Organização espera ter 600 vinhos nacionais no primeiro Concurso Cidades do Vinho em Lagoa. Todos terão inscrição válida para a competição europeia Città del Vino, em Itália, em maio de 2021.
José Arruda, secretário-geral da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), esteve esta sexta-feira, dia 16 de outubro, na Quinta dos Vales, em Estômbar, para apresentar os objetivos da competição que Lagoa irá acolher entre os dias 26 a 29 de novembro, no Convento de São José.
«O Concurso Cidades do Vinho é o único no mundo que associa vinhos e territórios. Tanto aqui, como em Itália, além dos produtores, temos os municípios associados. Quando um produtor ganhar um prémio, o seu município também o receberá». Lagoa foi a cidade selecionada para acolher a estreia deste concurso entre mais duas candidatas (Lamego e Pico).
«No primeiro dia teremos uma prova de vinhos do Algarve com uma apresentação a todo o júri. Nos dois dias seguintes vamos fazer oito visitas a produtores da região. São cerca de 40 pessoas que vêm de todo o país, de Espanha e de Itália para conhecer a realidade algarvia. Vamos promover a atividade vitivinícola e o enoturismo do Algarve», detalhou o secretário-geral.

No concurso, cada tónico será avaliado por um júri de 33 pessoas, presidido pelo enólogo António Ventura. No entanto, foi ainda criada uma Comissão Técnica Científica, com cinco pessoas, presidida pelo investigador António Curvelo-Garcia e ainda uma Comissão de Honra com 90 presidentes de Câmaras e 30 entidades, presidida por Vasco Avillez.
Segundo José Arruda, esta competição destacou-se logo no momento da sua primeira apresentação, a 25 de setembro, em Cascais, com o alto patrocínio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. «É o único concurso de vinhos, até hoje, com este apoio», sublinhou.
Mas a relevância não se esgota por aqui. Todos os vinhos inscritos estarão também em avaliação no concurso europeu Città del Vinho, em Itália, em 2021.
Apesar das inscrições só estarem encerradas a 30 de outubro, já se estimam que 600 vinhos entrem no desafio.
Ainda segundo o secretário-geral, trata-se «de um número muito interessante tendo em conta que no ano passado, no concurso europeu levámos 230 tónicos portugueses. Em maio do próximo ano poderemos ter seis centenas. O país anfitrião leva 1100, portanto vamos estar muito equiparados à oferta dos italianos».
Por fim, José Arruda deixou um recado: «Lagoa, neste momento, é um dos municípios com mais inscrições, com 22 vinhos. O Algarve é já a terceira região com mais tónicos inscritos. Temos uma adesão significativa de todos os produtores algarvios e isso é um trabalho excelente».
Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, no uso da palavra mostrou-se «satisfeito e orgulhoso» por acolher o evento. «Temos uma grande tradição. Durante bastante tempo, o nosso concelho foi referência regional e nacional enquanto produtor de enorme qualidade», lembrou.

O autarca de Lagoa enalteceu também o foco no enoturismo. «Na minha opinião, tem um enorme potencial para ajudar a mitigar a sazonalidade que é um dos fatores que afetam a nossa economia. Temos aqui uma oportunidade de negócio que não podemos descurar».
Por sua vez, José Calixto, presidente da Rede Europeia das Cidades do Vinho e membro da Comissão de Honra do Concurso, dirigiu-se ao autarca lagoense.
«No início olhávamos com alguma desconfiança para o vinho algarvio. O percurso que fizeram é notável, não só em termos produtivos como em termos da valorização do produto e em tudo o que é criação de valor, canais de venda, enoturismo e na qualidade. Com esta sequência de proatividade do município de Lagoa, felicito o presidente por todo o trabalho que é feito dentro e fora do território».

Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), uma das entidades que integra a Comissão de Honra do Concurso, destacou também o enoturismo para o Algarve, como um «produto muito importante. Há turistas que vêm cá especificamente pelos vinhos e este tipo de eventos valoriza bastante a nossa oferta turística».
Mário Dias, vice-presidente da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, considerou o vinho e o enoturismo com uma «alavanca que se diferencia do turismo de sol e praia. Na região foi reconhecida a Dieta Mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade. Não conheço uma zona mais mediterrânica, sem desprimor, do que a região do Algarve. Também não consigo encontrar mais produtos, mais associados à Dieta Mediterrânica do que o vinho. Diria que estamos perante uma oportunidade de ouro».
Uma expetativa partilhada pelo enólogo António Ventura, presidente do júri. «O Algarve tem feito um trabalho extremamente meritório em termos da qualidade dos seus vinhos. E esta é provavelmente a região portuguesa que mais capacidade tem para levar a cabo o enorme trabalho do enoturismo. No futuro vai ter muito mais sucesso do que o que já tem e especulo que este concurso possa ser um enorme sucesso» para o Algarve.

Michael Stock, da Quinta dos Vales, quis dar a sua opinião em representação dos produtores algarvios. «Recentemente começámos um novo projeto que é o próximo passo do enoturismo, não só a combinação da agricultura e do turismo, mas mesmo a integração. Aqui temos hoje sete parcelas de vinho que têm proprietários privados. Todos os vinhos produzidos daquelas parcelas têm todas as decisões tomadas pelos proprietários. Nós só fazemos o trabalho. O resultado disso é termos um cliente para a vida» fiel ao destino e ao vinho algarvio.

Pandemia obrigou sector a reinventar-se
A crise económica provocada pela conjuntura atual da COVID-19, foi um dos temas mais abordados na apresentação do Concurso Cidades do Vinho. Pedro Ribeiro, presidente da AMPV, afirmou que a palavra de ordem para todos os produtores tem sido: «reinvenção».
«O sector em Portugal reagiu muito bem. O Algarve, com toda esta oferta diversificada, respondeu muito bem, sem prejuízo das perdas que existiram, e que quando esta fase for ultrapassada, vamos ter muito mais para oferecer do que aquilo que tínhamos antes. Todos os produtores reagiram e reinventaram-se no digital com novos perfis de consumidores, novos mercados e outros canais de distribuição. Somos o terceiro país no mundo com mais diversidade de castas. Somos o 11º produtor mundial e o oitavo mais exportador. Este sector já representa para as nossas exportações, um valor acima dos 800 milhões de euros».
Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) e membro da Comissão Técnica Científica, sublinhou que «muito nos apraz, que em tempos difíceis, os produtores possam querer participar neste tipo de iniciativas que trazem uma maior notoriedade para os vinhos do Algarve e para a nossa região deveras desconhecida por uma grande parte do público português e a nível internacional. Somos um nicho, a região mais pequena a nível continental e estas iniciativas fazem-nos projetar».

Por fim, Francisco Serra, presidente da presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, um dos membros da Comissão de Honra do Concurso, mostrou-se positivo e com esperança no futuro. «Em momentos de crise e de desenvolvimento fora da normalidade daquilo que é tradicional, há sempre oportunidades por descobrir e novos caminhos. A minha mensagem é que como região devemos potenciar alternativas e oportunidades para diversificar a economia».

Lagoa candidata-se a Cidade Europeia do Vinho 2022
Durante a apresentação do primeiro Concurso Cidades do Vinho, na Quinta dos Vales, em Lagoa, José Arruda, secretário-geral da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), revelou que para 2022 «estamos a candidatarmo-nos para organizar, no âmbito da Rede Europeia das Cidades do Vinho, o concurso europeu das cidades do vinho, em Portugal. Ou seja, em 2022, será um município português que será escolhido como Cidade Europeia do Vinho». Posto isso, Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, deu a notícia que, numa parceria entre os municípios de Albufeira, Lagoa, Lagos e Silves, o Algarve irá candidatar-se e poderá ser escolhido como Cidade Europeia do Vinho.