Já nasceu a Hemeroteca Digital do Algarve, o sonho de Luís Guerreiro

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Mais de 200 anos de história, entre jornais, revistas, imagens, boletins e crónicas estão agora disponíveis numa única plataforma online de acesso gratuito. Lançamento oficial da Hemeroteca Digital do Algarve, em Querença, contou com a presença de duas secretárias de Estado.

A candidatura vencedora do Algarve ao Orçamento Participativo de Portugal (OPP) em setembro de 2017, pelo engenheiro Luís Guerreiro, orçada em 200 mil euros, tomou agora forma, após dois anos de trabalho.

A Hemeroteca Digital do Algarve, um projeto que reuniu diversas parcerias públicas e privadas, foi finalmente apresentada na tarde de domingo, dia 8 de dezembro, na Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença.

Adriana Nogueira, Fátima Fonseca, Ângela Ferreira e Saúl Neves de Jesus.

Na prática, a plataforma resulta «de dois anos de identificação de jornais e revistas do Algarve, que estão dispersos por todo o país, em vários repositórios, como a Biblioteca Nacional, Biblioteca do Porto, Biblioteca da Universidade do Algarve [UAlg] e até coleções de pessoas particulares. Este é o resultado dessa reunião num único espaço. Estamos perante todos os jornais literários, noticiosos, regionalistas, ilustrados e até boletins, desde 1810. Há uma panóplia que vai ao encontro daquilo que são os gostos de leitura de públicos muito variados e que podem agora ser descobertos e redescobertos porque muitas destas publicações periódicas estavam adormecidas e a maior parte do público nunca teve acesso. Agora, com apenas um clique, vai poder conhecê-las, gratuitamente», explicou ao «barlavento», Patrícia de Jesus Palma, a coordenadora científica da Hemeroteca.

Na opinião da especialista, a nível científico, este é um projeto que vem facilitar o trabalho dos profissionais.

«O investigador que trabalhe um assunto do Algarve tinha que frequentemente deslocar-se a Lisboa ou ao Porto para consultar fontes que só lá estariam disponíveis. A partir deste momento pode fazê-lo comodamente a partir de sua casa, consultando uma imensidão de imagens e de textos. Além disso, não é apenas o aumento de um universo textual na rede, mas também pelas novas ferramentas digitais e tecnológicas que possibilitam o combinar de conteúdos e imagens, que até agora não era possível de modo nenhum».

Patrícia de Jesus Palma e Salomé Horta.

E como decorreu todo o processo? Quem o sintetizou ao «barlavento» foi Salomé Horta, coordenadora técnica da Biblioteca da UAlg, responsável pelo projeto. «A Hemeroteca foi executada sobre gestão da Direção Regional de Cultura do Algarve que chamou como parceiro a UAlg, com o objetivo de conseguir uma plataforma identitária, supramunicipal, regional, sustentável e que fosse possível mantê-la no futuro. A Biblioteca envolveu-se numa fase de inventário. Procurámos saber que jornais tínhamos e onde estavam. Visitámos os locais, inventariamos e assinámos protocolos. Mais tarde foi feito o grande trabalho informático e de software e hoje temos a apresentação. A grande falta é a de Luís Guerreiro [falecido em 2017], o local em que estamos é também uma homenagem a ele». Isto porque a Fundação Manuel Viegas Guerreiro foi um dos projetos do engenheiro, que acabou por assumir o primeiro cargo de presidência.

Luís Guerreiro, um nome evocado em todos os discursos da tarde

«É uma honra contar com a vossa presença neste ato tão simbólico para esta instituição. Quando a 14 de setembro de 2017 no Pavilhão do Conhecimento nos é entregue a placa de reconhecimento e de aprovação do financiamento da candidatura Hemeroteca Digital do Algarve, sentimos o alcance do privilégio que Luís Guerreiro nos legou. Desde 2014 que a Fundação procurava por diversos fins, fontes de financiamento para esta iniciativa. Através do primeiro OPP, o Luís acreditou que chegara o momento e de pronto apresentou a sua candidatura. Já não recebeu o prémio nem a concretização do seu sonho. A todos os que tornaram isto possível, o nosso reconhecimento e gratidão», expressou Gabriel Guerreiro Gonçalves, atual presidente da Fundação.

Gabriel Guerreiro Gonçalves, atual presidente da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença.

Também o vice-Reitor da Universidade do Algarve, Saúl Neves de Jesus, honrou a memória. «Luís Guerreiro merece uma justa homenagem por conseguir que a sua ideia fosse a mais votada no Algarve. Desde sempre que a sua vocação pela cultura e a história regional se evidenciaram, com um contributo sempre importante».

«Este um projeto muito relevante que permite o acesso a um espólio enorme de publicações periódicas editadas no Algarve. Tornar isto acessível de forma imediata é fantástico e muito significativo».

Fátima Fonseca, secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa marcou presença na cerimónia e passou a mensagem que projetos como a Hemeroteca provam o porquê de se ter criado o seu Ministério.

Fátima Fonseca, secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa.

«Inovar e modernizar o Estado e a Administração Pública é fazer singelamente isto. É utilizar com inteligência e estratégia a tecnologia, pensada por pessoas, para servir de forma colaborativa pessoas. Isto na sua simplicidade é extraordinariamente exigente. Não é por acaso que o governo sentiu necessidade de criar um Ministério para a Modernização do Estado e da Administração Pública, é para nos obrigar a estar em sentido permanente na conjugação destes vários elementos: reunir as competências das pessoas; ter modelos de trabalho colaborativos; usar estrategicamente as tecnologias e utilizá-las sempre em proximidade com as pessoas. É o investimento nestes eixos que significa criar capacidade de adequar a nossa atuação às necessidades das pessoas. É para isso que qualquer Governo, autarquia local ou organização serve. Continuem o bom trabalho».

Ângela Ferreira, secretária de Estado Adjunta do Património Cultural, destacou que «este é não só um projeto meritório, como um vencedor de um OPP. Uma iniciativa pioneira, onde Portugal foi o primeiro país a entregar aos seus cidadãos a possibilidade de aferir políticas públicas. Permitiu que por todo o país se apresentassem propostas desde a área da cultura, à agricultura, à economia, à educação».

Ângela Ferreira, secretária de Estado Adjunta do Património Cultural.

«Os projetos na área da cultura foram os que mais reuniram propostas, mas também foram os que reuniram quase metade da totalidade da votação tanto em 2017, como em 2018. Um deles a Hemeroteca Digital do Algarve. Este é mais um instrumento que vai permitir diminuir a distância de todos os cidadãos, à informação. O acesso universal à informação é um instrumento de preservação da memória. É isso que faz o nosso futuro. Este é o exemplo de um projeto de política pública conseguida através da articulação entre a cultura e a cidadania. A cultura é de todos, para todos e este projeto demonstra isto mesmo. Vamos continuar a apoiar este projeto em tudo o que nos for possível», concluiu.

A Hemeroteca Digital do Algarve conta já com mais de cem publicações, sendo que, no final de janeiro, terá o todo do seu espólio disponível: 400 títulos de publicações periódicas editados no Algarve a partir de 1810, num total de mais de 200 mil imagens.