Jamila Madeira não poupou críticas ao PSD ontem em Faro, e fez, de novo, menção ao tão ambicionado Hospital Central do Algarve, que só terá hipótese com António Costa.
Foi um encontro com militantes, ontem ao final da tarde, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve em Faro, com a presença do primeiro-ministro e candidato António Costa, a cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Faro Jamila Madeira e Nuno Marques, presidente do Algarve Biomedical Center (ABC).
No uso da palavra, Jamila Madeira começou por agradecer à autarca de Portimão Isilda Gomes pelo «empenho, presença, disponibilidade e energia» enquanto mandatária, assim como ao autarca lagoense Luís Encarnação, diretor de campanha.
«Agradeço a todos os presidentes de Câmara Municipal que têm assumido aquilo que no Partido Socialista fazemos: trabalhamos de braço dado, juntos, governo, Parlamento e autarquias, num projeto em prol da nossa terra, por Portugal e pelo Algarve. Juntos seguimos e conseguimos. Foi isso que fizemos até hoje, é isso que queremos continuar a fazer», afirmou.
Os cumprimentos estenderam-se ao mandatário João Cravinho, presidente da comissão independente da descentralização, «que claro o porquê de ser urgente como peça estruturante do nosso desenvolvimento como região e como país».
No uso da palavra, a deputada, candidata e ex-secretária de Estado Adjunta e da Saúde começou por atacar o principal partido rival, o Partido Social Democrata (PSD).
«Sobre o que diz o PSD sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), permitam-me que refira algumas passagens. O líder procurou de uma forma encoberta atirar areia para os olhos dos portugueses quando alega que o seu programa eleitoral apenas pretende reescrever [a Constituição] retirando o princípio do tendencialmente gratuito para uma forma mais limpinha. Ora, é importante que isto se clarifique. Rui Rio está a faltar à verdade. E sabe que está a faltar à verdade. Rui Rio foi um delfim de Manuela Ferreira Leite. E todos se recordam dela a dizer que os hemodialisados com mais de 70 anos teriam de pagar a hemodiálise. Sabemos o que isso significa. Estes tratamentos são a diferença entre a vida ou a morte. Quem pudesse pagar teria uma sorte. Quem não pudesse, teria outra. Não é esse caminho que queremos», apontou.
Madeira foi até mais atrás e disse que pelo menos desde 1981, «que o PSD tem amargos de boca» sobre «um sistema que considera que a saúde é para todos e que a gratuitidade é para todos, tenham muito pouco ou não tenham nada» e que «e desde há muito que o quer mercantilizar».
Nos dias de hoje, «sabemos de forma mais clara que o PSD quer ter uma saúde para os indigentes e uma saúde para os que querem pagar. É fácil perceber como teria sido devastador para o nosso país se o SNS não tivesse vingado, se não tivesse dado apoio a todos os que dele precisaram, se não estivesse aqui a dar resposta em tempos de pandemia quando o céu caiu sobre as nossas cabeças».
«Os portugueses querem e já o demonstraram por muitas e sucessivas vezes que confiam no SNS público e tendencialmente gratuito. Contam com o PS hoje e no futuro para continuar a assegurar a sua robustez e vitalidade. Se me permitam regionalizar o discurso, o PSD tenta ludibriar os algarvios. Permitam-me dizer, tenta, mas não consegue. Todos nós sabemos que necessitamos de um novo Hospital Central no Algarve e acreditamos que temos condições para o fazer avançar nos próximos meses», prometeu Jamila Madeira.
Mas se a promessa é antiga e até hoje não viu a luz do dia, a alternativa, na perspectiva da cabeça de lista algarvia, também não é melhor.
«Mas quem é que acredita que um partido que defende a privatização da saúde, que acha que o SNS é só para quem não tem dinheiro, vai gastar 300 milhões de euros num hospital público? Quem é que acredita que de facto o PSD pretende construir um hospital no Algarve? Os algarvios não se deixam enganar. Confiamos em António Costa para que este dossier possa ser definitivamente resolvido e a muito breve trecho», reforçou.
