Município inaugura Centro de Recolha Oficial de Animais de Faro

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O Centro de Recolha Oficial de Animais de Faro (CROAF), localizado no Guilhim, tem capacidade para 120 cães e 70 gatos.

Prometido pela autarquia desde 2014, era «um equipamento já há muito esperado» pelos farenses, que precisou de quase nove anos para se tornar realidade, e que acabou por inaugurar na manhã de hoje, segunda-feira, dia 16 de janeiro.

O Centro Oficial de Recolha de Animais de Faro (CROAF), situado na freguesia de Estoi, na zona do Guilhim, «é uma meta alcançada que tem como objetivo poder contribuir para o bem-estar animal, com melhores condições, recursos e uma equipa dedicada», descreveu Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro.

O Centro Oficial de Recolha de Animais de Faro, localizado no Guilhim, tem capacidade para 120 cães e 70 gatos.
Crédito: Joana Rodrigues

O novo CROAF tem dois veterinários, dois assistentes técnicos e oito assistentes operacionais que todos os dias vão exercer funções no espaço que conta com duas zonas de receção, gabinetes veterinários, salas de enfermagem e tratamento, sala de cirurgia, área de lavagem e higienização e zona de quarentena. Além disso, são 58 as boxes, divididas entre gatil e canil, com espaço interior e exterior, que agora passam a poder ser abrigo para 120 cães e 70 gatos.

O investimento rondou cerca de 1,5 milhões de euros (IVA incluído), financiado com recurso a empréstimo bancário. A estrutura foi inserida num terreno camarário, num lote com 6000 metros quadrados (m²), que não tinha sido a primeira escolha e que levou dois anos de obras.

«Desde o primeiro mandato que assumimos que iríamos realizar este CROAF. Começámos com um primeiro projeto para um terreno que temos no Patacão. Quando já estava numa fase muito avançada, fizemos sondagens e chegámos à conclusão que o espaço não tinha condições físicas para se poder construir o CROAF. Tivemos de mudar de estratégia, escolher um novo local e começar o projeto todo de novo. Perdemos dois anos», explicou aos jornalistas o edil.

O Centro Oficial de Recolha de Animais de Faro, localizado no Guilhim, tem capacidade para 120 cães e 70 gatos.

Esta «velha aspiração do concelho», nas palavras do autarca farense, «vai melhorar a qualidade de vida de todos nós e, em particular, dos animais abandonados que aqui vão ser acolhidos».

Até porque, ainda segundo Bacalhau, apesar de «felizmente» não serem muitos os animais errantes na cidade, no resto do concelho «existem até matilhas de cães que acabam por provocar problemas».

Até ao momento, «depois de contactos dos nossos veterinários ou da Guarda Nacional Republicana (GNR), que muitas vezes são os primeiros a sinalizar os casos, não tínhamos condições de recolher e de tratar os animais. Muitos deles, chegam doentes ou feridos. No CROAF vão poder ser tratados, recuperados e, mais tarde, adotados».

Hoje, «temos um concelho mais sustentável, mais amigo do ambiente e dos animais», afirmou o presidente.

Antevendo necessidades futuras, a autarquia encontra-se também a terminar o projeto do loteamento industrial que rodeia o Centro de Recolha. «São oito lotes, com alguma dimensão, para equipamentos industriais ou o que for necessário, com 40 mil m² de área. Portanto, temos capacidade de ampliação do CROAF e se, num futuro, for necessário, podemos sempre vir a fazê-lo», previu.

O Centro Oficial de Recolha de Animais de Faro, localizado no Guilhim, tem capacidade para 120 cães e 70 gatos.
Crédito: DR

Questionado sobre como se vão processar as adoções, o autarca referiu que serão feitas em parceria com as associações. «Vamos continuar a trabalhar com as diversas coletividades do concelho e da região, para promovermos essas mesmas adoções, tendo todos os cuidados para que não sejam um problema. Sozinhos, certamente seremos poucos. Mas se todos pudermos contribuir para o bem-estar animal, então podemos ter um papel muito importante. Estamos e continuamos disponíveis e interessados em que continuem a trabalhar connosco».

