Quem o diz é Dino d’Santiago, um dos mentores do movimento que quer empoderar e projetar o talento dos quarteirenses, organizar eventos durante todo o ano e trazer Madonna à cidade, quem sabe, já em 2020.
Há cerca de dois anos, acordou cedo, sentou-se, e escreveu a letra da canção «Sou Quarteira» enquanto relembrava episódios da sua infância.
«Em todas as cidades que visitava em trabalho existia sempre um quarteirense», conta o cantor Dino d’Santiago, também ele filho da terra, e que anda nas bocas do mundo quer pela ascensão na carreira musical alcançada nos últimos anos, quer por ser um confidente inseparável da rainha da pop Madonna, a qual tem feito correr rios de tinta em Portugal e que foi, inclusive, uma das primeiras pessoas «a ter conhecimento do movimento».
A partir daí, em conversa com amigos, a ideia evoluiu para a forma de um movimento com o intuito de afirmar a identidade da cidade e projetar o talento de quem nela habita. Um movimento que em 2019, pela primeira vez, se desmultiplica em diversas iniciativas: um festival de música urbana em língua lusófona, uma exposição de fotografias em forma de tributo a comuns mas marcantes heróis do dia a dia, e um documentário sobre os talentos de Quarteira espalhados por todo o mundo.
De acordo com o cantor, o que torna o movimento único «é o facto de ser feito com amor pelos filhos da terra. É uma resposta da nossa geração. Queremos ser a mudança que desejamos ver. E é possível fazer tão mais com tão pouco», defende. No entanto, lamenta que a jornada até aqui tenha sido tão difícil.
«Se apresentasse este projeto em Lisboa, facilmente já tinha acontecido, mas aqui encontrámos muito mais dificuldades», afirma o cantor. Contudo, faz questão de sublinhar que a ideia contou desde os primeiros dias com o incondicionável apoio camarário, tanto de Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé como também de Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, os quais sempre reconhecem muito valor à iniciativa.
Dino explica que apesar do festival possuir mais visibilidade, essa iniciativa representa «apenas 10 por cento daquilo que queremos fazer». «A música move muita gente e realmente estes sons da eletrónica global estão a dominar o mundo. Mas a nossa ideia é trazer para a cidade mais eventos durante 365 dias por ano», revela.
O festival realiza-se nos dias 16 e 17 de agosto, no Passeio das Dunas, e inspira-se «nos sons urbanos das grandes capitais, como Nova Iorque, Berlim, Londres, Paris, mas com a vantagem da aculturação típica da cidade de Quarteira», onde se juntam pessoas de todo o mundo. Uma cidade «multicultural» cuja diversidade acaba por se espelhar também na diversidade musical.
Enquanto curador do festival, Dino elegeu 18 artistas «muito admirados a nível internacional, nacional e local», mas sobretudo «dinamizadores culturais» nos seus locais de origem. De Branko, a Mayra Andrade ou Jimmy P, o alinhamento já está divulgado e os horários estabelecidos.
«Se juntarmos o network de cada um dos artistas e de alguns dos maiores produtores nacionais, Quarteira beneficia de uma enorme ascensão. Com a grande vantagem de disponibilizar este cartaz para os quarteirenses por apenas oito euros um dia ou 13 pelos dois dias», sublinha. O cantor garante que o evento terá «uma organização ao nível de outros grandes festivais nacionais».

Os visitantes vão poder desfrutar de dois palcos: um principal e um outro suspenso em altura num carro em tesoura, onde irão atuar os DJ’s. A organização compôs ainda, em especial para a edição de 2019, a canção «Dengue», que servirá de hino ao evento e que irá colocar a cantar em palco, lado a lado, cinco quarteirenses: Dino d’Santiago, Sacik Brow, Perigo Público, Iniciado e Fragas.
A música foi gravada em Armação de Pêra e «proporcionou aos artistas da cidade a oportunidade de trabalharem com grandes produtores nacionais», evidencia Dino.
Para a realização desta edição do festival «Sou Quarteira», foram contratadas equipas de trabalho onde «80 por cento dos colaboradores são quarteirenses», revela.
Curiosamente, «muitos dos que colaboram de uma forma ou de outra, forneceram-nos orçamentos baixíssimos ou pro bono pela prestação dos seus serviços no festival. Tal é a falta de auto-estima e credibilidade que têm no seu trabalho», lamenta. «Todos os valores que nos pediram, nós dobrámos. Por exemplo, queriam oferecer-nos o serviço de fotografia e vídeo. Explicámos que não era o que pretendíamos. Queremos valorizar o trabalho de cada um», explica.
O cantor garante que o movimento «está aberto a propostas de projetos culturais no âmbito do Sou Quarteira. Somos apenas uma plataforma que ajuda a concretizar propostas e que disponibiliza, de forma gratuita, a componente pedagógica para a profissionalização dos talentos».
Exposição conta história de heróis sem capa que marcaram uma geração
A inauguração da exposição «Heróis» está marcada para o dia 11 de agosto, pelas 19h30, no Largo da Junta de Freguesia, uma semana antes do festival.
A escolha dos protagonistas das fotografias resulta de uma «manifestação urbana e não institucional» de acordo com Dino d’Santiago, membro da organização. Foram escolhidas por votação virtual, pelos próprios quarteirenses.
