Descobrir os trilhos do Algarve profundo, em harmonia com a natureza é a missão da «TN Nature Tours», uma start-up familiar que leva os turistas em passeios confortáveis de todo-o-terreno. Ideia tem tido adesão e o objetivo agora é duplicar a frota e as viagens.
A caminho do Zebro de Cima, não muito longe de São Bartolomeu de Messines, Manuel Borges pastoreia um rebanho de cabras algarvias, pela soalheira da manhã. Nelson Palma, 33 anos, engenheiro mecânico especializado no ramo automóvel e Tânia Neves, 31 anos, licenciada em Ciências da Comunicação, param o Toyota Land Cruiser para o cumprimentar sem pressas.
É o melhor exemplo do que faz a «TN Nature Tours», a pequena empresa turística que ambos fundaram há cerca de dois anos e que tem vindo a aumentar o volume de negócio. Trabalham todo o ano, mas com especial incidência na época baixa e posicionam-se num mercado mais sénior e desafogado do ponto de vista financeiro.
«Este não é um produto para massas, mas de nicho. Há um perfil comum nos clientes que nos procuram. São pessoas mais seniores que querem ter uma experiência diferente e que têm tempo e curiosidade de ver um Algarve sem maquilhagem», explica Tânia Neves.
«Acham graça ao conceito dos safaris de jipe, mas preferem algo mais calmo, mais confortável e que lhes permita apreciar a natureza. Mas também já temos passeado casais jovens e famílias com crianças». Em termos de nacionalidades, já se sentaram no banco alemães, britânicos, belgas, holandeses e até os «portugueses já começam a ter interesse e a querer saber as condições e o que temos para mostrar».
Manuel Borges pastoreia um rebanho de cabras algarvias. Há tempo para parar e apreciar esta raça algarvia A viagem continua devagar. Por trilhos do interior entre os concelhos de Silves e Loulé. A caminho do segundo ponto mais alto do Algarve A destilaria de medronho de Eléuterio Guerreiro, nas Águas Frias. O mestres budistas viram no Malhão, ponto mais alto da serra também conhecida por Mú, um local considerado ideal para concentrar energias positivas. Aspeto da paisagem.
«Nada disto está cartografado. Estes caminhos eram os passeios de domingo que fazíamos na nossa juventude e na infância. Um dia pensámos: são tantos os trilhos que conhecemos, que seria giro mostrá-los a outras pessoas».
Para já, a empresa faz cerca de 50 tours por ano, mas o objetivo do casal é «ter o carro com 100 por cento de ocupação. Isso vai dar-nos motivação financeira para expandir» a empresa.
Nelson considera que esta é uma atividade sustentável e justifica: «apenas passamos onde existem caminhos. Não atravessamos qualquer atalho que tenha sido criado para o efeito. Isso é um dos pontos que tira mérito a esta atividade. Circulamos a baixa velocidade» e, além disso, «o nosso pico do nosso trabalho surge em contraciclo com a sazonalidade.
O turismo no Algarve não tem de ser apenas sol e praia», sublinha o casal.
A empresa oferece várias rotas pré-definidas, de meio dia (half day) ou dia inteiro (full day), com ou sem almoço incluído.

«Os nossos passeios são interativos. Na altura de tirar a cortiça, por exemplo, encontramos sempre pessoas conhecidas pelo caminho. Outro ponto de passagem é a destilaria de medronho de Eléuterio Guerreiro, nas Águas Frias. Tudo isto é a Serra do Caldeirão. De outra forma, como é que os turistas que têm interesse poderiam conhecê-la?», interroga, antes de seguir rumo à Estrada do Alto do Malhão, o segundo ponto mais alto do Algarve, onde há um monumento da tradição budista que intriga os passageiros.
A única queixa são as feridas dos incêndios. «O ano passado tivemos de cancelar passeios. Tivemos clientes que queriam conhecer Monchique, mas preferimos não lhes mostrar aquele cenário desolador. Quando vamos à Picota, parece mesmo uma região à parte do Algarve. Já vai recuperando, mas ainda não tem nada a ver com o que era», diz o empresário. Na bagagem, o casal leva uma merenda com bolo caseiro, mel e medronho, para marcar ainda mais o roteiro. «E já temos clientes que voltam no ano seguinte para repetir a experiência», conclui Tânia Neves.