Paderne terá centro de formação marítima ímpar na Europa

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A 4Sea International Academy será um nome que, no futuro, pretende estar nas bocas de jovens, profissionais e empresas ligadas à economia do mar. Para já, o centro de formação, com projeção mundial, está mais próximo de sair do papel, estando previsto um investimento que ronda os cinco milhões de euros.

«Vai ser um centro de formação ímpar na Europa, nas áreas de prevenção, segurança e também do ambiente. Com equipamentos e a tecnologia mais moderna que existe. A qualidade da formação aliada às excelentes condições climatéricas, asseguram uma elevada internacionalização, e não apenas nos países de língua portuguesa» assegurou Alexandre Delgado, presidente da Martrain, mentora do projeto, na quinta-feira, 3 de agosto, na Câmara Municipal de Albufeira.

No total, será realizada uma intervenção em quatro hectares dos 22 que a antiga Faceal ocupava, cedidos pela Câmara Municipal de Albufeira a título gratuito, à Martrain, a cooperativa sem fins lucrativos, composta por diversas individualidades e coletividades, todas elas ligadas ao sector marítimo.

«São pessoas das mais diversas áreas, desde sindicatos, colaboradores de armadores nacionais e internacionais, sendo de destacar a Associação de Estudos e Ensino do Mar (AEMAR), uma entidade que realiza formação nesta área há 26 anos, acrescentou Luís Carvalho, diretor pedagógico desta associação.

O projeto apostará forte na reabilitação urbana de um aglomerado, que está jogado ao abandono e que, com esta academia ganhará novo fôlego. «Uma das atenções que foi tida por nós em relação a este projeto, foi fazer com que o impacto desta instalação no local seja o menor possível e conseguir potenciar tudo aquilo que já existe», esclareceu Luís Carvalho.

«Em termos de construção nova, temos previsto um simulador e um parque de combate a incêndio para podermos fazer exercícios de combate real nos vários tipos de incêndios e nos diversos tipos de agentes extintores», avançou.

Perto do simulador aquático de salvaguarda e sobrevivência da vida humana no mar será criado um pequeno edifício de apoio, com gabinete médico, enfermaria, câmara hiperbárica, lavandaria, áreas técnicas que permitam manusear os equipamentos, algumas áreas de armazenamento e balneários. Ainda assim, é o simulador, que assume o grande destaque, pois é um plano de água com 3200 metros quadrados, que na zona mais profunda tem doze metros. Em simultâneo será apetrechado de um gerador de ondas e uma série de equipamentos específicos para recriar as situações de emergência usuais a bordo dos navios. Haverá, por exemplo, uma infraestrutura free fall que permite imitar a libertação de baleeiras a bordo dos navios para a água. «A ideia é este tipo de exercícios sejam o mais real possível. Teremos também um guincho para arrear baleeiras ou levantá-las», exemplificou.

Ao «barlavento» Luís Carvalho adiantou que são muito poucos os pontos do mundo que têm este tipo de tanque. Em Portugal será um projeto pioneiro. Também avançou que o parque para os exercícios de combate a incêndios poderá depois ser utilizado pelas corporações, quer da região, do país, quer a nível internacional.

Neste centro estará também disponível formação para tripulantes de helicópteros, o que obrigará ainda à instalação de equipamento especial. Não estará, segundo explicou um dos responsáveis ao «barlavento», um helicóptero em permanência no local, sendo que depois serão contratadas empresas que existam na região, quando for necessário. Isto é, quando estiver planificada uma formação que implique o uso deste equipamento, serão contratados serviços externos.
«O edifício social, administrativo, a escola, instalada no imóvel principal, um polidesportivo, nestes casos, a intervenção tem em consideração as instalações existentes», disse Luís Carvalho.

Haverá, portanto, uma portaria, dois edifícios administrativos e habitacionais, um serviço de apoio a formandos e o edifício dedicado ao ensino. Terão salas de atendimento, de reuniões, de arquivo, de espera, balneários. Já em relação à residência de formandos, com capacidade para 22 camas e um refeitório para 180 utentes, a ideia não é criar um regime de internato. A intenção da Martrain é estar preparada para acolher os formandos que chegam do estrangeiro ou outros pontos do país e que frequentem cursos mais intensivos e de mais curta duração.

Em relação ao edifício principal, dedicado a aulas, este terá secretaria, biblioteca, sala de professores, sala de formandos, sala de estudo e um anfiteatro polivalente, sendo ainda de destacar 11 salas de aprendizagem teórica, uma sala de informática e quatro oficinas especializadas.

O diretor pedagógico referiu ainda as duas salas de simulação, uma com simulador de ponte, utilizado para a navegação, e uma sala com simulador de máquinas, com equipamentos de bordo, além de dois laboratórios para ensaios da área da física, da química, explosões de gás.

