Desde 2021 que João Brion Sanches é o novo CEO de Vilamoura World. Considera-se o «guardião de um templo».
Em entrevista ao barlavento, João Brion Sanches revela novidades para o futuro: a expansão da Marina de Vilamoura, projetos sustentáveis para o Centro Equestre e Parque Ambiental e ainda os empreendimentos imobiliários na calha.
Barlavento: porquê investir em Vilamoura?
João Brion Sanches: era já um objetivo de longa data. Se há sector em que Portugal tem uma grande potencialidade, é no turismo. Para fazer algo nesta área, teria de ser em grande e quando se pensa em algo grande no turismo em Portugal, pensa-se em Vilamoura. Este é o destino nacional de referência para férias e não há ninguém que não tenha relação afetiva com esta zona. Ao mesmo tempo, 50 por cento dos compradores de imobiliário são estrangeiros de todas as nacionalidades. Junta-se, aqui, um excelente território português, com esta dinâmica internacional e isso, em termos de potencial de desenvolvimento, é fantástico. Portanto, há um par de anos que já olhava para Vilamoura, até que surgiu uma janela de oportunidade, com o interesse da acionista Lone Star em vender. Tornei-me o guardião deste templo chamado Vilamoura e estamos aqui para geri-lo, melhorá-lo e passá-lo à próxima geração.
Qual a visão imobiliária para os próximos anos?
Temos uma perspectiva a muito longo prazo. Achamos que Vilamoura tem imenso potencial e acreditamos que para o desenvolver é preciso consolidar a qualidade do que é feito. Depois disso, é apostar em produtos de grande qualidade para que este território eleve o seu patamar. Temos uma série de projetos de loteamento, em várias fases de aprovação, e queremos desenvolver imobiliário de raiz: lotes de moradias unifamiliares, moradias em banda, apartamentos, aparthotéis, uma residência sénior e, eventualmente, um hotel. Na prática, o objetivo é, daqui a dois anos, termos uma cadeia de produção de produto imobiliário que permita que tenhamos, ao mesmo tempo, três projetos a decorrerem e a serem vendidos.
Planeiam, então, um hotel e uma residência sénior com a marca VW?
O hotel é só uma possibilidade. Temos um terreno onde é possível, agora a dúvida é se queremos ser nós a construi-lo e a operá-lo. Está tudo em cima da mesa e ainda não temos uma visão clara, mas será algo que será decidido no próximo ano. As residências séniores são muito apelativas, é um sector muito interessante e acreditamos que vai existir um nicho para aquelas pessoas autónomas e que querem viver num ambiente com acesso mais facilitado a uma série de serviços comuns. A ideia é ser quase um aparthotel de luxo. A aposta neste segmento está a começar agora e estamos a analisar hipóteses de desenvolvimento.
Quais os principais desafios nesse sector?
Os desafios de um grande promotor imobiliário são imensos e enormes. O principal é o tempo que demora entre a concessão do produto e o chegar ao mercado. Este processo, em média, são seis anos. Imagine-se um território, um tipo de produto e o mercado ao dia de hoje. Daqui a seis anos, quando se for vender, o mercado já vai ser diferente. Este é o grande desafio, mas gere-se com uma grande capacidade de conceptualizar a evolução do mercado e as necessidades dos clientes. Acho que já estamos a provar que conseguimos fazer isto no Vilamoura Parque, onde estamos a fazer um produto que é exatamente o que o cliente já quer: estacionamento em cave, jardim, piscina, escritório, aquecimento, entre outros. Agora temos de fazer essa cadeia de produção e daí o nosso interesse em ter vários projetos ao mesmo tempo. O outro grande desafio é conjuntural, com os custos de construção. Neste momento temos uma verdadeira loucura nos preços e isso exige uma grande ginástica em termos de gestão Depois, gostaríamos imenso que os hotéis se impulsionassem, que fizessem reabilitações, assim como os golfes também podem ser melhorados.
E como garantem isso?
A Inframoura, gerida pela Câmara Municipal de Loulé e pela VW, é a empresa responsável por todas as infraestruturas de Vilamoura. Uma das coisas que podemos fazer em prol do bem comum, é ajudar essa empresa a continuar a ter este papel importantíssimo. A outra, que também já estamos a fazer, é falar diretamente com os players e encontrar soluções, através de custeamentos conjuntos.
Há intenção de expandir a Marina?
A Marina de Vilamoura é a melhor de Portugal há anos e este ano foi galardoada como a melhor do mundo. A partir daí, é preciso manter e continuar a fazer tudo o que se faz aqui de muito bem feito: os serviços prestados, a gestão do parque de estacionamento e os eventos. Estamos, diariamente, a recusar barcos porque temos a lotação máxima. Há centenas de iates que aqui passam, não têm onde ficar em Portugal e vão para Espanha ou para o Mediterrâneo, porque não temos condições para lhes oferecer. Temos a grande ambição de desenvolver uma expansão e criar 68 lugares de amarração para barcos de 20 a 40 metros daqui a quatro ou cinco anos. É um plano que tem de passar pela negociação com o Estado português e uma série de entidades. Já estamos nessa fase e esperamos que isto seja levado a bom porto e que daqui a um ano possamos ter uma licença. Depois são mais dois anos e meio de construção.
