Um grupo de investidores nacionais, liderado por João Brion Sanches, chegou a acordo com a norte-americana Lone Star para a aquisição da Vilamoura World (Lusotur).
O negócio foi financiado pelo fundo britânico Arrow Capital, que detém as sociedades portuguesas Whitestar e Norfin (que fazem a gestão e recuperação de ativos de malparado e imobiliário), e um conjunto de investidores privados.
A operação foi apoiada pela Norfin, que assume também funções de consultoria na gestão futura de Vilamoura.
João Brion Sanches, que será o novo CEO da Vilamoura (Lusotur), explica que «ninguém é verdadeiramente dono de Vilamoura. Este grupo de investidores pretende ser o guardião deste património, orientá-lo e cuidar bem dele para as próximas gerações».
O novo responsável do projeto turístico garante que «temos uma visão de médio-longo prazo para a região, que passa pelo desenvolvimento de um produto sustentável e de qualidade, de forma a poder afirmar-se como o melhor destino do Algarve para viver, investir e passar férias, tanto para nacionais como para estrangeiros».
A gestão portuguesa da Vilamoura World (Lusotur), que gere a Marina, o Centro Equestre, o Parque Ambiental e o Núcleo Museológico do Cerro da Vila vai desenvolver o projeto de expansão já aprovado.
«É muito importante para nós e representa um investimento essencial para o Algarve, numa altura em que o país e a economia ainda tentam recuperar dos fortes impactos provocados pela pandemia», acrescenta Francisco Sottomayor, CEO da Norfin.
A transação compreende 100 por cento do capital social da Vilamoura World (sociedade que gere todos os ativos), 21 lotes de terreno para desenvolvimento, 49 por cento da Inframoura (empresa municipal que gere as obras públicas de Vilamoura) e, por fim, o Centro Equestre e a Marina, que é o ativo mais interessante do conjunto. A concessão da marina é válida até 2060.
O Centro Equestre, considerado um dos maiores e melhores da Europa, com quatro arenas, das quais três em areia e uma em relva, tem capacidade para receber em permanência 870 cavalos em boxes individuais, sendo palco do Vilamoura Atlantic Tour e do Vilamoura Champions Tour, provas que selecionam equipas para os Jogos Olímpicos e mundiais de obstáculos.
Os novos proprietários de Vilamoura ficam também, na posse do parque ambiental com 200 hectares de área protegida e que será «totalmente reabilitado», além do núcleo museológico do Cerro da Vila.
Ao longo dos últimos anos foram concluídos vários projetos em Vilamoura, que resultaram em 704 habitações no período pré-crise (Victoria Boulevard, The Victoria Gardens, primeira fase do L’Orangerie, Villa Rosa Golf, Monte Laguna, The Victoria Residences e Laguna Golf) e 219 no período pós-crise (Gardens Vilamoura, Laguna Village, primeira fase do Uptown, segunda fase do L’Orangerie, Villa Nature e a primeira fase do Central).
Entre os vários projetos idealizados para o futuro, contam-se 3.658 unidades habitacionais, num total de 566.374 metros quadrados.
«1000 milhões» a caminho de Vilamoura
A história de Vilamoura remonta a 1960, quando o banqueiro português Cupertino de Miranda comprou terrenos para construir um resort que viria ter fama internacional. As obras arrancaram em 1966 e, três anos depois, foi inaugurado o primeiro campo de golfe, seguindo-se a Marina, em 1974. Durante a década de 1980, foram muitos os hoteleiros que aplicaram capital no projeto.
Seguiu-se a abertura do Casino e, na década de 1990, o Grupo André Jordan comprou Vilamoura, vendendo-a mais tarde em 2004 aos espanhóis da Prasa, seguindo-se os cinco campos de golfe que existiam na altura, alienados aos irlandeses da Oceânico em 2007. Quatro anos mais tarde, em 2011, a holding que detinha o resort acabou por ir para as mãos do banco espanhol Catalunya Caixa.
O barlavento esteve presente aquando da entrada histórica do fundo de investimento privado norte-americano Lone Star, que anunciou uma disponibilidade de «1000 milhões de euros», ao abrigo do «Master Plan», para investir em Vilamoura.
A intenção foi apresentada com pompa e circunstância, no dia 8 de setembro de 2015, pelo então CEO Paul Taylor.
Na altura, António Pires de Lima, ministro da Economia, afirmou que este era um «projeto turístico que irá relançar a vitalidade de Vilamoura nos próximos anos».
Ao longo do seu discurso, fez questão de frisar pelo menos, por quatro vezes, o «investimento de 1000 milhões de euros».
A Lone Star, atual dona do Novo Banco, comprou tudo numa «oportunidade» de negócio e em 2016 adquire os cinco campos de golfe que estavam, na altura, nas mãos da Kay CC Portugal, uma parceria entre a Keith Cousin e o Grupo Dom Pedro Hotels. Ficava assim com Vilamoura na mão. No final de 2017, colocou tudo à venda.
«Cidade Lacustre» chumbada mas não esquecida
Aquando da venda da Lusotur ao grupo espanhol Prasa, em 2004, por 380 milhões de euros, o arquiteto Rafael de la Hoz desenhou o projeto do empreendimento, que chegou a ser apresentado no Salão Imobiliário de Lisboa, no final de outubro de 2007.
A ideia de uma nova urbe de luxo, uma espécie de Veneza moderna, com canais de navegação para os donos de iates poderem ancorar as suas embarcações à porta das vivendas, prometia atrair bilionários de todo o mundo. A água, contudo, não correu o curso previsto. No rescaldo da crise financeira, o fundo texano Lone Star adquire os ativos do resort algarvio.
Durante a sua (muito) curta passagem por Vilamoura, Juan Gómez-Vega, o CEO que veio substituir o britânico Paul Taylor, admitiu ao barlavento que aquele «era um conceito errado», numa entrevista realizada em fevereiro de 2017.
No entanto, a Lone Star adaptou o projeto que já tinha sido pensado por André Jordan no passado, e chamou-lhe «Vilamoura Lakes». Previa 1.777 habitações (uso residencial e turístico), numa área total de 283 mil metros quadrados.
«É o filet mignon do nosso banco predial», disse na altura o gestor argentino ao barlavento. O reformulado projeto representava um investimento de 652 milhões de euros e incluía ainda restaurantes, espaços de comércio e lagos artificiais de água salgada, cuja criação iria mudar a paisagem daquela zona sensível do concelho de Loulé.
O que nunca mudou, contudo, foi a contestação dos ambientalistas, sobretudo da Associação Almargem, que em abril de 2014 apresentou queixa contra o Estado português junto da Comissão Europeia. Ainda assim, o projeto da «Cidade Lacustre» foi potenciado pelo reconhecimento como Projeto de Interesse Nacional (PIN) em 2018.
Depois de forte contestação por parte de várias ONG e de movimentos da sociedade civil, nem a revisão e adaptação foram suficientes para obter o levar avante.
Em maio de 2020, a Câmara Municipal de Loulé chumbou o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e, em novembro, foi a vez de a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve mostrar um parecer negativo.