São artesanais, confecionados em cozinhas pequenas, as encomendas são feitas online e nasceram em plena pandemia, um pouco por todo o Algarve, como forma de contornar a crise económica
São naturais de Minas Gerais, no Brasil, e vieram para Portugal para se licenciarem na Universidade do Algarve (UAlg) Além de estudarem, Anna Clara Rocha, de 21 anos, trabalhava na cantina da academia e João Vítor de Sá, de 23, num café na Baixa de Faro.
Com a pandemia viram-se despedidos dos seus empregos e sem rendimentos mensais. «As coisas começaram a complicar-se. Ficámos sem atividade profissional e sem dinheiro», recorda o jovem ao barlavento.
Mas «como já fazíamos donuts para dar aos amigos e o feedback era muito positivo, pensámos num projeto mais sério. Foi também a maneira que usámos para sobreviver». Era meter as mãos na massa «ou ficar à deriva», acrescenta.
Nasce assim a BrazBakery, no final de 2020, uma marca de donuts artesanais, feita na cozinha do casal brasileiro, em Faro, pelas mãos de dois jovens que não tinham qualquer formação em pastelaria.
«Tínhamos zero experiência, mas como ficámos com bastante tempo livre, com a pandemia, começámos logo a trabalhar, a experimentar e a praticar. Acabei mesmo por fazer alguns cursos online de pastelaria e fui aprimorando a receita da massa e dos toppings. Foi um processo que demorou quase um ano até chegarmos ao produto final que temos hoje», refere o estudante.
E porquê donuts? Anna responde: «é um doce diferente. Nem todos os locais vendem e os que existem são muito industrializados e não há variedades. Além disso é um doce muito bonito e que se come com os olhos antes mesmo de se experimentar. É colorido, é grande e é diferente».
De acordo com João Vítor de Sá, «não temos nenhum ingrediente secreto, mas mexer com farinha e massa não é algo que se aprende de um dia para o outro porque não é assim tão simples. Os primeiros donuts que fizemos eram saborosos, mas eram feios. Fomos aprimorando e aprendendo. Tivemos um ano de prática de tentativa e erro. Começámos por fazer tudo à mão e hoje já adquirimos alguns equipamentos». Cada donut demora cerca de cinco horas a estar pronto. Quanto ao número de vendas, ambos concordam que desde o início que as encomendas têm vindo a crescer.
«Todos os dias tempos pedidos e já tivemos dias em que esgotámos a capacidade de aceitar mais encomendas. A maior parte dos clientes são jovens, mas chegámos a ter uma enfermeira que nos encomendou um grande número de donuts para distribuir no Hospital de Faro e desde aí que temos tido um público mais diversificado», afirma a jovem.
Mas o melhor da marca BrazBakery é que são os jovens que entregam as encomendas ao cliente, seja no domicílio ou no local de trabalho.
«Nascemos e criámos a marca dentro da pandemia. Não temos loja física e temos restrição de saída à rua. Pensámos logo em entregar na casa dos clientes para que não tivessem de se deslocar numa altura como esta. Nós produzimos e entregamos ao cliente onde quer que esteja, seja em casa, no trabalho ou com os amigos. Adaptámos ao contexto atual», diz.
O casal até já adquiriu uma motorizada, conseguindo assim abranger uma maior área de ação tanto em Faro, como em Olhão.
Para o futuro, é aumentar a estrutura porque «já está a ser difícil produzir em casa. Queremos um espaço só nosso para continuarmos com este modelo de negócio e com preços acessíveis. Mais tarde, pensamos em expandir e abrir noutras cidades do Algarve. Essas são as nossas metas, mas para já estamos a trabalhar em novos sabores, em criar uma linha vegan e donuts personalizados».
Marmels, os «pedacinhos de céu»
Na ponta do Barlavento algarvio, em Aljezur, acaba de nascer uma marca com origens brasileiras e até espanholas. Marina Hamme, 43 anos, chef de cozinha e pastelaria, começou a produzir pão de mel, uma receita típica do Brasil, na sua cidade natal, São Paulo, em 2003.
«É um doce estilo pastel de nata em Portugal, encontra-se em qualquer lado. No entanto é um produto feito de chocolate de baixa qualidade», afirma ao barlavento.