Questionado sobre a possibilidade de o CROAF também resgatar animais de outros municípios algarvios, Bacalhau respondeu que «não vamos ter aqui exclusividade numa área tão vasta como esta. Já trabalhamos com associações fora do concelho, como Loulé e Olhão, e vamos continuar a fazê-lo e a apoiá-las. Este é um equipamento que não vai esgotar o trabalho que temos vindo a fazer até aqui».

Há muitos animais errantes sem identificação

O veterinário municipal de Faro, Ruben Jerónimo, que exerce a função há quase três anos, é agora também o responsável pelo CROAF. Na sua experiência, «praticamente todos os dias deparamo-nos com animais errantes no concelho.

Até agora, não tínhamos todos os recursos para os ajudar. O que fazíamos era recolher e encaminhar para uma clínica de serviço. Os animais recebiam tratamento e depois falávamos com as associações e os canis parceiros para se arranjar um local para os acolher. Agora, tudo isto será diferente», apontou.

Crédito: DR

Na prática, «passamos a conseguir recebê-los e a responder de forma mais célere. Chegam aqui, recebem os primeiros tratamentos médicos e cumprem a quarentena, caso não tenham identificação eletrónica, que são muitos. Depois, é feita a identificação, a vacinação obrigatória, a esterilização e o encaminhamento para a adoção. Essa, poderá ser aqui, ou através das nossas associações e canis parceiros».

Outra «problemática grande» no concelho, de acordo com o veterinário, está relacionada com a esterilização.

Com a sala de cirurgia do CROAF, as intervenções vão poder ser feitas no novo equipamento. «O que nos permite aplicar o programa CED (Captura, Esterilização e Devolução ao Meio com identificação) nos felinos.

Falta legislação para os equídeos

Aos jornalistas, Rúben Jerónimo, veterinário municipal de Faro e agora também responsável pelo CROAF, o abandono de equídeos é outro problema que existe não só em Faro, como em toda a região.

«Deparamo-nos com vários casos de cavalos que, além de estarem abandonados e de não sabermos quem é o proprietário, também estão com sinais de maus tratos».

Uma das soluções, segundo o médico, poderia ser a criação de CROAF dedicado a estes animais, mas não só.

«Tem de haver alterações na lei. Não há legislação que permita que o veterinário municipal se fundamente e que diga que o equídeo está a sofrer maus-tratos. Para os cães e gatos, essa lei já existe, mas para os equídeos, não. É algo que não se entende e onde é preciso que evoluamos», apontou.

Crédito: Joana Rodrigues

Carlos Baía: «a lei precisa de acompanhar a realidade»

Carlos Baía, vereador da Câmara Municipal de Faro, aproveitou o momento da inauguração do CROAF para deixar uma nota. «Está em cima da mesa retroceder na lei da criminalização dos maus-tratos a animais. Esta estrutura é da maior importância, mas se não for acompanhada da evolução do enquadramento legal que dê resposta aos problemas que temos no terreno, nomeadamente aos muitos animais errantes, esta estrutura vai simplesmente lotar daqui a dois ou três meses e o problema persistirá», disse.

O vereador enalteceu ainda a importância de alargar o programa de esterilização de felídeos a canídeos. «Não havendo estruturas disponíveis como esta, penso que seja preferível um animal errante esterilizado, do que não esterilizado».

Por outro lado, nas suas palavras, «é também muito importante que se fiscalize e que se faça cumprir a lei. Grande parte dos animais que recolhemos, não tem identificação eletrónica. Não sabemos quem é o dono e não o podemos responsabilizar em caso de abandono. Acho que estas vertentes são importantes de acompanhar. Não basta construir mais estruturas, é preciso que a lei acompanhe esta realidade, que é crítica, e que haja fiscalização».