Há pessoas que, repentinamente, se destacam por um motivo qualquer e, com a mesma rapidez, desaparecem de cena. Outras, aparecem, evoluem, vão para o topo e mantêm-se lá. As últimas são, pode dizer-se, as que têm verdadeiro talento.
Há quatro anos (na edição de 6 agosto 2015), trouxemos a estas páginas Luís Costa, hoje com 46 anos, que tinha perdido uma perna num acidente de mota, em 2003, não se deixara abater, começara a praticar paraciclismo em 2013 e já estava selecionado para os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro, após ter alcançado bons resultados em Campeonatos e Taças do Mundo.
Na altura, Luís Costa estava prestes a assinar com o Sporting Clube de Portugal (SCP)e esperava melhorar o seu desempenho, porque iria ter o apoio necessário.
Quatro anos e um grande salto qualitativo depois, já tem garantida a presença nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020, embora de saída do SCP, clube que parece ter perdido o interesse pelas modalidades amadoras.
Entretanto, os seus resultados até 2015, que andavam pelo 5º lugar nas provas a contar para a Taça do Mundo e em 7º no Campeonato do Mundo, melhoraram a partir da experiência no Brasil, onde conseguiu dois oitavos lugares e dois diplomas paraolímpicos.
Conquistou quatro medalhas de prata e quatro de bronze em Taças do Mundo e o bronze na modalidade de contrarrelógio, no Campeonato do Mundo de 2017, na África do Sul.
É difícil quantificar as vitórias em provas da classe principal (C1), na Europa, Ásia e América do Sul. Na semana passada, enquanto escrevíamos estas linhas, Luís Costa competia na Taça do Mundo de Paraciclismo de Estrada, que decorreu em Baie-Comeau, no Canadá. Na quinta-feira, dia 8 de agosto, obteve o 9º lugar no contrarrelógio. No sábado, dia 10, conquistou o 8º lugar na prova de fundo. Ambas as provas foram ganhas pelo italiano Alex Zanardi.
No entanto, aquele que é o único medalhado em campeonatos do mundo da sua modalidade e o homem que arrecada mais pontos para a entrada de Portugal nos jogos paraolímpicos, já conseguiu obter um lugar para correr no Japão. Aliás, prepara-se afincadamente para conseguir outro, para levar um colega.
E depois de Tóquio? Sem um clube financeiramente forte e sem patrocínios, será difícil voltar a qualificar-se, porque só competirá pela equipa nacional e falhará as outras competições, no estrangeiro, com custos de deslocação elevados.
«E para alinhar pela equipa nacional, tenho de ir às outras competições lá fora e mostrar que é um bom investimento apostar em mim. Se tivesse patrocínios, resolvia a situação. Caso contrário, só farei três ou quatro provas por ano, sendo difícil conseguir uma vaga. E não há escolas de formação, como no futebol, para despejar jovens atletas todos os anos. Como sou o atleta que arrecada mais pontos para o país, a presença de Portugal em Paris, em 2024, também ficará comprometida», explicou ao «barlavento».
Por outro lado, se muitos países apostam na profissionalização destes atletas, tal não acontece em Portugal. «Recebo uma bolsa mensal por ser atleta de alto rendimento e que vai ser o meu suporte financeiro», disse-nos Luís Costa. «Mas gasto entre 120 e 150 euros mensais em suplementos alimentares. A minha handbike está avaliada em 25 mil euros e a sua manutenção é cara. Faltam empresas locais interessadas em patrocinar. Tenho créditos firmados, historial e presença garantida a 99 por cento em Tóquio. Seria uma boa aposta, e os interessados em apoiar-me poderiam ter uma oportunidade de se destacarem do ponto de vista social», detalhou.
Embora seja embaixador de Portimão, Cidade Europeia do Desporto, este atleta diz que nunca pediu nada, «porque as autarquias apoiam sobretudo as entidades coletivas e não os atletas individualmente. E, até ao momento, representava um clube, o SCP, que nada tem a ver com o Algarve».
O desafio fica assim lançado. Senhores empresários, não vos dará grande satisfação ter um atleta desta categoria a promover a vossa imagem? Senhores edis portimonenses, não haverá maneira de ajudar um vosso comissário para o desporto a continuar no topo do desporto para-olímpico mundial, levando as cores locais e nacionais pelo mundo?