Foi também em 2003 que criou a marca Marina Mel, e fez da produção artesanal a sua principal atividade económica.
Mais tarde, Marina Hamme mudou-se para Barcelona tendo aberto a sua primeira loja, onde vendia marmels e geleias de fruta.
No final de 2018, a brasileira voltou a emigrar, desta vez para Aljezur. Estava noutro ramo de negócio, mas a pandemia motivou-a a voltar a apostar na pastelaria.
«Quando os comecei a fazer no Algarve ainda não se sabia que a pandemia tinha chegado à Europa. Nessa altura já os distribuía em dois ou três pontos de venda locais. Quando a pandemia começou, fiquei sem trabalho e foi aí que coloquei toda a minha energia na marca», a Marina Mel, que produz marmels.

Os marmels tratam-se de bombons de casca de chocolate, recheados com doce de fruta e chocolate. Além do produto ser per si único, as suas características e propriedades tornam-no num «pedacinho do céu», de acordo com a pasteleira.
«São bolinhos gourmet artesanais, vegan, sem glúten, ricos em nutrientes e minerais. Um doce normal leva farinha de trigo, óleos e açúcar. Faz com que seja energético, mas não é nutritivo. As calorias que o marmel tem são aproveitadas pelo nosso organismo. É um carinho para o corpo», diz. Isto porque são saudáveis, uma vez que são produzidos com farinhas sem glúten (de arroz, trigo, sarraceno e grão), açúcar de coco, geleia de arroz, melaço, sete especiarias, sementes de linhaça, azeite de oliva e fruta da época.
Segundo a empreendedora, «só trabalho com ingredientes saudáveis e nem por isso deixo de ter um produto delicioso e gourmet. O marmel é para todos e não só para pessoas com restrições, como celíacos. Agrada os paladares mais exigentes e gastronómicos. Todos gostam».
O segredo? «Trabalhar com amor e paixão», conta. Facto que se reflete nas embalagens dos marmels, visto que cada um é embrulhado com papel e personalizado com uma palavra. Apesar de só ter chegado às redes sociais no passado ano, Marina Hamme já enviou marmels para todos os pontos do Algarve, do país e até da Europa como Polónia, Inglaterra, França, Alemanha e Suíça.
A juntar a isto conta ainda com 15 pontos de venda, em lojas locais, um pouco por todo o Algarve e uma em Lisboa. Outra das características dos marmels é que são embrulhados em papel reciclado e colocados em caixas de cartão fechadas com ráfia.
«Não trabalho com plástico na minha cozinha e devido a todas estas peculiaridades do produto, o próximo passo é conseguir obter a certificação biológica», aponta a brasileira.
Donuts que são vegan e feitos no forno
De Tavira, Susana Paulito, de 31 anos, formada em gerontologia, também foi afetada na sua atividade laboral com a pandemia, tal como o seu namorado, Francisco Casaca, 32 anos, personal trainer.
«Foi a pandemia que nos motivou. Tivemos de olhar para outras alternativas e daí nasceu a marca, a BROH’ÀTOA, no final do verão de 2020», refere a algarvia. Tratam-se de donuts artesanais, confecionados no forno e vegan.
A ideia surgiu por parte de Francisco Casaca. «Já existem as bolas de berlim, mas sempre achei que apesar de serem boas, têm um aspeto e um sabor de frito. Era algo que gostava bastante, mas como sou vegan, tinha de arranjar uma alternativa. Vi na Internet algumas marcas com donuts muito bonitos e com aspetos muito deliciosos. Tentei criar algo nesse estilo, mas que eu também pudesse comer, gostar e que não tivesse sabor a frito», afirma o empreendedor.

A namorada completa: «como somos os dois vegan começámos a notar que existia alguma na zona de Tavira. A ideia surgiu daí. Começámos a fazer algumas experiências, demos a alguns amigos para provarem, correu bem e começámos a fazer disto um pequeno negócio».
A receita da massa, dos toppings e do recheio está a cargo do personal trainer, que sempre teve o gosto pela pastelaria e pela massa.
«Pesquisei várias receitas, fui aperfeiçoando e ajustando ao meu gosto. Foi por tentativa e erro. Acertámos na base da massa depois de várias experiências», relembra.
