Portugal continental fica de fora do corredor aéreo do Reino Unido. Madeira e Açores são a única exceção. Ouvido pelo barlavento, João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, lamenta a decisão do governo britânico, que «não atende aos factos e é injustificada».
É «uma má notícia» e já se esperava que o Algarve viesse a sofrer com a decisão do governo de Boris Johnson. Portugal continental está fora do corredor aéreo do Reino Unido, mas Açores e a Madeira estão na lista que inclui mais de 50 países para os quais os britânicos poderão voar sem terem de cumprir quarentena no regresso ao seu país. A lista completa foi atualizada hoje com os países e territórios excluídos da quarentena de 14 dias.
«É realmente de lamentar esta posição do governo britânico, na medida que não atende aos factos e é injustificada se considerarmos que 68 por cento das dormidas em hotelaria dos britânicos durante o período de julho a setembro no nosso território acontece no Algarve. E se considerarmos que o Algarve teve, desde o início da pandemia, uma expressão muito residual de casos. Estamos a falar, até à data de ontem, de 1,5 por cento de casos COVID-19 do território nacional no Algarve, principal destino dos britânicos, pelo que não faz qualquer sentido esta decisão», disse esta tarde ao barlavento João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve.
«É uma decisão que até contraria aquilo que é uma informação da própria Comissão Europeia através da organização European Best Destinations, que ainda muito recentemente identificou os 20 destinos mais seguros para viajar de férias nos próximos meses e entre eles está o Algarve, como não poderia deixar de ser», sublinhou.
«É uma decisão que poderia, pelo menos, ouvir os 18 mil britânicos que vivem entre nós, e bem, seguros, e que poderiam testemunhar na primeira pessoa essa realidade da vivência no território. É também uma decisão do governo britânico que contraria a vontade dos próprios turistas britânicos porque nós retomamos as ligações em meados de junho com o Reino Unido, com dois aeroportos, mas hoje estamos ligados a 20 aeroportos diferentes, para todas as regiões do Reino Unido, com cinco companhias aéreas distintas. Portanto, os turistas e os operadores podem também validar aquilo que se vive no território», considerou ainda João Fernandes.
João Fernandes sublinhou que «estamos a falar de uma região e de um país que foi pioneiro, do ponto de vista da certificação de procedimentos de segurança ao nível de atividades turísticas. De uma região que promoveu o primeiro manual de boas práticas que definem protocolos sanitários para diferentes atividades turísticas. Estamos a falar de uma região que é claramente um destino turístico seguro e que o comprovou ainda muito recentemente. Tivemos umas mini-férias no período do feriado do Dia de Portugal, onde tivemos uma procura nacional mais expressiva do que a que estávamos à espera e não tivemos um caso resultante dessa atividade. Isso acontece porque os agentes hoteleiros e os agentes do turismo em Portugal estão preparados para oferecer uma estadia de lazer em segurança».
Questionado sobre o impacte negativo que esta medida vai ter na região, João Fernandes respondeu que «estamos a falar de um mercado emissor que é, ao longo do ano, mais expressivo na região. Estamos a falar de quase seis milhões de dormidas. Obviamente que durante o verão não é a expressão maior da presença dos britânicos. O mercado mais relevante no verão, em termos de números é o mercado nacional, mas de qualquer forma estamos a falar de milhões de dormidas que podem ser reduzidas e não ter a mesma expressão que teriam se agora fosse levantada a condição da quarentena».
«É bom lembrarmos que temos ligações a funcionar e até são bastante diversificadas e ao longo de vários dias da semana», acrescentou.
Quem chega «hoje já tem de fazer quarentena e estão a chegar mesmo com essa condição. Continuarão a vir e aquilo que nós faremos para a revisão desta medida, que é a 30 de julho, é que seja baseada na realidade da segurança que vivemos aqui e que mude. Essa é a nossa expetativa. Agora não há qualquer ilusão de que há um impacto referente a esta decisão do Reino Unido que pode resfriar este ímpeto de crescimento de procura pela região e pelo país no geral».
João Fernandes, no então, não esconde que há alguma injustiça no facto dos critérios se terem baseado só nos casos por 100 mil habitantes e não tenham sido tidas em conta outras variáveis.
«Sim, até porque é nos novos casos por 100 mil habitantes. Estamos a retratar um período curto, não estamos a retratar, por exemplo, o número de casos ativos por 100 mil habitantes porque há casos que vêm de antes desse período. Não estamos a retratar, por exemplo, como um dos itens que a Comissão Europeia definiu como prioritários, que é qual a capacidade que existe de resposta na região ou no país. Por exemplo, nós temos ao nível dos cuidados primários e dos hospitais, e até de planos de contingência da Proteção Civil, uma capacidade instalada de responder a surtos que nunca ficou esgotada, que está muito longe de ser utilizada na sua plenitude e que é uma garantia de que qualquer região do país, independentemente do desafio que se coloca, está preparada para responder. Nós temos uma resposta muito clara a esse nível», explicou.
«Quando aconteceu o surto de Odiáxere fizemos 2500 testes. Em duas semanas a região debelou um problema que poderia ser muito mais grave. Vemos vários surtos a acontecer pela Europa e não vemos essa capacidade de reação e de contenção tão eficaz. Portanto, o Algarve já duas vezes foi testado em circunstâncias diferentes, uma de procura turística durante as mini-férias – que aconteceram com os turistas nacionais – e outra no caso do surto de Odiáxere, que em duas semanas estava resolvido por boa capacidade de ação quer da autarquia quer das autoridades de saúde».
Ou seja, «esse tipo de fatores não foram considerados nessa decisão. Por exemplo, o facto de sermos dos países mais desenvolvidos e termos sido pioneiros em implementar protocolos sanitários na oferta turística. Isso também não foi considerado. Há aqui um conjunto de fatores. O facto de sermos um dos países que tem menor taxa de letalidade também não foi considerado. E mesmo na taxa de letalidade há uma monitorização que alguns países não fazem. Por exemplo, pedimos a infeção mesmo em casos que à partida poderiam não ser de COVID-19, coisa que nem todos os países fazem. Nós medimos muito mais do que outros países e portanto somos capazes de ter um retrato da realidade muito mais eficaz. Isso é um compromisso com a segurança», criticou.
Em suma, o responsável pelo Turismo do Algarve concorda que o destino acabou por ser penalizado por ter havido um aumento recente de novos caso e que nesta decisão, o governo britânico não teve em conta tudo o que ficou para trás.
«É verdade. E não diria o Algarve, diria Portugal porque o Algarve até tem uma expressão, mesmo com um indicador de novos casos, muito diminuta. Se avaliássemos o Algarve per si até teríamos condições muito mais vantajosas do que a maioria de outras regiões. Por isso mesmo é que a European Best Destinations nos colocou como uma das 20 regiões europeias mais seguras para passar férias nos próximos meses».
«Diria que foi o facto de não haver uma decisão baseada em factos. Fomos penalizados claramente por falarmos verdade. Quando comparamos, por exemplo, o número de testes por 100 mil habitantes dos diferentes países, percebemos que há países que foram beneficiados nesta nova condição que testam três ou quatro vezes menos que Portugal. Obviamente que com essa aposta têm um compromisso menor com aquilo que é a segurança das pessoas e com aquilo que é a segurança da oferta turística», concluiu.