Na ordem dos cinco milhões de euros, sendo o equipamento mais oneroso neste o simulador de treino, em termos de construção civil e de valor dos equipamentos, o financiamento ainda não está fechado. Ainda não está definido quanto vai gastar cada entidade envolvida, sendo a única certeza que os fundos comunitários serão o principal capital.

«Vamos apresentar as candidaturas necessárias para que haja aqui um nível de financiamento o mais elevado possível. A fatia maior calhará ao fundo europeu, a menor depois será estudada, sendo que neste momento a Martrain está em condições de assegurar esse valor», garantiu Luís Carvalho.

A obra deverá demorar um ano e meio até estar concluída, sendo que ainda não há também garantia da data de início. Ainda segundo o diretor pedagógico, a expetativa é que possa ser iniciada durante o primeiro semestre de 2018.

O Centro criará entre 50 e 60 postos de trabalho em permanência. Ainda que a lotação dependa daquilo que for indicado pelas vistorias do Ministério da Educação, os responsáveis pelo projeto acreditam que terá uma capacidade para 500 a 600 alunos.

Formação será acessível a todos

A formação da 4Sea International Academy será dividida em duas áreas, sendo uma de nível inicial e outra de continuidade. Ou seja, segundo diferenciou o diretor pedagógico da AEMAR, a inicial será destinada a jovens entre os 15 e 20 anos, em português, com cursos de contra-mestre, que é um profissional da marinha mercante mais virado para a arte da marinharia, técnico de mecânica naval e de eletricidade naval.
«A formação inicial terá como condições de acesso o 9º ano de escolaridade completo e 15 anos de idade mínima. À saída terão uma certificação de nível IV dependendo do curso pelo qual enveredarem, e uma equivalência escolar ao 12º ano», disse ainda.

Já a formação específica poderá ser lecionada em duas ou mais línguas, sendo o português e o inglês obrigatórios.

No entanto, o objetivo da academia é explorar outro tipo de áreas, que não se resumem à náutica. «Uma das componentes que estes cursos têm é o frio e climatização. Tendo laboratórios e mão de obra especializada, porque não depois explorar outras áreas? Frio, mecânica, eletrónica», enumerou. Ou seja, apesar da formação ser direcionada para este segmento marítimo, esse facto não implica que não possam ser aproveitadas as valências existentes no espaço.

«Em relação à formação de continuação e de qualificação, esta vai desde o treino básico universal de sobrevivência, uma série de formações na área de segurança marítima e acaba com outras formações mais banais como a segurança no trabalho ou o combate a incêndios», disse Luís Carvalho.

Como a «atividade marítima tem regulamentação internacional muito exigente, com formação de segurança obrigatória para todo e qualquer tripulante que embarque para desempenhar qualquer função a bordo de um navio», haverá essas opções no centro, reforçou. «Para as funções não especializadas, há uma formação básica e depois, conforme as funções que cada tripulante ocupará no navio, terá formação específica», afirmou o diretor pedagógico.

Questionado pelo «barlavento» se esta formação terá mesmo empregabilidade e se é mais direcionada para jovens, Luís Carvalho assegurou que há mercado e que, este é cada vez mais crescente. Há pessoas, na casa dos 50 anos, a «apostar agora neste sector», adiantou.

Autarca de Albufeira vê com bons olhos projeto ambicioso

Carlos Silva e Sousa, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, considera que este é um «projeto ambicioso» e muito importante. «Primeiro, porque está ligado à formação da juventude» e abre a possibilidade também a pessoas da área de continuar a adquirir competências e, segundo, «porque é um projeto de peso que coloca em Paderne a melhor ciência nacional, com o apoio da Universidade do Algarve», destacou o autarca.

Se por um lado, este investimento na educação, com cursos que têm empregabilidade garantida é uma mais valia para o edil, por outro lado, «acabar de vez com a história da interioridade» do concelho é outra vantagem. O centro de formação será um polo de afluência internacional, que levará a Paderne muitos jovens e, ao mesmo, tempo reabilitará um espaço que se encontra degradado. «É um projeto que não defraudará, como acontece muito, pois há muitas famílias que investem na formação dos jovens para, no final, estes estarem em situação de desemprego», assinalou.

Já o vice-reitor da Universidade do Algarve Pedro Ferré destacou que este é um exemplo de um «caso muito interessante», onde é possível associar os saberes e conhecimentos às empresas. A colaboração da UAlg com a Martrain começou em abril de 2016 com a assinatura de um protocolo, onde foram estabelecidas uma série de premissas nos domínios do ensino, da investigação, da formação, da organização e apresentação do projeto.

Tiago Magalhães, diretor executivo do CCMAR, por sua vez, reforçou que «este é um parceiro novo, que cobrirá áreas novas e potenciará todos à sua volta: a UAlg, o CIMA, o CCMAR e, esse facto, permitirá à Martrain subir», tal como todos os envolvidos.