O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, esteve esta manhã no Hospital de Faro
O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, visitou esta manhã a unidade de Faro do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), onde reuniu com o conselho de administração e os médicos.
Aos jornalistas, no final do encontro, o dirigente traçou um diagnóstico já bem conhecido.
«Infelizmente, o Algarve, apesar de ser uma região que contribui fortemente para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, continua a ser um parente pobre na área da saúde. Estamos a falar 45 mil residentes sem médicos de família, de um hospital que tem longas listas de espera para consultas e cirurgias, onde a ação dos médicos para aqui continuarem e constituírem equipas é cada vez pior», diagnosticou.
Jorge Roque da Cunha apontou para os serviços de oftalmologia, cardiologia e ginecologia obstetrícia que têm «poucos profissionais e urgências com escalas cada vez mais limitadas. Para terem uma ideia, quando é dito que está uma urgência de ortopedia aberta ao fim de semana, essa urgência é garantida por prestadores de serviço que estão 72 horas seguidas a trabalhar, auferindo cerca de 6.000 euros, valor que é cerca de três vezes mais do que os médicos que aqui trabalham».
Referindo-se ao ministro da saúde Manuel Pizarro, o responsável do SIM disse «que tem sido muito lento a apresentar soluções e muito rápido a encerrar serviços como a maternidade de Portimão.
Acusou ainda a tutela de «não criar condições para que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Um médico especialista aufere 1.800 líquidos por mês em 40 horas. Esse valor não é competitivo nem com o privado, nem com os próprios prestadores de serviços que o Ministério da Saúde acaba por alimentar. Isto é, acaba por incentivar o trabalho precário em vez de apostar nos médicos do quadro».
Por outro lado, o CHUA, tem hoje médicos «já com faixa etária bastante idosa, muitos deles fizeram 300 ou 400 horas extraordinárias no ano passado, o que representam cerca de 60 dias úteis. Isso é impossível e por isso é que dificilmente um algarvio tem aqui consultas a tempo e horas».
Jorge Roque da Cunha lembrou que o governo cobrou, nos primeiros nove meses do ano passado, 12 milhões de euros de impostos a mais em comparação a igual período de 2021, «e portanto é fundamental que parte disso seja para mais investimento no SNS, sobretudo numa região que», ao longo do ano, chega a ter uma população de «800 mil pessoas».
Questionado pelos jornalistas sobre a falta de médicos no CHUA, o secretário-geral responde: «vai agravar-se porque o número de colegas que se reformaram e que rescindiram não são compensados pelos novos especialistas. Os concursos ficam desertos. E isto acontece nos últimos três anos. Não é uma situação nova».
O dirigente sindical acusou ainda a tutela de «assistir a tudo isto impávida e serenamente».
«Não compreendemos a insensibilidade de um governo socialista, que está no poder há sete anos, para com as pessoas mais desfavorecidas. Nunca como agora tiveram de tirar do seu bolso para cuidar da sua saúde. Nunca como hoje houve tantos seguros de saúde», até porque dois anos de pandemia só pioraram o atual cenário no SNS.
Em relação ao serviço de pediatria, «é perfeitamente inqualificável que a urgência pediátrica não seja feita por médicos pediatras. Já há vários meses que isso acontece. É feita por médicos de medicina geral e familiar ou por médicos sem diferenciação».
Jorge Roque da Cunha falou ainda sobre o recém anunciado fecho rotativo das urgências de ginecologia e obstetrícia.
«Eufemisticamente chamada Operação Nascer Seguro [Nascer em Segurança no SNS], é a operação encerrar maternidades. Não é encerrando maternidades [que se resolve o problema]. Inicialmente, disseram que era só nos primeiros 15 dias, agora é já no próximo trimestre e, muito provavelmente, para o ano inteiro».
«Em vez de contratar obstetras e pediatras, o governo encerra maternidades. Isso não é solução. As maternidades que não são encerradas, têm a mesma equipa e o mesmo espaço físico para atender o dobro das pessoas. São, duplamente, sobrecarregadas. Por outro lado, nos locais onde estão encerradas, tem de estar um obstetra porque pode haver uma situação grave e que necessite de intervenção rápida», recomendou.
«Não é possível dizer que se resolve um problema diminuindo recursos, aumentando a dependência de prestadores de serviço e não fazendo investimento», e por isso, «a operação que era provisória, vai-se transformar em provisoriamente definitiva. Em vez de criar soluções para os médicos continuarem no SNS, não rescindirem, de criar condições para que médicos venham do exterior para trabalhar no SNS, [o governo] resolve o problema diminuindo o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde, encerrando e concentrando serviços. E nos serviços que não estão encerrados não há investimento para colmatar o excesso de trabalho», lamentou Jorge Roque da Cunha.
«O ano passado foi o ano que mais mortes não previstas ocorreram. Por alguma razão é. A responsabilidade é do governo que continua sem nos propor e sem nos dar uma luz ao fundo do túnel para mitigar estes problemas», concluiu.