Marca Vela Algarve nasce na próxima época desportiva

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Ricardo José, presidente da direção da Associação Regional de Vela do Sul, sediada em Albufeira, e a sua equipa ambicionam reforçar a ação dos clubes e mudar o panorama até 2025.

Há um plano estratégico, motivação e ideias para impulsionar as várias vertentes da vela, sobretudo a formação de base, diz o dirigente desportivo e em entrevista ao barlavento.

barlavento: Qual é o estado atual da vela e da associação que preside?
Ricardo José: Antes de mais, dizer que a associação tem 40 anos de existência. Eu e a minha equipa abraçámos este projeto fez agora um ano, cientes da realidade, dos desafios e dos objetivos que temos pela frente. É uma equipa altamente motivada, jovem, conhecedora das modalidades e focada em dar o melhor de si em prol da vela algarvia. Desde logo, o nosso foco foi criar um projeto assente em três vetores: comunicação, promoção e resiliência. Contrariando todas as dificuldades inerentes à pandemia de COVID-19, a vela soube adaptar-se e desenvolveu uma atividade consistente, de acordo com as exigências sanitárias. Durante 2020 e 2021 houve regatas regionais e provas internacionais. Vilamoura acolheu a nata da nata internacional com os melhores velejadores do mundo, na preparação para os Jogos Olímpicos.

Em que distritos atua?
O nosso objetivo é promover, coordenar e desenvolver o desporto da vela dos distritos de Évora, Beja e Faro. O Algarve, dada a sua morfologia, concentra 100 por cento dos clubes da associação. São treze associados que desenvolvem atividade regular e constante. São considerados os clubes mais dinâmicos do país e constroem grandes velejadores. O Alentejo, apesar das especificidades do seu território, tem procurado com a ajuda dos clubes algarvios desenvolver a vela, nomeadamente na Barragem do Alqueva. A Câmara Municipal de Moura tem sido pioneira. O Alqueva conta com excelentes condições, até porque tem ventos muito específicos. Já a costa do Algarve é um ótimo campo de regata 365 dias por ano. Por isso é que somos tão procurados pelas mais diversas equipas de todo o mundo para vir treinar e participar em provas. Recentemente, tivemos em Lagos, a classe dos barcos Fórmula 1, o GC32, em treinos.

Dito isto, ainda assim, não acha que a vela deveria ser um desporto muito mais popular, sobretudo entre os jovens algarvios?
Claro que sim. Aliás, temos um plano estratégico de desenvolvimento da vela regional até 2025, e estamos a colocá-lo em prática. Os clubes têm feito trabalho de proximidade junto das escolas, alguns com bons resultados. Mas ainda existe a ideia de que a vela é um desporto de nichos. Não é verdade. É para todos. E enquanto que outras modalidades são praticadas num determinado horário ao fim de semana, a vela faz-se de manhã até à noite. Não é por isso que temos mais ou menos atletas, ou piores e melhores alunos, mas todos aprendem com o fair play, a camaradagem, a dinâmica e união que se criam neste desporto. Mas de facto, temos de trabalhar para que a vela chegue a mais jovens.

Dê-nos uma novidade…
Este ano, pela primeira vez, inserimos na competição o circuito foil, pioneiro em Portugal, que reúne três modalidades: windurf, kitesurf e o wing foil. Começámos com a primeira etapa na Fuzeta, em fevereiro. Recebemos atletas de topo da vizinha Espanha que ficaram maravilhados com as nossas condições. Em breve teremos a segunda etapa, em Portimão. Vamos também criar uma marca para agregar vários players num trabalho promocional conjunto. Queremos que a futura marca Vela Algarve, que é assim que se vai chamar, seja um fator de agregação de vários nichos de áreas de negócio em prol deste deporto. Os nossos primeiros patrocinadores são a cadeia de Hotéis Dom Pedro & Golf Collection e as unidades hoteleiras Pedras D’El Rey e as Pedras da Rainha. Isto significa que aos poucos começa-se a reconhecer a importância da vela. Para nós isto é gratificante e estamos recetivos a outras parcerias. Arrisco a dizer que a nossa associação vive 100 por cento de fundos provenientes da Federação Portuguesa de Vela. Portanto, temos de arranjar alternativas para criar aos nossos associados, velejadores e árbitros, mais oportunidades para que consigam fazer melhor o que lhes compete, que é dar formação e realizar competição. Em breve vamos alterar os estatutos, de acordo com a lei de bases do desporto, para, finalmente, elevarmos a associação a uma entidade de interesse público.

