Querença vai ser aldeia internacional da etnografia e antropologia africana por dois dias.
Os estudos de Manuel Viegas Guerreiro mobilizam um encontro de investigadores de conceituadas universidades nacionais e estrangeiras, como a Sorbonne Nouvelle, Paris e a Universidade Goethe, Frankfurt em Querença.
A aldeia do concelho de Loulé, recebe no fim de semana de 18 e 19 de setembro o seminário «Manuel Viegas Guerreiro: o percurso e a filosofia de um humanista e antropólogo», no auditório da Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG).
O acervo de Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997) reveste-se de enorme potencial e importância para a história regional, nacional e internacional, e para o aprofundar do conhecimento sobre os saberes etnográficos.
Por outro lado, apresenta um grande valor patrimonial pela pluralidade de materiais que integra.
Entre os quais, livros, relatórios, artigos, documentos manuscritos, fotografias, slides e bobines com registos captados em território africano e nacional.
O seminário decorre do processo de tratamento técnico, organização, digitalização, salvaguarda e divulgação deste espólio.
Além do cruzamento de pesquisas por parte dos investigadores convidados e do debate em torno do pensamento e obra de Manuel Viegas Guerreiro, está prevista a apresentação do projeto coordenado por Maciel Santos.
Trata-se da edição de um livro com a chancela da FMVG e do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP).
Este junta os apoios da Câmara Municipal de Loulé (CML) e do CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Cultura e Sociedades da Universidade de Évora.
A futura edição reunirá as notas do etnólogo nas missões em Angola, bem como o relatório no âmbito da «Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar».
Sucede a «Cadernos de Campo – Manuel Viegas Guerreiro, Moçambique, 1957», coordenado por Luísa Martins e publicado pela Fundação em 2016.
No encerramento, será inaugurada a exposição itinerante «Boers de Angola, 1957» constituída por um conjunto de 27 fotografias de Manuel Viegas Guerreiro, que revela famílias, casas, palheiros, carroças, animais e todo o contexto quotidiano dos «Afrikaners».
Estes descendentes de antigos holandeses – que tinham aportado na África do Sul nos séculos XVII e XVIII – migraram por várias vezes rumo ao sul de Angola, apesar de a maioria ter retornado. A exposição resulta de uma parceria com o CIDEHUS.
Destaque ainda para a apresentação do projeto de quatro alunos finalistas da Escola Secundária João de Deus, em Faro: o «Museu Digital» concebido a partir da coleção de peças africanas doada por Viegas Guerreiro ao antigo Liceu de Faro, onde foi professor entre 1948 e 1950.
O programa prolonga-se ao longo de dois dias.
No entanto, face aos objetivos do seminário e à atual conjuntura de pandemia devido à COVID-19, existirão apenas duas sessões abertas ao público.
No dia 18, está previsto um jantar-conferência com a palestra «Sobre a filosofia humanista de Manuel Viegas Guerreiro», proferida por Egídia Souto, investigadora do CREPAL Sorbonne Nouvelle, do CEAUP e do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
No dia 19, «Escavar a Fala: Viegas Guerreiro e Varejota à luz de Martin Heidegger» por Luísa Monteiro, professora de ensino superior e escritora, também moderadora dos trabalhos ao longo do seminário.
A inscrição na sessão de dia 19 é gratuita mas limitada, de acordo com as regras da Direção-Geral de Saúde.
A conferência está marcada para as 12h00, no auditório da Fundação.
Já o jantar-conferência terá lugar no dia 18, no restaurante junto ao adro da Igreja e requer inscrição no valor de 28 euros. Tem um limite de 15 pessoas. As inscrições para as conferências e outras informações podem ser obtidas através de email (fundação.mvg@gmail.com).
No seminário, estarão representados os centros de investigação CIDEHUS, CEAUP, CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e CREPAL da Sorbonne Nouvelle.
Também a Cátedra Unesco, Évora, o Instituto de Filosofia da FLUP, o Instituto de Antropologia Frobenius da Universidade Goethe de Frankfurt, o Arquivo Nacional do Som e a pHneutro – Conservação preventiva e restauro.
O encontro tem o apoio da Câmara Municipal de Loulé e União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim. Acontece em Querença, no interior do Algarve, território de baixa densidade populacional, a partir do qual a FMVG produz e promove uma cultura de pensamento crítico e de exercício da cidadania, imbuída dos princípios do conhecimento, da inclusão e da multiculturalidade.
Sobre Manuel Viegas Guerreiro
Figura singular da cultura, o etnólogo e antropólogo estudou como poucos a tradição popular portuguesa. Nasceu em Querença e doutorou-se em Etnologia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi professor catedrático. É na FLUL que se encontra alojado o Centro de Tradições Populares Portuguesas Manuel Viegas Guerreiro.
Discípulo de José Leite de Vasconcellos, Manuel Viegas Guerreiro desenvolveu importante investigação junto de tribos em África. Após a reforma, fundou os Estudos Gerais Livres (ensino não formal gratuito), juntamente com o filósofo e amigo Agostinho da Silva. Deixou-nos vasta bibliografia publicada, entre monografias e artigos científicos.
O seu escritório de Paço de Arcos, Lisboa, encontra-se reproduzido em Querença, no edifício paralelo à Fundação erigida em seu nome. É lá que se encontra a biblioteca particular do Mestre.