O que distingue estes donuts, além de serem confecionados no forno e vegan, «a massa é de fermentação lenta. Demoram entre 12 a 24 horas a fermentar. Depois, quisemos fugir do sabor da gordura e do produto industrializado e queríamos que fosse um pouco mais saudável, por isso usamos metade do açúcar que os doces tradicionais utilizam e fazemos questão que a maior parte dos produtos sejam biológicos», garante o empreendedor.
Em relação ao feedback por parte dos clientes, de acordo com Susana Paulito, «tem sido muito bom e dão-nos muita força por ser algo diferente do que existe nas redondezas. No início do mês de março tínhamos os dias quase cheios e agora estamos com encomendas com uma semana de antecedência».
Com uma capacidade de produção diária de 27 donuts, a marca não faz ainda planos a longo prazo. Encontram-se em testes novos sabores, que de acordo com o casal serão «frescos para o verão e com fruta da época».
«Para já não temos muita coisa definida. Estamos a ir conforme a maré. Estamos a dar-nos a conhecer e a consolidar a marca. O próximo passo que faria sentido seria apostar num espaço próprio para aumentar a capacidade de produção. No entanto, não almejamos aumentar muito porque depois deixa de ter a parte de conseguirmos controlar todas as variáveis A ideia é manter algo pequeno e familiar» conclui Francisco Casaca.
O que há no menu e como encomendar?
BrazBakery
A BrazBakery pode ser encontrada nas redes sociais e conta já com um cardápio com dez opções: brigadeiro e beijinho, inspirados no Brasil; o simples de açúcar; chocolate branco; frutos vermelhos; KitKat, o preferido do público; Oreo; M&M’s; Nutella e doce de leite. Juntam-se a estas uns aperitivos de chocolate, que são feitos com a massa que sobra dos buracos dos donuts. Cada donut custa 1,5 euros e podem ser encomendados através do Instagram, com pagamento em dinheiro ou através de MB Way. As entregas em Faro são gratuitas e para outras zonas, como Olhão, contam com uma encomenda mínima de 10 unidades, sendo que duas são de oferta.
Marina Mel
Na Marina Mel há então uma panóplia de marmels à escolha, que vão variando conforme a sazonalidade das frutas: amêndoa cacau; toffe com leite de coco e tahimi; laranja; morango; maça e limão; café; banofee (banana e caramelo); torta de limão com amêndoa; kiwi e chocolate chilli; ananás com coentros; manga; goiaba; frutos vermelhos; pêssego com alecrim; pêra com nozese figos com nozes.
Todos eles cobertos com chocolate, que pode ser de leite, branco ou preto, consoante a intensidade do sabor do recheio. Quem quiser encomendar os marmels, ou um «pedacinho de céu» basta aceder ao Instagram da marca ou ir diretamente ao site. Cada marmel tem um custo de 2,5 euros, sendo que uma caixa de oito sortidos tem o preço de 20 euros, uma de 16 custa 40 e a maior, de 24, são 60 euros.
BROHÀTOA
A BROHÀTOA conta com sete sabores disponíveis: recheio de maçã com cobertura de crumble; recheio de limão e cobertura de lima; recheio de chocolate branco com cobertura de chocolate negro e raspas de chocolate nougat; recheio de banana, com cobertura de caramelo salgado e raspas de chocolate branco; recheio de chocolate negro com cobertura de caramelo salgado, o favorito dos clientes; recheio de cenoura com cobertura de chocolate negro; e o mais recente: recheio de laranja, com cobertura de alfarroba e raspas de chocolate negro.
O casal entrega as encomendas na zona de Tavira, seja num domicílio ou num local de trabalho, mas a marca conta já com pontos de venda em Faro, na loja Retratos D´Aldeia, em Loulé, na Mercearia da Maria e em São Brás de Alportel, na Bialógia. Todos os pedidos têm é de ser feitos com antecedência através do Facebook, Instagram, email ou diretamente nas lojas parceiras. Cada donut tem o preço de três euros, sendo que a encomenda mínima é de quatro unidades de donuts de tamanho normal. Uma caixa de seis unidades fica a 15 euros e uma caixa de 10 custa 20. A marca possui ainda uma versão mini dos donuts, pensada para festas de aniversário, casamentos ou reuniões, que têm o custo de um euro por unidade, com uma encomenda mínima de 15. Se forem mais de 20, cada um passa a custar 0,80 cêntimos.