Também são responsáveis pelo Museu Cerro da Vila…
Sim e é um ativo muito importante e relevante, só que uma empresa privada não tem vocação para gerir museus. O que gostaríamos que acontecesse, e estamos a agilizar-nos nesse sentido, é que a Câmara ficasse com essa gestão. Estamos a negociar com a autarquia a reanálise do masterplan e vamos propor essa transição.
Para o Centro Equestre há novos planos?
Temos uma operação que funciona bem, que traz provas internacionais e estamos num patamar reconhecidamente bom. Mas queremos elevá-lo. Estamos já a trabalhar com um operador internacional, do TOP três europeu, para substituir o atual operador do Centro Equestre. Se isso acontecer, que esperamos que seja a curto prazo, vamos ter um dos melhores operadores de centros equestres em Portugal. Isto vai significar um investimento na ordem dos cinco milhões de euros. Não será para alargar o espaço, mas sim elevar para um patamar de qualidade as infraestruturas que lá existem.
E têm 200 hectares de Parque Ambiental…
É um coração importantíssimo de Vilamoura. Tivemos um reunião com a Universidade do Algarve (UAlg) para contratar um estudo sobre o que poderíamos fazer naquele espaço em termos agrícolas. Gostávamos de ter alguma atividade ligada à agricultura com pomares de amendoeiras, alfarrobeiras e laranjeiras. Não sabemos, mas estamos a começar a equacionar com a UAlg qual a aptidão dos solos e que exploração será possível. O objetivo é o de preservar o Parque Ambiental e dar-lhe esta componente agrícola e de utilização aos residentes. Porque não uma horta comunitária e visitas de escolas? Ao mesmo tempo, termos uma convivência com o desenvolvimento urbano. Queremos que uma zona continue natural, outra que seja agrícola e depois um local mais vivido com trilhos de bicicleta, de corrida e até para andar a cavalo.
A sustentabilidade é uma preocupação da marca?
Temos uma grande preocupação com essa matéria e é algo que está na ordem do dia. Todos os projetos imobiliários estão a ser feitos numa perspectiva de certificação ambiental, reutilização de águas pluviais e diminuição de consumos energéticos. Estamos também a fazer um estudo prévio de uma comunidade de consumidores de energia, em que quem quiser aderir, terá acesso a uma empresa especializada e toda a comunidade usufrui da energia. Vamos colocar painéis solares na nossa sede e temos uma grande preocupação com a poupança da água em tudo o que construímos. O grande consumidor desse recurso em Vilamoura são os campos de golfe, mas sabemos que há um acordo com as Águas do Algarve e com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para que, ao abrigo dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), daqui a três anos, a ETAR de Vilamoura tenha água 100 por cento reutilizada para regar golfes.
Como imagina este território daqui a 10 anos?
Como o melhor do Algarve para viver, passar férias e investir, e é isso que pretendemos.
Da banca ao turismo
João Brion Sanches é o novo CEO da Vilamoura World (VW), empresa gestora de diversos ativos como a Marina de Vilamoura e, apesar de um currículo vasto, nunca antes o seu percurso se tinha cruzado com a região algarvia. Licenciou-se em Gestão de Empresas na Universidade Católica de Lisboa e, em 1979, já estava em Miami a exercer no sexto maior banco americano. Ainda passou por Nova Iorque, onde concluiu o mestrado, pela Suíça, altura em que começou na gestão de investimentos a particulares e, em 1985, retornou a Portugal. De uma pequena sociedade de investimento surgiu, posteriormente, a Deutsche Bank, onde durante 10 anos foi vice-presidente do conselho de administração, de 1987 a 2007. «O mercado evoluiu exponencialmente e passámos de um balanço de 600 mil contos para 200 milhões», recorda. Transitou, depois, para o Millennium BCP como diretor-geral responsável pela implementação do Private Banking. No entanto, dois anos mais tarde, sentiu que «estava na altura de fazer algo diferente». Constituiu a Norfin, uma sociedade gestora de fundos de investimentos imobiliários que, em 20 anos, já geria 1300 milhões de euros de património. Mais recentemente, em 2018, o Arrow Global adquire a Norfin e, em 2020, João Brion Sanches encabeça um grupo de investidores portugueses, apoiados pelo fundo de investimento do Arrow, para fazerem uma proposta à Lone Star, acionista da VW. Assumiu funções no dia 1 de julho de 2021.
Natura Village: uma aposta em moradias unifamiliares
Segundo desvendou ao barlavento João Brion Sanches, CEO da Vilamoura World (VW), «há um produto muito apetecível e que tem tido muita procura, os lotes de moradias unifamiliares. As pessoas continuam a gostar muito de ter o seu jardim, a sua piscina e uma casa feita ao seu gosto por um arquiteto. Isso é um produto que, neste momento, não existe em Vilamoura. Vamos licenciar, lotear e desenvolver», explica. Há várias zonas disponíveis, uma delas no já conhecido Uptown (área noroeste), que deixará de ter esse nome. «Porque tem uma conotação muito urbana e achamos que Vilamoura, sendo um território, não é urbano, é o resort dos resorts. Isso implica esta sensação de verde, de ambiente, de mar e de Parque Natural. Tudo isso faz com que, dar o nome de Uptown a uma zona que queremos envolver com a natureza, passe a imagem errada. Por isso Natura Village é a próxima área onde vamos desenvolver projetos», finaliza.
Fotos: Bruno Filipe Pires