É o caso de Carla Candeias, uma «anónima» professora de História. A docente exerce há décadas a sua profissão com tanta paixão que já levou milhares de alunos a deslumbrarem-se pela disciplina.
«Inspirou uma geração. Quando chegámos à escola e lhe transmitimos a notícia, começou a chorar. E muitos outros choraram. Mas isto orgulha-nos e dá-nos força. São pessoas que já marcaram muitas outras, e que de outra forma, morreriam sem que nunca ninguém lhes dissesse que foram realmente importantes e marcantes na vida de muita gente. É preciso olhar para eles e fazê-los perceber isso», sublinha.
A exposição «Heróis» apresenta a história de 15 personalidades «presentes no nosso dia a dia», retratadas pela objetiva do fotógrafo quarteirense Mike Ghost. Mais um profissional de Quarteira, «que se destaca a nível internacional».
As fotografias estarão expostas na zona antiga de Quarteira, em paredes que nunca antes serviram de galeria de arte: o bairro do IGAPHE/Asa Branca, perto do bairro da Checul ou na lota do peixe. O trajeto pode ser feito pedonalmente. A escolha da localização não é inocente.
«Queremos que os visitantes possam explorar outras zonas de Quarteira, mas sobretudo inspirar os locais e mostrar-lhes que o seu bairro também é digno de uma exposição».

Um documentário para revelar a verdadeira identidade de Quarteira
Desde cedo que os jovens estabeleceram três missões: dar a conhecer a verdadeira identidade de Quarteira, criar novas experiências não só aos que estão de passagem mas sobretudo aos jovens que cresceram na cidade, servindo-lhes de inspiração, e por último, dinamizar os locais e facultar-lhes ferramentas para se profissionalizarem e divulgarem o seu trabalho.
Foi precisamente com este intuito, que surgiu a ideia de criar um documentário que será exibido durante o festival, e que foi gravado em várias cidades a nível mundial.
«Consiste em jovens quarteirenses espalhados pelo planeta que se destacaram em diversas áreas, e que estão a mudar o mundo. Basicamente, são um foco gigante a nível cultural, desde a investigação científica ao desporto, e artes. Explicam as suas ideias sobre o que poderia mudar a cidade, como se sentem especiais pela sua origem, e como contribuem para mudar o panorama internacional. Durante o festival será passado um pequeno trecho do documentário, mas a grande estreia é em outubro, na RTP1».
Madonna pode vir a Quarteira no próximo ano
Madonna foi «das primeiras pessoas a ter conhecimento do movimento», confidencia Dino d’Santiago, um dos mentores do projeto.
«Tenho a certeza que vou conseguir trazer a Madona a Quarteira. Isso vai acontecer, só falta saber quando. Este ano é impossível porque ela vai começar a tour e são 90 datas por todo o mundo. Não a vou conseguir trazer a Quarteira, no entanto, consegui que ela levasse duas pessoas de Quarteira com ela em tour. São oito meses que vão mudar as suas vidas. A Edna Oliveira e a Tânia Duarte estão agora em Nova Iorque e vão ser batucadeiras da Madonna. A Edna vai ser a única voz de fora que vai ter um momento de destaque no concerto. Agora diz-me, como é que isto pode acontecer se não fores de Quarteira?», diz o cantor, em tom de brincadeira.
«São artistas que têm muito potencial. Vão ter a experiência da vida delas e mudar a vida de muitas pessoas».
«Existem muitos talentos escondidos em Quarteira que têm de começar a aparecer»
Telmo Pinto, presidente da junta de freguesia de Quarteira, defende que os habitantes daquela cidade são «uma população muito aberta e virada para a cultura». «Nós sentimos a palavra Quarteirense. Há um grande orgulho nela». E apesar de todas as condicionantes, «o Dino e outros quarteirenses conseguiram transmitir o que é ser de Quarteira. Eu próprio sinto o movimento Sou Quarteira. Há que mostrar o talento que temos na nossa terra. Sei que as pessoas sentem a necessidade de serem reconhecidas», revela.
Considera ainda que esta iniciativa pode vir a tornar-se numa referência e que é urgente a cidade «apostar num evento de dimensão e uma referência cultural que atraia mais pessoas», durante todo o ano.
«Quarteira é uma cidade cheia de energia. Mas a população está habituada a ver apostas noutros locais do concelho. Agora, veem um evento de dimensão que projeta a palavra, cidade e freguesia Quarteira em termos nacionais e internacionais», diz.
O presidente refere que «não é fácil numa região como o Algarve as pessoas projetarem-se culturalmente como em Lisboa ou Londres».
«Depende da dimensão que queremos para a nossa vida e carreira». No entanto, Dino «é uma referência» porque «as pessoas precisam de sentir que conseguem sair de Quarteira e projetarem-se noutros locais como referências culturais».
«A cidade precisa muito rapidamente de um acrescentar de cultura e de ter eventos de qualidade», considera. «É preciso dar condições para que se crie dimensão. Para que as pessoas se sintam reconhecidas pelo trabalho cultural que fazem localmente». E para que tal aconteça é fundamental a criação de «um espaço cultural para se exprimirem».
Sou Quarteira
O movimento une quatro jovens locais, Dino d’Santiago, Inês Oliveira, Miguel Jacinto e Naomi Guerreiro, que procuram divulgar através de um conjunto de iniciativas os talentos de Quarteira em diversas áreas.
Provar que o potencial da cidade vai muito além do já conhecido produto «sol e praia».