Outra problemática que afeta «todos os sectores, sem exceção, por toda a região», admitiu a candidata, tem a ver com falta de «habitação acessível para as famílias com rendimentos intermédios».
«Alguns municípios com executivo PSD, acham que não faz falta. Como podem os algarvios acreditar que o mercado resolve um flagelo que impede profissionais qualificados de se fixar, como forças de segurança, professores, ou jovens que se querem emancipar?», atacou, referindo que o PS já destinou 203 milhões de euros as estratégias locais de habitação dos municípios.
Ainda na chuva de críticas, Jamila Madeira referiu a problemática da escassez de água, lamentando «o exemplo daquilo que o atual cabeça de lista do PSD [Luís Gomes] fez no seu município quando era presidente de Câmara de Vila Real de Santo António, cuja solução foi vender os sistemas e honorar os munícipes com aumentos de 30 por cento na tarifa em dois anos».
Pelo contrário, «com o governo do PS e o empenho pessoal do nosso primeiro ministro, o Algarve foi a única região do país a ter no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) uma gaveta exclusiva de 200 milhões de euros para investir na eficiência hídrica. Água é vida e futuro e não podemos parar o nosso futuro».
Também as respostas às duas últimas crises mereceu uma reflexão. «Sabemos que a nossa região foi brutalmente afetada com a pandemia por via do turismo. Sabemos que falta gerar mais emprego e diversificar a base económica de forma a não estarmos tão dependentes das condicionantes de uma quase monocultura. O PSD, na anterior crise, trouxe a região a níveis de desenvolvimento na ordem dos 20,7 por cento e falências em catadupa, números nunca antes vistos».
O governo do PS, contudo, «perante um confinamento geral, empresas fechadas e o turismo totalmente parado, com o empenho do nosso primeiro-ministro nas negociações do próximo pacote financeiro para o país, trouxe para o Algarve um pacote financeiro de 740 milhões de euros de fundos comunitários, mais do dobro do que o governo do PSD disponibilizou em 2011 para apoiar empresas e economia. Dos quais, 300 milhões são para diversificar a base económica».
Por fim, a candidata tocou no dossier sensível da (falta de) mobilidade. «Do PSD, sabemos que nunca procurou melhorar os transportes de e para a nossa região. Foi com o PSD que chegaram as portagens da Via do Infante (A22), que pararam as obras na EN125 e que quando anunciaram a sua retoma, em vésperas de eleições, em 2015, renegociaram um contrato. Um contrato que vem agora o Tribunal de Contas (TC) dizer que era lesivo para o interesse público. E por isso o concessionário não quer mais esta concessão. E por isso a obra está parada e quer uma indemnização do Estado».
Já o PS adjudicou «a eletrificação da linha férrea entre Faro e VRSA. Está aberto o concurso para a via férrea entre Lagos e Tunes. Temos luz verde para executar um metro de superfície entre o Aeroporto de Faro, a Universidade do Algarve e o novo Hospital Central. Negociámos a rede pública de transportes públicos a concessão e reduzimos o valor dos passes em 50 por cento. Aguardamos, serenamente, a decisão do TC para acabar as obras na EN125».
A cabeça de lista socialista Jamila Madeira considerou que «falta ainda redobrar o olhar para o Algarve como uma região ambientalmente de excelência. Agora temos o desafio das alterações climáticas e isso coloca-nos na barreira, na linha da frente, como a região que será mais fustigada por esse impacto no nosso território continental. Com o PSD, o que sabemos é que o ambiente não é prioritário. É visto como um entrave», apontou.
«Com o governo do PS temos finalmente verbas para intervir na nossa floresta, acrescentando valor, tornando-a mais resiliente ao fogo. Teremos um plano de dragagens plurianual para defender as ilhas-barreira da Ria Formosa e as falésias que, são anualmente atacadas pelo avanço das águas do mar. E avançamos depois de 21 anos sem uma nova Reserva Natural no nosso país. Avançámos com a criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados e pretendemos continuar com a criação da Reserva Marítima da Pedra do Valado e com o aspirante Geoparque Algarvensis», concluiu.