Lisbon School of Design traz novas formações a Faro e pisca o olho ao turismo

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Paulo Jorge Pereira, coordenador pedagógico da nova delegação de Faro da Lisbon School of Design (LSD) revela alguns dos objetivos e novidades. Aulas começam dia 2 de outubro.

barlavento: Qual vai ser a aposta inicial na capital algarvia?

Paulo Jorge Pereira: Começámos este projeto há cerca de três anos. Fizemos um estudo de mercado para perceberemos se a vinda da Lisbon School of Design (LSD) teria impacto na região algarvia, se seria relevante e, se sim, quais os nossos cursos que poderiam fazer mais sentido. Os resultados coincidiram com alguns já lecionados nas nossas escolas de Lisboa e Porto e, assim, vamos iniciar em Faro com oito cursos. Isto é, temos cinco cursos anuais com a duração de nove meses: Design de interiores; Design de Moda; Modelagem; Design Gráfico e Web Design & Development. E três cursos de especialização com a duração de quatro meses: Garden Design; Visual Merchandising & Retail Design e UX/UI Design. Todos são Certificados pela Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

Qual é o vosso público-alvo?

Interessa-nos como os alunos saem, não como chegam. Em Lisboa e Porto somos, desde o primeiro dia, uma escola eclética e, pelas inscrições que já temos em Faro, também o seremos. Não há só uma faixa etária definida; temos várias. Desde os 18 anos (ou 16 com o aval dos encarregados de educação) até aos 60 ou mais. A LSD não define pré-requisitos para o acesso à grande maioria dos seus cursos nem exige qualquer tipo de experiência e/ou portfólio. Os alunos inscrevem-se e começam a formação. O método de ensino, conhecido por «aprender fazendo», ou learning by doing, foi concebido para lidar com uma considerável heterogeneidade na grande maioria das turmas. 

Como vão funcionar as aulas?

São oito horas semanais, divididas em dois blocos de quatro horas, para qualquer curso, independentemente da sua duração. Esse é o nosso modelo. Há vários horários disponíveis: apenas manhãs, tardes, pós-laboral, sexta-feira e sábado, de manhã e tarde.  

E que pode dizer em relação ao corpo docente/formadores?

O corpo docente está formado, sobretudo, por profissionais da região, alguns dos quais ex-alunos da LSD. Esta opção justifica-se por questões de proximidade, de conhecimento e identificação com a região, hábitos diversos, entre outras. Tal como disse no início, queremos ser relevantes e ter um impacto positivo na região. Vejo muitas possibilidades para o ensino do design e para o impacto que possa criar.  

O turismo é o motor económico da região. Terá de haver pontos de contacto, certo?

Claro. O curso de Design de Interiores, que é o que tem mais inscrições até agora, pode responder à necessidade de renovação de hotéis, de alojamentos locais, apartamentos para férias, restaurantes e similares. Facilmente se cruza com a atividade turística algarvia. O mesmo é válido para o curso de Design de Moda, pois existem diferenças ao nível de projeto final em Lisboa e no Porto, devido ao tecido empresarial que existe nessas áreas. Na capital, os projetos dos alunos são mais conceptualistas. No Porto são mais ligados à indústria (têxtil). Em Faro, per si, estamos a falar por exemplo em fardamentos, moda de praia, embora o objetivo desta formação seja muito mais abrangente. O mesmo poderei referir em relação ao Garden Design e ao Visual Merchandising. E o futuro pode ajudar-nos a identificar outras necessidades e oportunidades. Por exemplo, garantindo o cumprimento dos requisitos da certificação, podemos lançar um curso de especialização de fotografia de comida – Food Styling, vocacionado para a restauração, ou fotografia de arquitetura, na área do imobiliário. 

Paulo Jorge Pereira, coordenador pedagógico da nova delegação de Faro da Lisbon School of Design (LSD) revela alguns dos objetivos.
Paulo Jorge Pereira, coordenador pedagógico da nova delegação de Faro da Lisbon School of Design (LSD).
Já estão a construir uma rede de parceiros locais?

Sim. Queremos manter uma boa relação com todas as forças vivas da região, colaborar com a dinamização da cidade e da região, embora mantendo uma postura independente. Queremos participar, por exemplo, na próxima edição do Algarve Design Meeting (ADM) de uma forma mais comunicativa e estamos a tentar estabelecer parcerias com algumas entidades privadas, sobretudo ao nível de estágios curriculares. Já temos algumas em fase de definição de protocolo. Uma das parcerias que já estabelecemos é com o Designer Outlet Algarve, em Loulé, onde teremos a partir de dia 21 de setembro uma loja temporária para os últimos 10 dias de promoção dos nossos cursos e onde faremos campanhas especiais de última hora (last call). Teremos, também, uma pequena mostra de trabalhos de ex-alunos das escolas de Lisboa e Porto. Confesso que estou muito satisfeito e até impressionado com a recepção que a LSD tem tido no Algarve, pelo interesse que as pessoas demonstram pela nossa vinda e acho que vai ser um ano muito interessante, logo assim que abrirmos portas.

