximo ano. Chegarmos ao 10º aniversário é um feito incrível. Por isso mesmo decidimos que deveria ser comemorado com esta festa para todos», começou por afirmar ao «barlavento», Fábia Azevedo, bióloga e coordenadora do RIAS desde a sua fundação, no sábado, dia 28 de setembro.
A equipa começou com apenas três membros e que conseguiam reabilitar 700 animais por ano. Hoje tem voluntários, sete trabalhadores e recupera, em média, 2000 animais.
«Os primeiros anos foram dedicados a reconstruir as infraestruturas e a estabilizar a equipa técnica. A evolução é muito positiva e os números falam por si. O facto de recebermos hoje mais animais não significa que há mais ameaças.

Significa que temos feito muito trabalho de sensibilização e de divulgação na comunidade. As pessoas já nos conhecem e se encontrarem animais selvagens em risco já sabem o que fazer e a quem se dirigir», explicou a responsável.
Aves, répteis, mamíferos, o RIAS já recebeu de tudo em 10 anos. «80 por cento das espécies que acolhemos são aves, sobretudo marinhas». Para a bióloga, a pior parte do trabalho é quando recebe animais com danos infligidos de propósito pelo ser humano. «Por exemplo, quando alguém quer manter uma águia em cativeiro, corta-lhe as penas ou as pontas das asas, algo que é irrecuperável. Também já recebemos uma raposa com mais de 100 chumbos no corpo. São várias situações em que o animal acaba por falecer na primeira noite. Quando são casos de atropelamento ou de eletrocussão, estamos perante acidentes, mas quando são casos de cativeiro ou de tiros, é muito perturbador».
O oposto acontece quando os animais são recuperados e libertados. «O objetivo final é sempre a devolução à natureza, que é onde pertencem. Nestes 10 anos já libertámos mais de 5500 animais, o que representa uma taxa de sucesso a rondar os 50 por cento. Cada uma é um momento mágico que fica marcado para sempre na memória».
Tal como no início, o RIAS debate-se com um problema crónico. «Financiamento. O risco de fechar está sempre presente. Temos garantido mais um ano, mas o que eu gostava mesmo era de dar garantias a quatro ou cinco anos. Somos sempre bastante positivos e neste momento contamos com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal, do município de Olhão, a Águas do Algarve e com algumas campanhas de angariação de fundos», revelou a coordenadora.
«Temos alguns projetos que esperamos que sejam aprovados. Estamos a estabelecer protocolos com todos os municípios da região porque recebemos animais de todo o Algarve. Faz sentido que estejam envolvidos no nosso trabalho. Queremos continuar a apostar na sensibilização, na educação ambiental e na investigação científica», frisou Fábia Azevedo.

Nas comemorações do 10º aniversário do RIAS, na Quinta de Marim, em Olhão, nos dias 28 e 29 de setembro, houve atividades para todos os gostos e idades: fotografia; desenho; libertação de animais; construção de abrigos e de poleiros; concertos e até dança.
«É um marco muito importante. O que gostaria era de estar aqui a comemorar os 20 anos do RIAS com mais voluntários, melhor saúde financeira, uma equipa maior e muita energia. Ainda há muito a fazer e precisa ser feito com urgência para conseguirmo preservar o ambiente e a natureza», concluiu.