A qualidade da construção naval que estava a ser desenvolvida de forma ilegal numa antiga instalação fábrica de plásticos desativada na zona do Bom João, em Faro, surpreendeu as autoridades.
Em conferência de imprensa no local, as autoridades revelaram que foi montada uma operação para apanhar em flagrante e à luz do dia, um grupo de que dedicava à construção de lanchas rápidas suspeitas de serem utilizadas em operações de tráfico de droga, com capacidade de transportar três toneladas de fardos de haxixe no casco aberto, a uma velocidade máxima que pode atingir os 60 nós.

As autoridades conseguiram apreender três lanchas semirrígidas de 12 metros, uma das quais praticamente completa, à qual apenas faltava instalar os motores e alguma componente eletrónica, outra em fase mais atrasada embora também já em processo final de construção e outra uma em formato modular, em fibra de vidro.
Suspeita-se que as embarcações seriam transportadas por camião, de forma insuspeita e lançadas à água fora de território português, possivelmente já na vizinha Espanha.

«Segundo presumimos, saíam daqui em camiões e eram lançadas à água fora de Portugal», disse aos jornalistas o responsável pela diretoria do Sul da Polícia Judiciária (PJ), António Madureira, que admitiu estar perante uma situação «atípica» que o deixou «surpreendido», até pela qualidade do trabalho que estava a ser desenvolvido às escondidas.

Nuno Marinho, comandante do destacamento de Olhão da Unidade de Controlo Costeiro (UCC) da GNR, que também faz parte da investigação em curso disse que seria arriscado tentar colocar uma destas embarcações na água, sem ser detetada pelas autoridades.
A investigação que culminou na identificação de quatro cidadãos espanhóis, já durava «há semanas», segundo confirmou António Madureira, aos jornalistas.
Não há provas que as embarcações se destinavam ao tráfico de estupefacientes, embora tudo indique que estavam em marcha «atos preparatórios» para atividades ilícitas.

As embarcações, construídas de forma artesanal, não têm número de série e segundo as autoridades são muito semelhantes a outras que têm vindo a ser apreendidas na costa portuguesa.
Quando as autoridades entraram na antiga fábrica de plásticos, os homens estavam em plena labuta. Alguns dos componentes de navegação instalados na lancha que estava quase pronta indiciam algum uso anterior.
A PJ já pediu ajuda às congéneres espanholas para terminar se os suspeitos têm cadastro criminal.

Fernando Rocha Pacheco, comandante da Zona Marítima do Sul, detalhou que a grande vantagem desde tipo de embarcações é a capacidade de cruzeiro a alta velocidade, podendo alcançar 60 nós, o que equivale a mais de 100 quilómetros por hora.
Num itinerário de tráfico de haxixe, por exemplo, uma viagem entre a costa de Marrocos e a do Algarve poderia ser feita, «entre seis a sete horas», com os fardos a viajar diretamente em cima do convés.

A operação resultou de um esforço conjunto entre as três autoridades policiais.