Que pedem aos parceiros em relação aos estágios?

Pedimos que a experiência para os nossos alunos seja boa. Que tenha impacto no seu processo de aprendizagem. Só isso. E é quase tudo. Alguns dos estágios serão remunerados, outros não. A LSD é quase como um intermediário em todo o processo, mas exige respeito e transparência para com os seus alunos.

Além das atividades letivas, estão a pensar noutras coisas para o público?

Temos uma agenda de atividades extracurriculares, que denominamos de talks, já dinamizadas em Lisboa e Porto. São masterclasses ou apresentações de produtos, entidades ou empresas que, de alguma forma, podem aumentar ou melhorar os conhecimentos dos nossos alunos nas diferentes áreas dos cursos que lecionamos. Convidamos empresários, técnicos e outros profissionais. Tentamos fazer essas atividades dentro ou fora da escola. As talks estão muito vocacionadas para os alunos, mas aqui no Algarve, gostaria que fossem também abertas ao público, para levar as pessoas à escola, ou a escola às pessoas, e não apenas em Faro, mas também noutras zonas da região. Estas atividades também servem para os alunos conhecerem o mercado de trabalho, estabelecerem contatos com empresas, com isso, sentirem-se mais seguros.  

A escola tem instalações próprias na baixa de Faro. Significa que veio para ficar. Que planos para o futuro?

A partir de uma determinada altura, percebemos que tínhamos um considerável número de alunos oriundos da região algarvia. Isto levou a direção a pensar: porque não? Por isso, a LSD veio para ficar. É isso que temos em mente e, se tudo correr dentro da normalidade, assim será. No futuro pensamos em aumentar a nossa oferta formativa, e numa outra missão que será transversal a todas as escolas e, muito ligada às questões do ambiente, que é ajudarmos a salvar os oceanos. Ou seja, estamos a desenvolver um conjunto alargado de cursos cuja matéria-prima são plásticos recuperados do mar, lixo marinho e materiais reciclados com o uso de tecnologias como a impressão 3D. Outro objetivo transversal a todas as escolas, e que já está em fase adiantada de desenvolvimento, são os cursos de formação para empresas, de 40 horas. 

Os residentes estrangeiros e os nómadas digitais também vos interessam?

Sim, claro. Levar o ensino do design a todo o lado é uma das missões da LSD. Nas escolas de Lisboa e Porto, este ano, já vão começar a ser lecionados cursos totalmente em inglês. Já temos algumas turmas cheias e até já há uma lista de espera. Além disso, estamos a fazer esforços para começarmos a ter cursos híbridos ou online. Ainda estamos em fase de desenvolvimento. Será transversal às três escolas.

A vossa formação é cara?

Não tenho essa opinião. Os preços aproximam-se de outras ofertas que existem no mercado e refletem a qualidade do nosso processo formativo. Para lidar com a crescente dificuldade financeira que hoje se verifica, este ano a escola dá pela primeira vez a possibilidade de os alunos pagarem os seus cursos até 24 meses e não em 12 como era até aqui.

Vão aderir à medida Cheque-Formação + Digital do governo?

A grande maioria dos nossos cursos é elegível, incluindo aqueles que vamos abrir na capital algarvia. Temos recebido inúmeros pedidos de informação e esclarecimentos, também de Faro, porque os alunos têm dúvidas em relação ao processo de candidatura. Temos estado a apoiá-los o mais possível e a ajudá-los a formularem candidaturas elegíveis. Ainda assim, também devo esclarecer que a decisão final é do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que é quem avalia e financia.   

Como descreve o vosso ensino, por exemplo, comparativamente ao superior?

Nunca nos posicionamos enquanto concorrentes da universidade. O ensino académico tem características muito próprias, é teórico e prolongado no tempo. Hoje vivemos numa sociedade do imediato. Quem nos procura, muitas vezes quer mudar de profissão ou exercer outra diferente, nem que seja em part-time, e quer uma formação prática, célere e que lhe dê competências. Isso é possível. Além de ser o coordenador da escola de Faro, sou formador em Lisboa, na área do design de calçado, há oito anos. Recordo que tive um aluno que não sabia desenhar e considerava isso um obstáculo. Ao longo dos nove meses do curso fomos trabalhando as competências de representação visual, o desenho e a proporção anatómica. Acabou por ser o melhor aluno e ao mesmo tempo foi pai. Trabalhava numa área que nada tinha a ver com design. Portanto, quando as pessoas querem, dedicam-se e os nove meses são suficientes. Mas é preciso trabalhar. Nós temos a nossa responsabilidade formativa. O aluno também tem de ter a sua e de responder aos desafios que lhe são propostos dentro e fora da sala de aula. Isso é algo que valorizamos muito. E porquê? Porque a dedicação, a capacidade de trabalho e a evolução que o aluno nos vai transmitindo é um indicador de como se irá comportar e posicionar no mercado de trabalho.