EDGA dá voz internacional a golfistas com deficiência a partir do Algarve

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A EDGA dá voz a jogadores com deficiência de todo o mundo e assegura as melhores condições na prática do golfe em diferentes países, a partir do Algarve.

Há cada vez mais pessoas com mobilidade reduzida a jogar golfe, em diferentes países, tendo não só aumentado o número dos que o praticam por lazer como a nível de competição, o que tem levado os atletas a procurar clubes que disponham de todos os requisitos.

Tony Bennett, praticante de golfe desde os 12 anos, é o diretor da EDGAEuropean Disabled Golf Association (Associação Europeia de Golfe Adaptado) há nove anos, uma organização focada na criação de um jogo inclusivo em que os jogadores com deficiência são incluídos e valorizados, desde o momento em que experimentam à participação e competição.

Mudou-se para Portugal há 27 anos quando aceitou ser treinador nacional da Federação Portuguesa de Golfe, cargo que desempenhou durante sete anos. Em 2003, abriu seis escolas da modalidade em diferentes zonas do país para dar oportunidade a mais jogadores e principiantes de jogar. Cinco anos mais tarde, tornou-se diretor de Educação da Confederação de Golfe Profissional e, em simultâneo, tem aconselhado várias federações nacionais. Hoje, vive e trabalha na zona de Faro/ Loulé.

Tony Bennett, diretor EDGA

Para além de um percurso académico e profissional notório, com um Doutoramento (PhD) em Filosofia na Universidade de Durham e Mestrado na Universidade de Birmingham (Reino Unido), destaca-se pelo trabalho que tem desenvolvido em prol do G4D – Golf For The Disabled (golfe para pessoas com deficiência) em todo o mundo, ajudando na conexão entre os clubes de golfe, organizações e federações.

Em 2013, foi solicitado pela EDGA com o objetivo de ajudar a expandir a entidade e melhorar a oferta para os jogadores. Nessa altura, era formada por oito federações nacionais, com 400 jogadores, e realizava quatro torneios anuais. Atualmente, está presente em 38 países, com cerca de três mil membros e organiza à volta de cem competições por ano.

Melody Roccaz. Foto: EDGA

Tony Bennett tem-se esforçado por passar a mensagem de que golfe é dos desportos mais acessíveis para todos pelo facto de a bola estar estática e ser individual. «É uma ótima oportunidade para as pessoas com deficiência praticarem exercício físico e apanharem ar fresco, porque a maioria passa demasiado tempo em casa», comentou, ao sublinhar que «os benefícios são muitos», física e psicologicamente.

Tornar o maior número de clubes de golfe acessíveis é uma das suas prioridades, assim como consciencializar e chamar a atenção para a «falta de compreensão» para com os 15 por cento da população do mundo com deficiência. Mais especificamente, concentra-se em diminuir as barreiras, fortalecendo a inclusão nesta modalidade.

Tony Poole. Foto: EDGA

Tony reconhece que há ainda um longo caminho a percorrer para que «a oferta para as pessoas com deficiência seja, pelo menos, igual à que existe para todos os outros», desde o setor da hotelaria e restauração e prática desportiva ao momento de conseguir um emprego. A EDGA conta com mais de 120 histórias de atletas que já chegaram a mais de 40 mil pessoas e continuam a ser partilhadas diariamente. Entre os testemunhos estão Pedro Sottomayor e Jorge Gabriel.

Pedro Sottomayor

O fascínio pelo golfe é de família e foi ao ver o avô materno jogar que Pedro Sottomayor começou também a desenvolver esta paixão. Apesar de ter praticado vários desportos, como judo, vela, esgrima, natação e voleibol, este surgiu mais tarde.

Começou aos 30 anos, quando ainda não lhe tinha sido diagnosticada Esclerose Múltipla, doença que afeta 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo. «Quando se começou a notar disse adeus ao golfe, pensei que nunca mais jogaria», recordou Pedro.

Pedro Sottomayor

Motivado pela vontade de se movimentar e manter uma forma física saudável, informou-se sobre alternativas desportivas e ficou a conhecer o powergolf, com recurso a uma cadeira de rodas elétrica adaptada para o golfe, modalidade que pratica há 10 anos, altura em que esta «ganhou novamente um papel importante» na sua vida e se deparou com a EDGA.

Acredita que o trabalho feito pela associação no regulamento do golfe adaptado «é fundamental» assim como na «logística que implica receber jogadores de todo o mundo». Pedro tem jogado por toda a Europa, onde fez amigos em vários países e considera «tudo muito bem preparado para receber pessoas com mobilidade reduzida». Ainda que possam existir adversidades, aconselha a «organizar e planear tudo antes da partida» para facilitar a resolução do que for necessário.

Pedro Sottomayor

Jorge Gabriel

Começou a jogar em 2020, dois anos depois de lhe ter sido amputada uma perna. Jorge Gabriel tinha já praticado vela, parapente e bicicleta de montanha, mas nunca golfe. Por incentivo da sua mulher, Beatrice, teve aulas e tem praticado com ela desde então, o que lhe tem trazido vários benefícios.

«O estado de concentração que cada volta exige e o usufruto da paisagem», são dois fatores que o ajudam, tanto a nível físico como psicológico, e lhe trazem «paz de espírito». «Quando jogamos esquecemo-nos de tudo o resto, somos só nós e a aquela “bolinha” que não nos obedece», brincou.

Jorge Gabriel. Foto: EDGA

Jorge participa, há cerca de dois anos, em torneios organizados pela EDGA, organização que considera «acessível e atenta aos seus membros,» onde tem conhecido outros jogadores.

Ao elogiar o «trabalho extraordinário» de Tony Bennett, que estimula pessoas com limitações a iniciar ou a aperfeiçoar a prática de golfe adaptado, Jorge notou que o presidente da EDGA faz com que muitos praticantes acreditem que «é possível usufruir mais e melhor de uma partida».

No entanto, mostrou-se triste por ser o único participante português nas provas da EDGA em que competiu, defendendo que é necessário «encorajar mais praticantes com deficiência porque não há objetivamente nenhuma razão para que não o façam».