Rui Raimundo, Ricardo Magalhães, João Bento, Miguel Martinho, Nuno Encarnação, António Pontes, Ricardo José, Nuno Malheiro, Alexandre Madeira, Paulo Baptista e José Massapina. 

A marca Vela Algarve tem data para ser apresentada?
Será apresentada na próxima época desportiva. Neste momento está a decorrer a época 2021/2022, que vai até 30 de setembro, e a próxima terá início em outubro e será a de 2022/2023.

Será uma insígnia comum a todos os clubes?
Exatamente. E dará o mote a atividades como o Campeonato do Algarve de Vela Ligeira, de Vela de Cruzeiro e de Vela Adaptada.

Vai ser uma forma de angariar apoios e canalizar mais verbas para os clubes?
Sim, é isso que queremos. Queremos ter parceiros que se identifiquem com esta marca, com a modalidade, na qual vale a pena apostar. Também vamos subsidiar já este ano quem organizar uma prova do Campeonato do Algarve. Há mais de 30 anos que os clubes têm à sua responsabilidade todas as despesas de organização de uma etapa que custa, em média, mais de 1000 euros, entre troféus e toda a logística operacional. O objetivo é libertá-los disso.

Um incentivo para que façam mais e melhor?
Sim, sem dúvida. Com uma associação financeiramente estável, com contas controladas, com uma dinâmica própria na promoção, queremos estar mais presentes, valorizar e arranjar sinergias benéficas para todas as partes. Nem tudo é fácil, precisamos de apoios. Precisamos de ajuda das entidades, das câmaras municipais e precisamos dos organismos estatais, por um lado, para promover esta marca que vamos criar agora, e por outro, para nos ajudarem a dinamizar programas de apoio financeiro aos clubes. Criando esta simbiose de articulação de estruturas, vamos ter uma vela sustentável e uma economia circular mais duradora e mais dinâmica.

O que faz mais falta neste momento?
As condições os clubes têm. O Algarve, aliás, tem as maiores e mais modernas infraestruturas do país com marinas, portos de recreio, boas acessibilidades ao mar e os clubes sabem trabalhar tudo isto muito bem. Falta-nos a parte mais importante do sistema que é o financiamento, sobretudo para renovar frotas. Algumas são muito antigas, têm barcos com mais de 25 anos e precisamos de as modernizar. É o caso da classe optimist, de iniciação. Os clubes vão colmatando as falhas com a introdução de novas velas e com reparações constantes para manter tudo a funcionar. A verdade é que para termos mais velejadores, precisamos de mais embarcações. Ainda assim, o Algarve é a segunda zona do país com mais velejadores per capita.

Mas podemos ir mais além…
As embarcações que os clubes têm neste momento mostram-se insuficientes para o aumento de procura que está a existir. Tivemos um aumento de cerca de 11 por cento de 2020 para 2021 do número de licenças desportivas. Temos de criar condições para que essa base permaneça. O que acontece muitas das vezes é que um atleta experimenta o optimist, depois evolui e não tem barco para competir. Nem todos os pais podem fazer esse investimento.

Com toda a aposta e divulgação da criação de estações náuticas, isso não deveria ter sido um aspeto a considerar?
É uma boa questão. As estações náuticas são uma estrutura e um meio de promoção e de agregação importante a todo um conjunto de entidades que se podem associar ao mar. A questão da formação é diferente, está na base, nas escolas, nos municípios. Claro que se pode sempre aproveitar a ideia de estação náutica para se desenvolver a importância do desporto da vela.

Que mais esta direção tem na calha?
É importante referir que esta equipa herdou uma associação estável financeiramente e endereço publicamente o meu agradecimento à anterior direção porque trabalhou de uma forma sustentável. Queremos dar continuidade. Estamos a trabalhar com uma perspectiva de evolução e de futuro. Fizemos uma coisa inovadora que foi subsidiar os clubes, incentivá-los a terem as suas escolas certificadas pela Federação Portuguesa de Vela, que é um selo de qualidade que respeita uma série de regras e que promove o desporto de igualdade e mecanismos de formação uniformes. Vamos introduzir também uma novidade que é apoiar os clubes cujos atletas se apurem para campeonatos internacionais, para ajudar a custear essas despesas.

Diálogo com as entidades

Segundo Ricardo José, presidente da direção da Associação Regional de Vela do Sul, ao longo do último ano que desempenha o cargo «estamos a dialogar e mais próximos de um conjunto de entidades. Fruto disso é o reconhecimento da delegação de Faro do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), do Turismo do Algarve e da Direção Regional de Educação que, consideram a vela como um vetor importante de desenvolvimento desportivo e de alavancagem turística».