Médicos alertam para «falência» da urgência pediátrica em Faro

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Médicos alertam para a «alarmante situação de falência» da urgência pediátrica do Hospital de Faro.

Numa carta enviada à administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), à tutela e a outras entidades, à qual a Lusa teve acesso, o grupo refere que o «envelhecimento persistente do corpo clínico» e a saída de médicos estão a dificultar o preenchimento das escalas na urgência e pede soluções urgentes.

«Seria impossível assegurar a habitual escala de urgência, que só comporta um pediatra nas 24 horas, caso os colegas pediatras que já têm dispensa de realizar serviço de urgência não o continuassem a efetuar até à data de hoje», justificam os subscritores do documento, datado de 10 de setembro.

De acordo com a missiva, aquele serviço «é constituído por 13 pediatras, dos quais seis têm mais de 55 anos, ou seja, já alcançaram o limite etário para a dispensa da realização do serviço de urgência, e um elemento com mais de 50 anos, pelo que está dispensado de realizar serviço de urgência noturno».

Neste sentido, «para assegurar a urgência de Pediatria 24 horas por dia, sete dias por semana, restam apenas seis pediatras, que neste momento estão reduzidos a quatro (dois elementos estão de atestado médico) e, a este ritmo, é provável que outros acabem por ficar indisponíveis» devido à sobrecarga de trabalho.

Questionada pela Lusa sobre a situação, fonte do CHUA referiu que a administração está empenhada em procurar soluções para «colmatar as carências» de profissionais e que «tem vindo a envidar todos os esforços» nesse sentido, nos vários serviços e no caso concreto da Pediatria e da Unidade de Cuidados Intensivos e Semi-intensivos Neonatais e Pediátricos (UCINP).

«O Conselho de Administração do CHUA […] está empenhado em encontrar soluções não só pontuais, mas, essencialmente, de fundo, para suprir a carência de recursos médicos, que é crónica e afeta tanto os profissionais como, razão de ser da instituição, os utentes», assegurou o centro hospitalar algarvio na resposta.

Segundo a carta subscrita por mais de 20 médicos, enviada também à ministra da Saúde e à Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, entre noutros, o número atual de pediatras é «insuficiente para assegurar a atividade assistencial própria do setor».

Segundo os clínicos, o setor está «atualmente sobrecarregado devido à pandemia de covid-19», já que, na prática, têm de ser asseguradas «duas urgências de Pediatria em simultâneo», o que engloba o atendimento em balcão, a assistência a doentes emergentes e o cuidado a doentes internados na Unidade de Internamento de Curta Duração».

A administração do CHUA afirmou estar a «intervir a todos os níveis» e «em contacto com a Administração Regional de Saúde do Algarve e a tutela» para «obter reforços» de profissionais e disse já ter contactado para o efeito «os conselhos de administração dos principais centros hospitalares do país», colocando também «anúncios na imprensa com o mesmo objetivo».

Segundo a mesma fonte, a escala de outubro, que já foi divulgada, é «ainda provisória», no entanto, a administração do centro hospitalar sublinhou que está a trabalhar para que esta «fique suficientemente dotada com médicos especialistas de Pediatria».

De acordo com os subscritores da carta, as escalas têm sido preenchidas com recurso a médicos de Medicina Geral e Familiar, estando em causa a assistência pediátrica na unidade de Faro do CHUA (composto ainda pelas unidades de Portimão e Lagos), que assiste uma população de 57.000 utentes até aos 18 anos.

Esta falta de profissionais, é referido, «impossibilita, de todo, uma assistência com a mínima qualidade aos doentes, colocando a sua saúde em risco, bem como o empenho e rigor que sempre caracterizou a unidade de Faro» do Centro Universitário Hospitalar do Algarve.

Por esse motivo, justificam os subscritores, os médicos que assinam a missiva «declinam antecipadamente quaisquer responsabilidades de situações resultantes da impossibilidade de prestar assistência a doentes urgentes» e das «limitações inerentes ao desfasamento dos escassos recursos humanos e o atual e esperado volume de trabalho».