Projeto Horta N’Isso inaugura quarta-feira, 19 de junho. Ficará a cargo da Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais (AAPACDM) para fins sociais e pedagógicos.
Criar tomates, batatas e hortaliças no topo do mercado, no coração da cidade de Faro, em modo de produção biológico, é uma ideia que a autarquia tem vindo a maturar desde janeiro, e que toma forma já a partir da próxima semana.
Isto porque a Câmara Municipal de Faro e a empresa Ambifaro, responsável pela gestão dos equipamentos do município, em parceria com a Associação Algarvia de Pais e Amigos de Crianças Diminuídas Mentais (AAPACDM) e com o apoio da HUBEL INDÚSTRIA DA ÁGUA (HT-GROUP) e da Universidade do Algarve (UAlg), vão lançar um projeto pioneiro: criar das maiores hortas urbanas do país e da Europa, que terá também objetivos solidários e de educação ambiental.
A inauguração deste novo espaço está prevista para quarta-feira, 19 de junho, um dia antes do início da primeira edição do Açoteia – Faro Rooftop Festival, um novo evento que se estreia na capital algarvia.
Segundo explicou Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, em declarações ao «barlavento», a ideia está maturar desde janeiro, altura em que o executivo começou a desenhar o festival Açoteia.
«Lembrámo-nos que temos um rooftop, o do Mercado Municipal, que provavelmente é um dos maiores da cidade, está disponível e sem ocupação», e que poderia ser aproveitado para um fim social e pedagógico.
«Desde há alguns anos que andávamos a pensar em criar uma horta biológica, e assim, juntou-se o útil ao agradável. Vamos ocupar esta açoteia com algo que tem a ver com o mercado, e que se pode ser utilizado também pelas escolas. No andar de baixo há produtos bonitos, saborosos e com bom aspeto, mas, muitas crianças, apenas os vêm nas prateleiras. E sem ser na televisão ou nos vídeos, nunca viram de onde eles vêm. Aqui juntam-se essas duas vertentes», reforça o autarca farense.
Por outro lado, este será um campo fértil para o trabalho da AAPACDM, uma das principais instituições de solidariedade social de Faro, e que ficará responsável pela nova horta, segundo explica Sandra Gonçalves, diretora de serviços e gestora financeira há 13 anos.
«A nossa instituição é destinada a jovens e adultos com deficiência intelectual moderada ou grave e desenvolvemos atividades educativas, formativas, de reabilitação e lúdicas que são divididas em várias respostas sociais. Temos entre 150 a 180 utentes», contabiliza.
Este espaço será «dirigido a dois públicos. Tanto às pessoas com deficiência intelectual, como também desempregados de longa duração ou beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI)».
Porquê? «Porque é uma população que vive muito acentuadamente o isolamento e a exclusão social. Com este projeto nós conseguimos capacitá-la, conseguimos que se inclua socialmente, que desenvolva hábitos saudáveis e, também, de alguma forma, se sinta capaz de, com um sentimento de pertença à sociedade», explica Sandra Gonçalves.
«Por outro lado, a ideia é que os nossos utentes tenham o benefício de conseguirem produzir para alimentos para si próprios também», acrescenta.
A AAPACDM poderá também canalizar parte da produção para a sua cantina social, na baixa de Faro. Os excedentes serão distribuídos por famílias carenciadas sinalizadas pelos serviços sociais da autarquia.
A médio prazo podem vir a ser criadas as condições para a comercialização dos produtos, conforme explica Sandra Gonçalves.
«O culminar seria a produção de cabazes solidários em que nós possamos, em conjunto com a Câmara Municipal distribuir. Temos também previsto a criação de uma plataforma digital, que possa, no futuro, tornar sustentável este projeto, no sentido de conseguirmos produzir, para desenvolvermos cabazes com alimentos biológicos, sendo que tentaremos ter formação nessa área e distribui-los porta a porta, de acordo com as solicitações», diz a diretora.
Outro objetivo é dinamizar um programa educativo aberto às escolas, e também à população, garante Sandra Gonçalves: «queremos abranger alunos das escolas, que possamos sensibilizar para a alimentação saudável. Queremos também organizar workshops para a comunidade, e sobretudo dirigidas a famílias, que possam de alguma forma aprender a cozinhar e a cultivar estes alimentos. Talvez se consiga já no início do próximo ano. Agora teremos que fazer toda a plantação e capacitar as pessoas, até porque este é um projeto a três anos», cuja dinâmica estará dependente da aprovação da candidatura ao programa Parcerias.
A Horta Urbana Social representa um investimento na ordem dos 40 mil euros e foi submetida uma candidatura, na ordem dos 130 mil euros, ao Programa Parcerias para o Impacto do Programa Portugal Inovação Social.
Terá uma área útil de produção a rondar os 100 metros quadrados espalhados pela terraço. O projeto será realizado pela HUBEL INDÚSTRIA DA ÁGUA (HT-GROUP), um grupo do Algarve com experiência e história na produção agrícola. Fornecerá os equipamentos de rega, sementes, adubos e tudo o que for necessário. Já a UAlg colaborará com o saber técnico e consultadoria.
Um projeto além do festival
Em declarações ao «barlavento», Sandra Ramos, responsável pela AmbiFaro refere que, em breve serão instaladas as primeiras plantações, e que estará tudo pronto para o arranque da primeira edição do Açoteia – Faro Rooftop Festival, um novo evento que se estreia na capital algarvia, na quinta-feira, 20 de junho.
A horta urbana no terraço do Mercado Municipal de Faro dá «alguma visibilidade» ao evento que «não é apenas um festival de música, mas um festival com uma amplitude muito grande de atividades, onde esta também se enquadra. Não a ver com bailes, nem com venda de produtos alcoólicos, nem é só festa. Também tem uma vertente pedagógica. E no final do evento, este projeto continuará», completa Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro.
«Vamos trazer aqui miúdos e jovens de várias instituições como a Casa dos Rapazes, Refúgio Aboim Ascensão, entre outros. Vamos fazer alguma sensibilização junto dos professores, para que tragam os seus alunos e que possam utilizar este laboratório para mostrar e tratar temas na sala de aula, tendo por base um conhecimento real de quem experimentou e de quem teve contacto» com a horta.
Futura rede internacional
A inauguração deste novo espaço acontece na quarta-feira, dia 19 de junho, um dia antes do início da primeira edição do Açoteia – Faro Rooftop Festival, um evento que procura chamar a atenção para as açoteias da cidade, tendo como pilares principais a sustentabilidade ambiental, a comunidade e a arte.
Segundo a autarquia, Faro está a procurar criar um movimento europeu de cidades/organizações que através de festivais e outras iniciativas dão um outro uso a estes espaços tão pouco utilizados nas cidades.
Desta futura rede vão fazer parte Roterdão, Amesterdão, Milão, Barcelona, Antuérpia, Linz e outras cidades que entretanto se estão a juntar ao projeto.