Marcelo em Faro reconheceu contributo do Algarve para o país

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Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ontem em Faro que, numa conjuntura frágil como esta, imposta pela pandemia da COVID-19, todos os portugueses têm e devem estar solidários com os algarvios, uma vez que a região pede, merece e tem direito a uma maior atenção.

O Chefe do Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu, no final da tarde de segunda-feira, dia 31 de agosto, das mãos do presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, a Chave de Honra da Cidade de Faro, tornando-se o segundo Cidadão Honorário da capital algarvia, depois da atleta olímpica Rosa Mota.

O momento foi celebrado nos claustros do Museu Municipal de Faro, após atuação do acordeonista Nelson Conceição e da cantora Cristina Paulo, «o melhor da música algarvia», nas palavras do edil farense.

No uso da palavra, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que a sua ligação com a cidade de Faro remonta à sua infância, tornando-se assim um «motivo de honra, júbilo e até de emoção», receber a Chave de Honra e sublinhou que a região algarvia, sempre teve um papel preponderante a nível nacional.

«Por isso, a missão que lancei, de alguma maneira, nos últimos meses e nas últimas derradeiras semanas, com a reafirmação da vocação algarvia. Mais que isso, a reafirmação do dinamismo algarvio. Era preciso compreender-se, no topo nacional, que o Algarve contribuiu mais para Portugal, do que em muitos casos Portugal tem contribuído para o Algarve», sublinhou.

Segundo o Presidente da República, este contributo «é medido em termos económicos, mas também num momento difícil assinalado pela pandemia por esse corte abrupto pelo exterior, que se traduziu crítico entre o fim da primavera e o começo do verão».

A Chave de Honra, «não foi entregue ao cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, mas ao Presidente da República que representa todos os portugueses. E todos os portugueses estão, têm de estar e devem estar solidários, para além do que estão a sofrer e do que vão sofrer em pandemia e em crise económica e social, com o Algarve e com os algarvios», afirmou.

«O Algarve queria dizer algo de muito simples com este gesto: queremos ser algarvios, queremos merecer maior atenção. Precisamos e temos direito a essa atenção».

Ainda sobre a atual conjuntura, Marcelo Rebelo de Sousa apelou a que se assumam valores que se prendem «com a dignidade da pessoa humana, os seus direitos, os seus deveres, a sua diferença, a sua liberdade, o pluralismo, a capacidade de aceitarmos e lidarmos com os outros como eles são, de não querermos egoisticamente impor aos outros que sejam como nós. Não privilegiarmos aquilo que é transitório, fugaz e efémero, relativamente aquilo que é constante, ao que é essencial. Essa é uma opção, uma escolha que atravessa as sociedades contemporâneas neste momento».

Por fim, o Presidente da República dirigiu-se a Rogério Bacalhau agradecendo «a honra de, a partir de hoje, aqui entrar e me sentir como concidadão, sentir como se sentem todos os portugueses que aqui vêm, cidadãos de Faro. Faro, como o símbolo daquilo que temos de melhor em Portugal».

Rogério Bacalhau: «Algarve ainda é região desequilibrada»

O presidente da Câmara Municipal de Faro, após entregar a Chave de Honra da Cidade a Marcelo Rebelo de Sousa, relembrou que os farenses não esquecem o apoio do Presidente da República, dando o exemplo do tufão do mês de março de 2018, que destruiu praias e devastou casas e estufas.

«Nesse momento, transmitiu a sua solidariedade e o ânimo indómito que o move. Desde esse dia, os algarvios ganharam também um novo alento para exigir mais justiça para uma região desequilibrada, que continua deficitária em termos de saúde, de redes de transporte e de tantas outras valências que são direitos básicos da maioria dos cidadãos. Uma região que, aqui e ali, apresenta bolsas de pobreza que não conseguimos mitigar e que atravessa mais uma crise, imersa em dificuldades e desesperança. Bem haja pela sua presença e por, uma vez mais, aqui vir dar ânimo e prestar solidariedade aos algarvios».

Faro é «centro de difusão cultural e espiritual»

A presença de Marcelo Rebelo de Sousa nas imediações do Museu Municipal de Faro ficou ainda marcada pelo descerrar da placa que classifica o Mosaico Romano do Deus Oceano como Tesouro Nacional, a categoria máxima que uma peça de Museu pode ter. A candidatura foi apresentada em 2016, altura em que a sul de Évora não existia nenhuma peça com tal classificação, e chegou a Faro em maio de 2018.

Marco Lopes, o diretor do Museu Municipal, apresentou a exposição referindo-se ao mosaico como o «ex-libris do Museu», descoberto em 1926 próximo da atual estação ferroviária e extraído em 1976, já parcialmente danificado. Trata-se de uma homenagem à expansão das atividades marítimas e ao desenvolvimento económico de Ossónoba [antigo nome da cidade de Faro] em torno do comércio e dos recursos marinhos.

Para Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, «num tempo de dúvidas e de incompreensões da mais variada ordem, a solução assenta sempre na cultura. A cultura é o cimento que une os povos, que faz com que pessoas diferentes, com visões políticas diferentes, de diferentes religiões e com diferentes concepções da vida se possam entender. Só através da cultura poderemos almejar um futuro melhor e deixar algo de que os nossos filhos e netos se possam orgulhar».

Por outro lado, o Presidente da República afirmou que o reconhecimento do mosaico como Tesouro Nacional «é simbólico, porque estamos a falar da história de Faro. Estamos a falar da herança, da linhagem, dos valores, dos princípios, das vivências que não mais deixaram de acompanhar este grande centro de difusão cultural e espiritual».

Marcelo reconheceu trabalho do MAPS

A Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), com sede em Faro, o MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da SIDA , contou também com a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, durante a tarde de segunda-feira, 31 de agosto.

O encontro, que deveria ter a duração de meia hora, estendeu-se por mais de uma hora. De acordo com o presidente daquela IPSS, Fábio Simão, foi um momento que já estava aguardado há mais de dois anos, quando surgiu o primeiro plano para a construção do Centro de Alojamento de Emergência Social (CAES), no Patacão.

«Conheceu as instalações, falou com todos os funcionários e mostrou-se sempre muito interessado no nosso trabalho. Fez questão de ficar a par de como tinha sido a quarentena e o estado de emergência e partilhou diversas experiências e realidades na temática das pessoas em situação de sem-abrigo. Foi uma pessoa muito atenta. Ouviu o MAPS e em relação ao CAES perguntou-nos em que poderia ajudar», contou ao barlavento Fábio Simão.

Depois de ficar a par das dificuldades do MAPS em conseguir apoios para as obras do Centro, o Presidente da República pediu que lhe fosse enviado um email com as diversas empresas já contactadas e quais os materiais que ainda são necessários.

«Disse que dentro dos conhecimentos dele vai tentar sensibilizar as entidades a ajudarem-nos. Reconheceu verdadeiramente o nosso trabalho, houve atenção e foi louvável. Para nós foi um momento único e superou todas as expetativas», concluiu Fábio Simão.