barlavento – Como surgiu a ideia de criar o Loulé Design Lab (LDL)?
Henrique Ralheta – Nasce de um desafio lançado pela Câmara Municipal de Loulé, para a ocupação do espaço do Convento Espírito Santo, onde funcionou o extinto Instituto Superior Dom Afonso III (INUAF), em incubadora para designers e empreendedores das áreas criativas. Isto aconteceu na sequência da Residência Designers de Loulé, em que, durante o processo de pesquisa, nos envolvemos a fundo com as questões da cultura e da produção local e criámos uma visão para o território que, no fundo, se alinhou com as estratégias que a iniciativa «Loulé Criativo» tem vindo a estabelecer nos últimos anos. Para nós é muito claro que, muita da competitividade deste concelho passa pelas questões da identidade, da cultura e da produção local. Por isso, acreditamos que é urgente injetar energia criativa para revitalizar áreas que têm perdido interesse, mas que podem ser importantes polos de desenvolvimento económico.
Que eventos querem desenvolver?
O LDL tem vários eixos de ação. Além do acolhimento e incubação de criadores, teremos a vertente da inovação e investigação aplicada à produção local, a colaboração com programas de formação e transmissão de saberes, um laboratório de criação e desenvolvimento de novos produtos e a programação regular com residências, workshops, exposições, conversas com experts e criadores, conferências e seminários de empreendedorismo.
Como será constituído o espaço e a quem se destina?
Vamos ocupar parte do primeiro andar do claustro do Convento. Temos três salas de trabalho partilhadas, uma oficina equipada com algumas máquinas e ferramentas para prototipagem, incluindo uma impressora 3D, uma sala multiusos para reuniões, apresentações e workshops. Teremos ainda um espaço de showroom, e as arcadas do próprio claustro serão equipadas com mesas de trabalho. O espaço destina-se a designers, novos artesãos e outros empreendedores das áreas criativas. O que queremos é constituir uma comunidade criativa, altamente envolvida com a economia e a cultura local e que consolide Loulé como cidade criativa.
Na prática, como funcionará?
O que oferecemos são condições para o desenvolvimento de projetos e de ideias de negócio. A ocupação dos espaços pode ir desde poucas horas até três anos, conforme as modalidades. Nas modalidades temos os residentes, que são projetos criativos que usufruem dos espaços e serviços do LDL, os residentes encubados – em que é acrescentado o apoio à criação e viabilização de negócios e em que é disponibilizada mentoria específica em parceria com o CRIA (Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia) da Universidade do Algarve. Por fim, teremos os utilizadores pontuais que são membros da comunidade criativa, os quais poderão requisitar os espaços e equipamentos de forma pontual. Como contrapartida, cada residente contribui com dez horas para um banco de tempo criativo, por cada mês de permanência no espaço, que poderão ser utilizadas em iniciativas e projetos do LAB LDL ou a prestar serviços à própria comunidade.
Porque foi escolhido o Convento Espírito Santo?
Porque está no centro nevrálgico da cidade. Agrada-nos esse lado simbólico de operar a partir do centro, a transformação criativa da cidade. E depois temos o lado prático que é parte dos argumentos do LDL: a vivência da urbana, todos os serviços acessíveis a pé, a relação próxima com as novas oficinas locais de artesanato, também instaladas no centro histórico e o facto de o espaço ser altamente inspirador.
O que irá distinguir este «laboratório artístico»?
O LDL procura ter uma relação muito próxima com a comunidade. Tem definido à partida uma rede de parcerias que permite implementar uma espécie de «Cidade FabLab» em que, além da nossa oficina interna, se pode contar com a colaboração ou até com a utilização dos equipamentos das oficinas de Loulé. Queremos que isto represente um movimento criativo que faça com que a cidade olhe para si de outra forma, e que com isso se atraia interesse, visitantes, novos projetos e novas dinâmicas económicas. O sistema de trocas colaborativas em que consiste o banco de tempo criativo, é uma alternativa a contrapartidas financeiras, e é uma forma de promover essa cultura de partilha e sentido de comunidade.
Estão abertas as inscrições para a primeira geração de residentes, até 11 de agosto. Quantas vagas há e quem se pode candidatar?
Nesta primeira fase temos disponíveis 12 vagas em salas partilhadas e duas em oficina. Podem candidatar-se, individualmente ou em equipa, designers, makers e outros criadores que queiram desenvolver os seus projetos e protótipos, e quaisquer empreendedores das áreas criativas que tenham ideias que queiram transformar em negócios ou negócios em início de vida.
Há alguma programação especial para a abertura a 4 de setembro?
Essa data representa apenas o arranque do funcionamento. A primeira abertura pública acontecerá no âmbito do Desassossego dos Arcos, no início de outubro.
O primeiro evento promovido pelo LDL será o projeto Casa Animal, correto?
Sim. Convidámos a Bienal BOCA a trazer a Casa Animal a Loulé. É um projeto dos Musa Paradisíaca que consiste em uma escultura/monumento/palco itinerante que, em cada sítio que visita, convida à ocupação por parte da comunidade. Foi isso que nos levou a identificar-nos com o projeto e a achar que era algo que podíamos oferecer à população para marcar o arranque do LDL, que se quer participativo. Enquanto espaço de apresentação, a Casa Animal pode albergar, performances, conferências, concertos, conversas e projeções de filmes. Vamos lançar um repto à comunidade criativa e abrir o Casa Animal aos projetos locais. O LDL aberto estará de portas abertas com uma série de workshops e atividades para dar a conhecer o espaço aos visitantes.
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Para mais informações, os interessados em submeter uma candidatura devem consultar o website www.louledesignlab.pt